Novo livro de António Hespanha fala do "império sombra dos portugueses"
O historiador António Hespanha aborda, no seu mais recente livro, "Filhos da Terra", o "império sombra dos portugueses", "comunidades mestiças, na civilização e na cultura", exteriores a fronteiras formais de controlo político.
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Cultura Historiador
António Hespanha afasta-se da denominada tese do luso-tropicalismo do sociólogo Gilberto Freyre, e critica "a imagem corrente da expansão portuguesa [que] insiste na particular abertura ao outro, na ausência de racismo e no 'filotropicalismo luso", argumenta o historiador.
A obra "Filhos da Terra. Identidades Mestiças nos Confins da Expansão Portuguesa" é apresentada na segunda-feira, às 18:30, na FNAC Chiado, em Lisboa, pela professora no departamento da Antropologia no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Rosa Maria Perez, e pelo jornalista Francisco Belard.
Sobre a obra, editada pela Tinta-da-China, António Hespanha explica que nela "procura reunir e tratar conjuntamente elementos para a análise daquilo a que se vem chamando, desde há uns anos, o 'império sombra' dos portugueses, ou seja aquele conjunto de comunidades que, fora das fronteiras formais do império, sobretudo na África e na Ásia, se consideravam como 'portugueses' -- qualquer que fosse o sentido disso".
O ensaio aborda aqueles que se instalaram foram das fronteiras legais dos domínios sob bandeira portuguesa, assim como os seus descendentes, constituindo ou fazendo parte de sociedades indígenas em cada um daqueles territórios longínquos e além-mar.
São eles os "mestiços", como se lhe refere o autor, e sobre os quais interroga: "Carregariam consigo memórias, sentimentos, valores e traços culturais que se pudessem relacionar com Portugal?".
Para o título escolhido, 'Filhos da Terra', foi Hespanha buscar a uma expressão comum em territórios como Guiné, S. Tomé, Angola, Moçambique, Índia ou em Malaca, na atual Malásia, que é utilizada para referir as "comunidades mestiças, na civilização e na cultura".
O "império" dito português ou de portugueses, prossegue o historiador, "foi-se dissolvendo numa constelação solta de grupos bastante autónomos e diversos entre si, que nós, por hábitos mentais, identificávamos como portugueses".
Hespanha chama, aliás, a atenção para o historiador Luis Filipe Thomaz, o primeiro que apontou a dispersão e variedade do estatuto político dos territórios, como a principal característica da expansão portuguesa.
O autor dedica um capítulo da obra aos territórios e comunidades que "estavam além das fronteiras de controlo político", referindo que, mesmo dentro dos territórios formais, "havia também comunidades políticas que eram tocadas apenas de forma indireta pelos poderes formais".
Estas comunidades diferenciadas "existiam silenciosas". Tanto na metrópole como nos territórios ultramarinos eram denominadas como "nações estrangeiras", "rústicos" e "camponeses", "ciganos", "quilombos" ou "mouros de pazes".
O historiador António Manuel Hespanha nasceu em 1945, em Coimbra, e defendeu a sua tese de doutoramento, "As Vésperas do Leviathan" (1986), sobre o sistema de poderes das monarquias tradicionais europeias.
Professor catedrático jubilado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, Hespanha é investigador honorário do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sendo Doutor Honoris Causa pelas universidades de Lucerna, na Suíça, e da Federal do Paraná, no Brasil.
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