"O crédito para habitação acelerou em 2020, apesar do menor crescimento do rendimento disponível das famílias e da incerteza quanto às perspetivas macroeconómicas. Com o objetivo de compreender melhor os fatores subjacentes a este dinamismo, analisam-se os fluxos de crédito para habitação com base nos dados microeconómicos da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC) do Banco de Portugal.
Os novos empréstimos e os reembolsos reduziram-se no início da pandemia, mas recuperaram no segundo semestre, de forma mais expressiva no caso dos primeiros. Em dezembro de 2020, o montante total de novos empréstimos foi mais elevado do que no período anterior à pandemia, acompanhando a evolução do valor das transações de alojamentos familiares, enquanto os reembolsos se situaram num nível idêntico.
As moratórias reduziram os reembolsos após o início da pandemia. As moratórias foram introduzidas no final de março, tendo a percentagem do montante total de empréstimos para habitação abrangidos aumentado de 13% em abril para cerca de 18% a partir de julho. Os devedores abrangidos podiam optar pela interrupção dos pagamentos de capital e/ou dos juros.
Mesmo corrigindo o efeito das moratórias, o montante total de empréstimos à habitação aumentou ao longo de 2020 e acelerou no segundo semestre.
A carência de capital envolve a quase totalidade dos saldos em moratória. Na ausência de outras alterações, se estes empréstimos tivessem continuado a ser amortizados de acordo com o previsto no contrato, os reembolsos totais teriam sido 6% mais elevados no período entre março e dezembro e, em dezembro, estariam acima dos efetuados antes da pandemia.
Mesmo corrigindo o efeito das moratórias, o montante total de empréstimos à habitação aumentou ao longo de 2020 e acelerou no segundo semestre. Os fluxos líquidos de empréstimos para habitação (i.e. a diferença entre o montante total de empréstimos novos e de reembolsos) corrigidos do efeito das moratórias permaneceram sempre positivos e registaram uma tendência
de aumento no segundo semestre, situando-se em dezembro acima dos existentes antes da pandemia.
A redução dos reembolsos nos primeiros meses da pandemia foi também determinada pelos reembolsos antecipados, que recuperaram no segundo semestre. Esta evolução foi comum aos reembolsos parciais, aos reembolsos totais efetuados na vizinhança da contratação de um novo crédito e aos restantes reembolsos totais antecipados. Estes últimos foram os que mais contribuíram para a evolução dos reembolsos devido às variações significativas e ao seu peso elevado (cerca de 40% dos reembolsos totais).
Após a redução no primeiro semestre, o dinamismo dos novos empréstimos esteve associado a novos devedores e a devedores que já tinham empréstimos. Cerca de 65% dos novos empréstimos foram concedidos a devedores que não tinham anteriormente outro empréstimo para habitação. O montante destes empréstimos reduziu-se no início da pandemia, mas recuperou a partir de julho, atingindo no quarto trimestre valores superiores aos pré-pandemia.
Os novos empréstimos a devedores que já tinham empréstimos registaram uma evolução idêntica. As variações nos novos empréstimos e nos reembolsos antecipados estão relacionadas com a evolução da pandemia. As restrições à mobilidade e ao normal funcionamento da atividade assim como os receios de contágio e a elevada incerteza foram acompanhados por uma forte redução nos fluxos de crédito para habitação no segundo trimestre de 2020.
Neste período, os depósitos das famílias aceleraram significativamente e a sua taxa de poupança atingiu um valor máximo. Neste contexto, algumas famílias terão adiado decisões de compra de casa ou de reembolsos antecipados de empréstimos, privilegiando a detenção de ativos mais líquidos. A partir do terceiro trimestre, com uma melhoria na situação sanitária e a recuperação da atividade, assistiu-se a um aumento dos fluxos associados ao crédito à habitação."
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