Em "Spell Reel", Filipa César usa imagens de arquivo da guerra da independência da Guiné-Bissau, para explorar como estes registos influenciam a criação e legado da história de um país.
A realizadora e artista visual recorre a cinema revolucionário, do acervo do Instituto Nacional de Cinema e Audiovisual da Guiné-Bissau (INCA), que guarda trabalho de cineastas como Sana Na N'Hada, Flora Gomes, José Bolama Cobumba e Josefina Crato, que filmaram a guerra da independência e os primeiros anos de governação.
Depois do golpe militar de 1980, muitos destes filmes foram perdidos e os que sobreviveram correram o risco de desaparecer.
Em "Spell Reel", Filipa César levanta a questão da memória - dado que muito do material sobrevivente é composto por fragmentos -, mistura as imagens de arquivo com filmagens atuais, manipulando a sua escala e orientação, e integra o vídeo da digressão pelo país, em 2014, em que muitos dos filmes originais foram mostrados ao povo guineense pela primeira vez.
A estreia mundial de "Spell Reel", uma coprodução entre Portugal, Alemanha, França e Guiné-Bissau, aconteceu em fevereiro de 2017, em Berlim, no programa paralelo Berlinale Forum.
Filipa César já tinha marcado presença neste festival em 2016, com "Transmission from the Liberated Zones" e, em 2013, com "Cuba", duas curtas-metragens igualmente feitas a partir dos arquivos de cinema da Guiné-Bissau.
Em junho do ano passado, "Spell Reel" estreou-se nos Estados Unidos da América, onde esteve em exibição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
"Spell Reel" venceu o Prémio José Saramago e a Menção Honrosa do Júri da Competição Internacional do Doclisboa'17, e obteve uma menção especial na secção Zabaltegi Tabakalera do Festival de Cinema de San Sebastián, em Espanha.
Desde a estreia em Berlim, "Spell Reel" foi selecionado para cerca de duas dezenas de festivais, como o Cinéma du Réel, em Paris, o Images Festival e os Rencontres Internationales du Documentaire de Montréal, no Canadá, o festival de Cartagena, na Colômbia, o de Turim, em Itália, o London Film Festival, no Reino Unido, o Doclisboa e o Porto Post-doc, em Portugal, e outros certames em países como Peru, Coreia do Sul e Taiwan, Lituânia, Espanha, Argentina e Nigéria.
Formada em Pintura pelas Faculdades de Belas-Artes do Porto e de Lisboa, onde concluiu a licenciatura em 1999, ganhou o prémio União Latina, em 2003, o prémio BES Photo, em 2010, participou na Bienal de Istambul (2003), no Festival Internacional de Cinema de Locarno (2005), na Trienal de Arte Contemporânea de Praga (2008), nas Bienais de Arquitetura de Veneza e de São Paulo, e na Manifesta 8, em Cartagena (2010).
A realizadora e artista visual expôs em várias galerias e museus portugueses, mas também em cidades como Barcelona, Hong Kong, Zurique, Berlim e Bruxelas.
Com "Mined soil", em que cruza a investigação científica do agrónomo Amílcar Cabral, sobre a erosão dos solos alentejanos, com a emergência da luta pela independência da Guiné-Bissau, liderada por Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), venceu o Grande Prémio de Curta-Metragem do Festival de Vila do Conde, em 2015.