Ter aos 17 anos a oportunidade de se tornar o campeão português mais novo de sempre em provas da FIA não é para qualquer piloto. Guilherme Oliveira tinha o sonho de se sagrar campeão, mas um acidente a 11 minutos do final das 4 Horas de Portimão, a última ronda do European Le Mans Series, tirou-lhe o tão desejado (e merecido) título.
A imagem de Guilherme Oliveira quando sai do carro, deitado na gravilha do Autódromo Internacional do Algarve, demonstra bem a desilusão de um jovem que ambicionava, mais do que qualquer um, conquistar o ceptro em Portimão. Não conseguiu o título, mas a forma como chegou até este vice-campeonato diz muito daquilo que Guilherme Oliveira pode oferecer ao desporto português num futuro bastante próximo.
Ainda imbuído em muita tristeza, Guilherme Oliveira falou connosco. "Tenho a certeza que no futuro melhores dias virão", garantiu o jovem. Este mindset não é para qualquer um, é digno de um campeão.
Guilherme Oliveira tem a certeza de que voltará mais forte e nós ainda mais. Uma falha na direção do seu carro a 11 minutos do término de uma temporada não apaga todo o esforço, dedicação e trabalho ao longo de uma época. O desalento foi grande, mas a este nível tudo pode acontecer. E apesar de o título ter fugido, importa não esquecer que o jovem piloto português logrou um vice-campeonato.
Os ingredientes que permitiram a Guilherme Oliveira estar perto de um feito histórico
O mais óbvio é falarmos no talento do jovem nascido e criado em Vila Nova de Gaia. Desde praticamente os seus sete anos de idade que Guilherme já está ligado ao mundo do automobilismo. Como grande parte da nata do desporto motorizado, o jovem português estreou-se no karting e foi conquistado título atrás de título. Contas feitas, antes de se estrear nos monolugares, levou para casa 15 troféus em diferentes campeonatos nacionais e ibéricos de IAME e Rotax. Estes são dois dos principais construtores da modalidade.
O karting começou a ser curto para a qualidade de Guilherme e foi com naturalidade que o passo seguinte foi a aventura no monolugares. Em 2021, o jovem português juntou-se à DriveX, equipa com o carimbo de Fernando Alonso, na Fórmula 4 espanhola. O projeto era ambicioso, mas nem tudo foram rosas no seu caminho em Espanha. Existiam muitos espinhos no seu trajeto na competição organizada por ‘nuestros hermanos’. O maior deles talvez fosse a falta de competitividade do seu carro. Estava longe de ser um monolugar vencedor.
Não era o pior, contudo, a falta de competitividade impedia, na teoria, Guilherme Oliveira de chegar a patamares mais altos. Repito, na teoria. Isto porque na prática, o jovem de Vila Nova de Gaia não baixou os braços no que ao trabalho diz respeito. Como fruto de muita perseverança, Guilherme conseguiu a proeza de conquistar um pódio em Aragón. Porém, voos diferentes estavam reservados para o piloto.
Os protótipos surgiram no horizonte de Guilherme e a sua escolha foi óbvia. O bom desempenho do jovem de 17 anos aos comandos de um LMP3 garantiu-lhe um lugar a tempo inteiro nesta temporada do European Le Mans Series, na formação polaca Inter Europol. A qualidade falou uma vez mais alto e neste ano de estreia no Europeu de resistência foi, sem dúvida, um dos pilotos em evidência.
Um suporte experiente que faz a diferença
Acompanhado por Gonçalo Gomes e Duarte Félix da Costa, Guilherme Oliveira tem tido o suporte necessário nos momentos mais importantes da carreira. Os dois elementos da Synergy Driver Performance já trabalham com o jovem piloto desde que este saiu do karting e têm colocado a sua experiência e ‘know how’ à disposição de Guilherme.
Esta temporada, Gonçalo Gomes e Duarte Félix da Costa estiveram completamente inseridos na estrutura da equipa Inter Europol e ajudaram em tudo o que é técnico e mental. Desde o travar mais cedo, abordar determinada curva de forma diferente, ajudar na interpretação de dados ou telemetria. Tudo isto com a ajuda dos engenheiros, claro está. Mas já lá vamos à estrutura da Inter Europol.
Além de tudo aquilo que Guilherme Oliveira pode fazer ao volante do carro #13, Gonçalo e Duarte são também fundamentais na parte mental do atleta. Nem sempre as coisas saem como o desejado e muitas vezes a frustração anda de mão dada com resultados menos positivos, como aconteceu este fim de semana em Portimão. Faz parte de qualquer desporto, o automobilismo não é exceção, embora seja aqui que entram os dois treinadores de Guilherme.
A forma como se lida com outros resultados que não a vitória, ou até mesmo com a vitória, é preciso ser vista como parte fulcral na formação de um atleta. Guilherme Oliveira disse-nos que se considera um piloto pouco nervoso, mas neste capítulo mental ter duas pessoas do meio automobilístico a ajudarem é também uma fatia importante para o sucesso.
Uma equipa com o LMP3 mais competitivo da grelha
Os polacos da Inter Europol construíram um bom LMP3 para que Guilherme Oliveira pudesse ter argumentos para lutar por este título. No total, são 45 os elementos que compõem esta formação que olha para o detalhe como um segredo para o sucesso.
Desde mecânicos, a engenheiros de data ou telemetria, passando também pelo elemento que trata ao pormenor todas as peças de carbono dos carros, todos contaram para que o título estivesse em jogo no final da temporada.
O tour pelo ‘quartel-general’ da Inter Europol permitiu-me ver a atenção que existe com os pormenores. Os pneus, por exemplo, estão antes de cada ida para a pista dentro de uma espécie de roupeiro fechado com um aquecedor que os coloca à temperatura ideal de 90ºC. É necessária uma vistoria regular a estes, e se alguns aquecerem ou arrefecerem demais, é preciso trocá-los de lugar. Importa ainda referir que existe sempre um apontamento fora do compartimento dos pneus, que indica a hora a que estes têm de ser colocados no carro.
O tempo e os três triunfos consecutivos ao longo da época mostraram que, apesar de um início de época atribulado, os ingredientes certos juntaram-se. Importa dizer que a corrida em Portimão teve algumas decisões menos positivas e que também não ajudaram Guilherme Oliveira a chegar ao título. Ainda assim, como referimos acima, Os últimos 10 minutos de uma temporada com 24 horas em pista não podem definir todo o trabalho desenvolvido durante um ano. Fica para a história um vice-campeonato e a perspetiva de um futuro brilhante para o piloto português.