"Estamos a falar de um edifício com impacto arquitetónico a que alguns técnicos reconheceram imenso valor, sendo um teatro tradicional de ferradura e uma espécie de réplica do São João, construído no início do século XX", disse à Lusa Joaquim Batista, no dia em que foi publicado em Diário da República a sua classificação como imóvel de interesse municipal.
Além do valor arquitetónico, o autarca releva a importância social do edifício, construído através da doação inicial de um conjunto de benfeitores e de uma subscrição pública.
"Foi um investimento social da comunidade e nós entendemos que, quando se trata de edifícios cuja mobilização social foi relevante em torno deles, devemos preservar", explica o presidente da Câmara da Murtosa, no distrito de Aveiro.
O edifício foi, durante décadas, "o grande espaço cultural e social da Murtosa", mas ao longo da sua história conheceu usos muito diferentes: além de casa de espetáculos, foi quartel de bombeiros, sede dos escoteiros, colégio e Junta de Freguesia.
A sua classificação visa também poder reabilitar o edifício respeitando a sua identidade e impedindo a sua descaracterização.
A Câmara vai celebrar com a Junta de Freguesia da Murtosa, a quem o imóvel atualmente pertence, um contrato de comodato para a gestão e valorização do imóvel.
"As juntas de freguesia, pelo menos no município da Murtosa, não têm vocação, nem capacidade técnica e financeira para levarem a cabo obras de reabilitação desta dimensão", justifica Joaquim Batista.
Quanto ao destino na velha casa de espetáculos, depois de renovada, numa obra que irá corresponder a um investimento superior a 1,5 milhões de euros, é vir a funcionar como escola de teatro.
"O nosso objetivo é dedicar o edifício ao ensino e ao estímulo para a prática do teatro junto das nossas comunidades escolares, numa oferta cultural integrada com a formação académica", adianta o autarca.
Esperando assim criar condições para que os grupos de teatro amadores locais "possam finalmente voltar a um espaço que já foi o deles", Joaquim Batista disse à Lusa que tal não significa que o município abdique de vir a construir um espaço de raiz para grandes espetáculos.
"O cineteatro, fruto das suas características, tem muitas limitações, nomeadamente a dimensão da boca de palco, que condiciona uma diversidade de manifestações artísticas", diz.
Esperando que o processo da sua reabilitação possa ter início "no último trimestre deste ano", o presidente da Câmara da Murtosa salienta que a autarquia adquiriu terrenos nas imediações para melhorar os acessos e está a concluir a obra de reabilitação da área envolvente, criando condições de parqueamento automóvel no local.
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