"A forma como nós habitamos as cidades está diretamente relacionada com o emprego e o nosso estilo de vida. As novas tendências fazem-nos falar em emprego. Já não existe o emprego para a vida toda. Verificamos uma mobilidade constante e a preferência por arrendamento por esse mesmo motivo.
A transformação das novas gerações verifica-se a uma velocidade crescente. Os jovens já não estão dispostos a agarrar empréstimos de longa duração. Verifica-se uma transferência dos imóveis para casas mais pequenas, isto é, habitações temporárias.
Em termos de construção, os prédios velhos foram transformados em imóveis mais pequenos, de curta duração. Os prédios recuperados estão transformados em prédios de habitação para uso rápido. Todas estas mudanças nos levam a concluir que assistimos a uma indústria de 'fast food' imobiliária.
Até a preferência por casas mobiladas sofre alterações. As casas já estão construídas numa única visão, na medida em que, a preferência por apartamentos já mobilados é notória. Os jovens não têm tempo nem paciência para mobilar. A realidade é que a evolução natural das grandes cidades e a tendência passa por não comprar casa e pela escolha de prédios autossustentáveis.
Os jovens não vão conseguir comprar imóveis nas grandes cidades, devido à instabilidade do trabalho e do preço. Este fator não vai mudar tão cedo."
O próprio curso atual vai obrigar a adaptações. A própria construção vai ser direcionada para as necessidades de mobilidade dos jovens, e as próprias transações entre investidores vão sofrer alterações em termos monetários.
As cidades vão deixar de ser dos portugueses e vão ser adaptadas. As pessoas estão a mudar e as cidades vão mudar com elas. Veja-se o exemplo de Lisboa que mudou e foi reajustada, em consequência da presença dos turistas. Em tempos pandémicos, verificamos uma mudança da mentalidade. Os jovens vão acelerar a saída da cidade e vão escolher a periferia.
Quanto aos construtores e investidores? Como é óbvio, vão ser forçados a ir atrás desta tendência e acompanhar o ritmo e a velocidade das mudanças de construção e localização dos imóveis.
A faixa etária mais jovem vai obrigar a uma exploração de um nicho de mercado específico e esses locais vão passar a ter mais oferta.
A própria lei tem vindo a alterar. No passado, o arrendamento era de 5 anos. Atualmente, a lei permite fazer arrendamentos de curto prazo. Como observamos, a lei já se adaptou. O que há 15 anos não era possível, verifica-se na conjuntura atual. E as mudanças vão continuar a acontecer.
Sem dúvida que a cidade vai ser para jovens, e para o arrendamento. A solução vai passar pela partilha dos imóveis, com pessoas que não conseguem, sozinhas, suportar as despesas de uma casa. As rendas inacessíveis vão constituir uma dor de cabeça gigante e deixar de estudar vai-se tornar uma possibilidade cada vez mais crescente para quem quer adquirir a sua independência.
A verdade é que todas estas questões acabam por condicionar as escolhas e o apoio estatal torna-se cada vez mais importante na hora de arrendar casa. Adiar a vida de sonho e a saída tardia de casa dos pais vão ser dois aspetos que vão determinar o arrendamento jovem."
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