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Até 23 de novembro, Salvador Sobral e os cinco elementos dos FBAC compõem, ensaiam, convivem e até dormem naquele edifício histórico, agora adaptado a Centro de Experimentação Artística.
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"Estou a dormir ali, num andar de cima. Então é acordar e explorar canções, é giro", disse Salvador Sobral à agência Lusa na quarta-feira, antes de mais um ensaio na casa que está situada entre a Linha do Norte e o rio Arunca, que ajudam à inspiração.
"A ideia é ter alguns sons que nos acompanham, como o deste riacho aqui ou do comboio que passa aqui", antecipou Salvador Sobral, que está "a adorar" a experiência.
O músico acrescentou: "Aqui estamos tipo banda de garagem, a 'partir pedra'. Ontem estávamos já com a cabeça cheia de música. É difícil, mas adoro isto, esta procura".
A residência ainda está em embrião, mas os primeiros ensaios indiciam "uma sonoridade mais moderna" do que aquela a que Sobral diz estar habituado. Salvador Sobral vai "sobretudo cantar", mas até pode arriscar um tema na bateria e algumas coisas ao piano.
Roberto Caetano, vocalista dos FBAC, afirma que a ideia passa por "transpor uma sala de ensaios, de composição, para cima do palco".
"E aí não há amarras nem delegações do género 'tu és só voz, tu és só guitarra'. Há um libertar de experiências e isso é que é importante".
O processo de escrita das canções está a ser "bastante intenso" e até "um bocadinho vertiginoso", confessa Salvador. São poucos dias para criar "canções quase do zero", mas eventualmente "a letra pode ser assim mais abstrata", porque "os FBAC também estão a ensinar a não levar as coisas tanto a sério".
"Estamos a produzir e compor em contrarrelógio", frisa Roberto Caetano. "É uma verdadeira residência artística que vamos levar lá para cima [ao Teatro-Cine de Pombal]. O objetivo é mesmo ir do zero até ao palco".
O desafio ajuda a "exercitar o músculo da criatividade" e o acaso é bem-vindo: "Se for preciso, estamos a tirar cafés em cima do palco e não há problema nenhum, porque faz parte".
A relação de Salvador Sobral com a banda começou através dos Casota Collective, estrutura formada por quatro elementos dos FBAC.
A produtora audiovisual foi responsável pelos videoclipes do disco "Timbre" e, daí, surgiu a encontro musical.
"Eles disseram que tinham uma banda, eu fui ouvir e achei muito interessante", seduzindo-se pela música dos FBAC, habitada por paisagens sonoras e classificável como pós-rock. "Adorei ouvi-los, gosto muito desta música moderna em que há um cuidado com a textura do som, as cores, a exploração...".
Por estes dias, os FBAC levam o cantautor por novos caminhos e soluções originais - e vice-versa. "Ele tem esta personalidade de celebração, muito mais do que qualquer um de nós, e então as coisas acabam por fluir de uma maneira rápida e natural, que é bastante engraçado", notou Roberto Caetano.
Já Salvador surpreendeu-se com a componente cénica da banda: "São muito fortes. Querem criar aqui mais do que um concerto e acho que vai ser uma performance. Eu estou a adorar esta experiência", porque "também tenho um lado muito performático e teatral".
Aos FBAC, esta colaboração, tal como fizeram com Noiserv antes, permite "abrir horizontes". Roberto Caetano encara a parceria com Salvador Sobral como um novo "ingrediente" para a banda que está junta há 12 anos.
"É como cozinhar o mesmo prato sempre, mas usando especiarias diferentes. É um bocado por aí, para tocar, fazer coisas novas e diferentes. Experiências novas é o nosso mote", visando "a estimulação do lado criativo, que se vai perdendo".
A "receita" que Salvador Sobral e os FBAC estão a criar é servida no Teatro-Cine de Pombal nos dias 22 e 23 de novembro, em concertos já com lotação esgotada. O espetáculo dará origem a edição em disco vinil.
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