Sindicato ameaça "amplificação" da greve na indústria automóvel dos EUA

O líder dos sindicatos dos trabalhadores da indústria automóvel dos Estados Unidos ameaçou hoje com a "amplificação" da greve que começou quinta-feira, se não houver melhores propostas salariais por parte das empresas.

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Lusa
17/09/2023 18:33 ‧ 17/09/2023 por Lusa

Auto

EUA

O presidente do sindicato United Auto Workers (UAW), Shawn Fain, disse que estes trabalhadores ficaram para trás durante décadas e que "estão fartos". A greve acontece após dois meses de negociações infrutíferas sobre a renovação da sua convenção coletiva de trabalho.

Esta quinta-feira, cerca de 13 mil trabalhadores entraram em greve, sendo esses da fábrica de montagem da GM em Wentzville (estado do Missouri) da fábrica da Stellantis em Toledo(Ohio), e da fábrica da Ford em Wayne (Michigan).

O Presidente norte-americano, Joe Biden, defendeu na sexta-feira que "lucros recorde" das empresas devem gerar "salários recorde" dos trabalhadores.

Pela parte sindical, Shawn Fain tem rejeitado a argumentação de que um grande aumento salarial aumentaria os custos dos veículos e poria a indústria norte-americana em desvantagem.

"Nos últimos quatro anos, o preço dos veículos subiu 30%, os nossos salários subiram 6%, os dos presidentes executivos subiram 40%. Houve milhares de milhões de dólares em dividendos aos acionistas. Portanto, os nossos salários não são o problema", disse Fain numa entrevista recente à Associated Press (AP).

A líder da General Motors, Mary Barra, disse em conferência de imprensa não saber de onde vem o número de 40%.

A remuneração dos gestores é complicada de calcular porque grande parte é paga através de ações ou opções de ações que podem ser diferidas e cujo valor depende do desempenho dos títulos e de outras métricas.

Barra, a única que já ocupava o cargo desde 2019, é a mais bem paga, com um pacote de remuneração total no valor de 28,98 milhões de dólares (cerca de 27,19 milhões de euros ao câmbio atual) em 2022. O seu salário aumentou 34% desde 2019, segundo dados públicos analisados pela Equilar para a AP.

O presidente executivo da Ford, James Farley, recebeu quase 21 milhões de dólares (19,7 milhões de euros), mais 25% do que o líder em 2019, William Clay Ford.

Onde a comparação se complica é na Stellantis (resultado da fusão da Fiat Chrysler com o grupo francês PSA). Por ser uma empresa europeia, a forma como divulga a informação difere da GM e da Ford.

No seu relatório anual, a Stellantis indica que em 2022 a remuneração do presidente executivo, o português Carlos Tavares, foi de 23,46 milhões de euros. Isto representa um aumento de quase 77% em relação ao salário do então presidente executivo da Fiat Chrysler, Mike Manley, em 2019 (13,28 milhões de euros).

Estes são os números utilizados pelo UAW para calcular o aumento salarial dos gestores de topo e chegar a 40,1% desde 2019.

Contudo, considera a AP que há um problema, pois empresas norte-americanas e europeias contabilizam de forma diferente a atribuição de ações.

Na análise para a AP, a Equilar utilizou o método da 'data de concessão' das ações para uma comparação equivalente e aí a remuneração de Tavares em 2022 foi de 21,95 milhões de euros (incluindo 10,9 milhões em prémios de ações com um período de carência de três anos), menos 24% em relação a Manley em 2019 (29,04 milhões de euros, segundo a Equilar).

Ainda assim, a AP considera que não se pode dizer que Tavares ganha menos, pois há prémios pontuais que precisam de ser somados, caso do pacote remunerativo milionário que recebeu relativo a 2021 e que foi mesmo tema na política francesa.

Segundo a AP, os presidentes da GM e da Ford também viram as suas remunerações atingirem o pico em 2021, antes de diminuírem ligeiramente em 2022, e seja qual for a dimensão dos números é significativo o fosso para os trabalhadores.

Na GM, o salário médio anual do trabalhador era de 80.034 dólares (cerca de 75 mil euros) em 2022. Esse trabalhador levaria 362 anos para receber a remuneração anual de Barra. Na Ford, onde a média era de 74.691 dólares (70 mil euros), levaria 281 anos. Na Stellantis, com um salário médio de 64.328 euros, seriam necessários 365 anos.

Segundo a AP, usando dados da Equilar, esta disparidade salarial na indústria automóvel fica acima da disparidade salarial das empresas do índice S&P 500, que era de 186 anos para um ano.

Em termos históricos, de acordo com um estudo do Economic Policy Institute (de tendência de esquerda) sobre as 350 maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos, a disparidade era de apenas 15 anos para um ano em 1965.

Já as construtoras automóveis, por seu lado, dizem que os concorrentes estrangeiros pagam muito menos aos seus trabalhadores. Segundo o professor da Universidade de Cornwell Harry Katz os trabalhadores das três empresas de Detroit recebem 60 dólares por hora e nas empresas estrangeiras com fábricas nos Estados Unidos o valor é de 45 dólares.

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