"Com a perda das suas habitações, as famílias afetadas pela erupção deixaram de ter rendimentos e de produzir, o que afetou de forma significativa a economia local, de Chã das Caldeiras", justifica a portaria do Ministério das Finanças, publicada em 03 de maio, "atendendo ao interesse público que constitui a reativação da vida económica" local e de "dar vida às famílias" daquela aldeia, junto ao vulcão do Fogo.
A portaria autoriza a "concessão gratuita de uso privado a 50 famílias de tratos de terrenos" em Bangaeira, Chã das Caldeiras, para "construírem as suas habitações", recebendo os beneficiários, ainda, um projeto de construção e o respetivo licenciamento, além de uma comparticipação estatal de 500 mil escudos (4.500 euros), a atribuir de forma faseada pelo ministério das Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação.
Essa compartição financeira destina-se à conclusão em "tosco" da habitação, com um prazo global de nove meses para esse efeito, lê-se ainda na portaria, assinada pelo vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia.
Quase oito anos depois da erupção que apagou Chã das Caldeiras do mapa, a população, a quase 2.000 metros de altitude na ilha cabo-verdiana do Fogo, continua a regressar à terra, tentado reconstruir o que ficou apenas na memória.
Pelas 09:45 do dia 23 de novembro de 2014, o vulcão do Fogo entrou em erupção e a lava só parou de correr 77 dias depois. Nesse dia de novembro, Chã das Caldeiras, uma aldeia do município de Santa Catarina, junto ao vulcão do Fogo, então com 210 famílias, cerca de 1.300 pessoas e uma dezena de pensões para turistas, tinha desaparecido.
Tal como em todas as anteriores, não se registam vítimas mortais, mas a violência da erupção levou à emissão de 11 mil toneladas de gases por dia, formando uma enorme coluna eruptiva que ainda hoje existe na envolvente da aldeia, chegando a quase 2.100 de altitude, enquanto o pico da ilha e de Cabo Verde fica mais acima, a 2.829 metros, permanecendo ativo, com uma caldeira de oito quilómetros de diâmetro.
"Conseguiu engolir todos os pertences, as construções, as habitações, os hotéis, as pensões. Foi tudo engolido pelas lavas. Era preciso reconstruir Chã das Caldeiras", explicou, anteriormente, em entrevista à Lusa, o presidente da Câmara de Santa Catarina do Fogo, Alberto Nunes.
As lavas que então correram em várias frentes durante mais de dois meses provocaram a destruição total dos principais povoados de Chã das Caldeiras e de uma área agrícola significativa, deixando centenas sem as casas já de si humildes, mas sobretudo sem meios de subsistência, por falta de terrenos férteis.
Aos poucos, a população vai regressando a uma Chã das Caldeiras que se vai reerguendo das cinzas, com casas em construção, em rocha, recorrendo à crosta da lava solidificada.
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