Muitos setores da economia foram forçados a uma reestruturação devido ao surgimento da pandemia conhecida como COVID-19. E, sem dúvida, o imobiliário é uma delas.
No entanto, o arranque dos mercados neste primeiro semestre, aliado à recuperação económica, têm gerado um efeito contrário neste setor, note-se.
Para a Fundspeople Portugal, isto é percetível no sentido de que após um ano todas as categorias vinculadas ao setor imobiliário já apresentam rentabilidade positiva: América do Norte fixou-se em 16,38% de rentabilidade em 2021, seguida pela Europa (5,33%), Ásia (4,03%) e Reino Unido (direto) a registar 4,37% de rentabilidade este ano.
A questão é se o investimento imobiliário continua a ser uma boa proteção conta a inflação e se esta recuperação se manterá ao longo do tempo num contexto de maior incerteza em decorrência de uma retoma da inflação, resultando numa mudança na política monetária. A boa notícia é que esse aumento da inflação pode até funcionar como um catalisador para estes ativos. A pensar nisso, a Fundspeople recorreu a investidores internacionais do setor imobiliário para explicar o porquê.
“O setor como um todo provavelmente beneficiará se as expectativas de inflação aumentarem devido às características de proteção contra inflação dos ativos subjacentes. Por exemplo, os setores residencial e de armazenamento próprio são uma proteção eficaz contra a inflação devido aos arrendamentos indexados à inflação e aos arrendamentos de curto prazo, respetivamente”, afirmam da BlackRock.
E os gestores da AXA IM concordam. A história mostra que o setor imobiliário tem maior correlação com o crescimento económico do que as taxas de juros, sustentam. Além disso, a maioria dos arrendamentos de propriedades prevê aumentos com base na inflação.
“Quando as expectativas de inflação aumentaram, as ações de imobiliário também (subiram). Essa relação tem-se mantido no longo prazo, reforçada pelo potencial das ações de imóveis se beneficiarem das expectativas de alta da inflação”, afirmam os investidores da Janus Henderson.
Mas, onde estão as oportunidades?
No final das contas, devemos levar em consideração também a mudança de modelo que o surgimento da Covid-19 representou para muitos desses subsetores.
“A pandemia de saúde global acelerou a transformação digital que o setor imobiliário passou nos últimos 10-15 anos, mas num ritmo muito mais rápido”, afirmam da AXA IM. E essa transformação prejudicou alguns, beneficiou outros e deixou outros em suspenso.
Já os investidores da Janus Henderson, referem que "a aceleração das tendências imobiliárias com a Covid-19 prejudicou alguns setores, como os centros comerciais, centros regionais e hotéis."
"Tem sido um grande ponto de interrogação no setor de escritórios. Com mais funcionários a trabalhar em casa, as empresas começaram a reavaliar a quantidade de espaço de escritório de que precisam hoje e no futuro”, afirmam na Axa. E preveem que são os escritórios prime que se reforçam em detrimento dos escritórios localizados noutros bairros mais comerciais, refere a Fundspeople.
Quanto ao grupo dos grandes beneficiários, os três gestores coincidem em apontar para dois setores claros: edifícios de armazenamento de dados e também o setor residencial, devido ao seu caráter defensivo.
"Vemos pockets de bom valor em mercados residenciais impulsionados por tendências de urbanização, bem como em setores alternativos, como data centers devido aos avanços tecnológicos, saúde apoiada por mudanças demográficas, logística urbana como resultado do crescimento do e-commerce e energia renovável à medida que as questões ambientais ocupam o centro do palco”, resumiu a BlackRock.
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