Sophia "está vivíssima e a sua obra continua a suscitar interesse"
A poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, cujo centenário do nascimento é celebrado no próximo ano, "está vivíssima e a sua obra continua a suscitar interesse, porque é cheia de realidade", disse hoje José Manuel Santos da comissão coordenadora da efeméride.
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Cultura Poeta
O programa de iniciativas do centenário do nascimento da autora de "O Cristo Cigano" (1961) foi hoje apresentado no Centro Nacional de Cultura (CNC), em Lisboa, e, "apesar de muito arquitetado, é um programa muito aberto ainda", pois "todos os dias aprecem iniciativas propostas por pessoas ou instituições", afirmou José Manuel Santos, que disse ter sido contactado, nos últimos dois dias, pela Assembleia da República, e pelo Panteão Nacional, no sentido de fazerem parte das celebrações.
O responsável recordou que a poetisa foi deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte, em 1975, e encontra-se sepultada no panteão, desde 2014.
"Isto é sinal de que não estamos a comemorar o centenário de um poeta que estivesse esquecido ou morto, estamos a comemorar o centenário de alguém, cuja presença continua vivíssima, e, ao mesmo tempo, cuja obra continua a suscitar o interesse, a devoção de muitas pessoas, porque é uma obra - como ela disse a propósito da obra poética de Luís de Camões -, é uma obra cheia de realidade".
Todos os projetos devem ser "exigentes" e "com uma qualidade intrínseca", disse por seu turno, a poetisa Maria Andresen de Sousa Tavares, filha de Sophia, que faz parte desta comissão, da qual também fazem parte Federico Bertolazzi, Fernando Cabral Martins e Guilherme d'Oliveira Martins.
"O nosso papel na comissão é organizar e disciplinar tudo isto e avaliar, de alguma maneira, a qualidade das propostas, e são essas que terão o selo que lhes permite integrar este programa propriamente dito que é o do centenário", explicou.
Cada evento organizado no âmbito desta programação tem de contar com a chancela da comissão, e exibirá o respetivo selo.
O centenário conta com o alto patrocínio do Presidente da República, com quem a comissão se irá reunir, assim como com a ministra da Cultura, Graça Fonseca, tendo já havido uma reunião com o seu antecessor, Luís Filipe Castro Mendes.
Da programação faz parte uma exposição no Museu Árpád Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, sobre a "relação de grande intensidade" que houve entre Sophia e o casal de pintores.
Na área editorial está previsto a edição, num só volume, de toda a obra ficcional de Sophia de Mello Breyner Andresen e, num outro volume, as "prosas dispersas", no qual se incluem textos que foi publicando, depoimentos, intervenções que fez, ensaios, entrevistas, entre 1953 e 2003.
"Cinquenta anos de vida cultural em que ela esteve sempre presente", salientou Federico Bertolazzi.
Outra obra de Sophia, que vai voltar ao mercado, é "O Nu na Antiguidade", esgotado há mais de 20 anos, e que será reeditado, incluindo os seus poemas helénicos, numa organização de Maria Andresen.
A televisão é outra área que vai ser trabalhada, nomeadamente a RTP, uma questão que José Manuel Santos considerou "muito oportuna", pois "os arquivos são muitas vezes esquecidos, apesar da sua crucial importância".
O projeto de comemoração do centenário foi uma ideia que a filha da poetisa teve há dois anos, e para a qual juntou vários "amigos, alguns que conheceram e conviveram com ela", como Guilherme d'Oliveira Martins, ex-presidente do CNC, que foi o primeiro com quem falou, seguindo-se um juntar com vários amigos no Bairro alto, contou Maria Andresen de Sousa Tavares.
A propósito, sobre o CNC, do qual Sophia foi diretora durante vários anos, Maria Andresen realçou a importância dos seus pais, Sophia de Mello Breyner Andresen e o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares, para que esta instituição, antes do 25 de abril de 1974 "não fosse tão conservadora e se fosse abrindo aos opositores do regime", tendo começado pelos católicos progressistas, "o que fez com que esta casa sobrevivesse até hoje".
Maria Andresen disse que "o critério" que se impôs na escolha das pessoas para as comissões, a coordenadora e a organizadora, foi "respeitar uma característica essencial" da poetisa, "a exigência".
"Ela era uma pessoa extremamente exigente e, relativamente, à qualidade das coisas, sobretudo as que lhe estavam ligadas, intransigente", afirmou.
Por isso, "não é preciso fazer uma coisa muito espampanante, é preciso é que tenha qualidade, uma certa simplicidade e qualidade; qualidade intrínseca". "Para não ter qualidade, também não vale a pena", enfatizou Maria Andresen.
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