Na aldeia de Pegarinhos os jovens da "Missão País" separaram-se em dois grupos. Uns ajudam a recuperar a casa de uma família e outros batem às portas dos idosos para levar um pouco de companhia a quem vive sozinho.
Na habitação do bairro da Casa do Povo, inaugurado em 1972 por Baltazar Rebelo de Sousa, pai do atual Presidente da República, os estudantes vestiram os fatos de trabalho para retirar móveis, pintar paredes e reparar uma porta que não veda bem e deixa entrar o frio.
Nesta altura estariam a começar o segundo semestre no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, mas optaram por abraçar a missão em Alijó, no distrito de Vila Real.
"O que nos orienta todos os dias é ajudar as pessoas, de qualquer forma que seja, mesmo que estejamos aqui só a pintar uma casa", afirmou à agência Lusa Francisco Silva, 22 anos e a frequentar o 5.º ano do curso de medicina.
São dias de aprendizagem e de crescimento para estes futuros médicos.
Depois de ajudar com a recuperação da casa, Francisco foi para a iniciativa porta a porta. "Fazer companhia às pessoas que estão mais isoladas e trazer um bocadinho de alegria aos seus dias", acrescentou o estudante.
A "Missão País" é um projeto universitário e católico e, por isso, os jovens carregam uma imagem da "Mãe peregrina" que abre portas e corações dos mais velhos.
Com 19 anos, Guilherme Lopes está no segundo ano de medicina. "Estamos aqui para tratar desta casa, é uma atividade em que tenho particular interesse, por isso acho que vai ser um dia engraçado e em que vamos estar todos aqui a trabalhar em equipa", salientou o jovem.
A recuperação da habitação foi feita em colaboração com a associação "Just a Change".
A família beneficiada disse que a ajuda "foi muito bem-vinda". O marido está gravemente doente, o filho tem 10 anos e a mulher desdobra-se em trabalho.
"Acho que vou conseguir sentir um pouco mais de alegria com as paredes pintadas, a porta arranjadinha. É um passo de cada vez", salientou a mulher, que preferiu não se identificar.
Na rua, um menino de 9 anos conversa com a vizinha Maria Dulcídia, de 84 anos, e o assunto guerra na Ucrânia acaba por surgir. Ele conta que vê as notícias na televisão e não tem dúvidas em apontar o dedo à invasora Rússia. "Ele (o presidente russo, Putin) não quer vizinhos que pertençam à NATO e agora vão ficar sem tudo", referiu.
Dulcídia gosta de ver a rua mais animada pelos "meninos que andam a aprender para médicos" e que "são muito simpáticos", em contraste com os restantes dias e noites de solidão.
"Acho que está a correr muito bem, porque todas as pessoas com quem falamos acabam por ficar com um sorriso. Todos viemos com um objetivo comum que é trazer um pouco de alegria a estas pessoas que vivem sozinhas e não têm com quem falar", afirmou Mariana Rodrigues, 22 anos e a frequentar o 5.º ano.
O padre Luís Miguel está a acompanhar o trabalho dos jovens e é o assistente espiritual desta missão. No terreno ajuda a fazer o trabalho de aproximação às pessoas.
"Trazer uma mensagem de esperança, um sorriso, uma brincadeira que faça com que as pessoas saiam do seu ritmo e da sua solidão diária, para sentirem um pouco de proximidade desta juventude", salientou o sacerdote.
A presidente da Junta de Pegarinhos, Cármen Pinto, disse que nesta aldeia, de 230 residentes, muitos são idosos e vivem sozinhos, já que os familiares emigraram. "Isto é uma forma de eles também se sentirem mais libertos a conversar com os jovens", referiu, apontando a "ajuda importante" trazida pelos estudantes.
Espalhados pelo concelho de Alijó, os jovens estão também a fazer voluntariado em lares, passam pelas escolas para dar a conhecer o seu projeto e vão atuar numa peça de teatro aberta à comunidade.
A iniciativa decorre pela primeira vez neste município e conta com o apoio da câmara, que já disse que a pretende alargar a todas a todas as freguesias do concelho no próximo ano.
Para 2022 estão previstas 63 missões em 58 faculdades diferentes desde Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Aveiro, Braga, Leiria, Santarém, Algarve, Madeira, Covilhã e Setúbal.
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