A 'Comichão Europeia' inspirada em Carlos Moedas estreia em dezembro
Uma reflexão sobre a Europa e o que "esta está a construir para cada um de nós" é como o encenador João Garcia Miguel define a peça "Sr. Moedas", a estrear em Lisboa, em 21 de dezembro, no âmbito do projeto "Comichão Europeia".
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Cultura Teatro
'Sr. Moedas' é uma peça ficcionada com base numa entrevista que João Garcia Miguel fez ao comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação Carlos Moedas, com quem esteve ao longo de um dia, em Bruxelas.
Colegas do comissário, em final de um mandato de cinco anos, e pessoas com quem este conviveu, sobretudo em Beja, de onde é natural, foram também entrevistadas por João Garcia Miguel para a construção da peça, disse o criador, numa entrevista à agência Lusa.
A peça será apresentada em Lisboa, após a representação, em dias consecutivos, de peças similares de uma companhia holandesa, uma italiana e uma outra romena. A iniciativa envolve ainda uma companhia da Letónia, que só se apresentará em Lisboa em 2020.
'Comichão Europeia' é o nome do projeto português e resulta de "um trocadilho com Comissão Europeia e com esta ideia de que Portugal tem alguma comichão, algum mal-estar, alguma incompreensão" com a Europa, acrescentou o diretor da companhia JGM.
"Alguma alergia, digamos assim. Aliás, uma alegria e uma alergia", frisou o encenador a propósito do projeto que, de 18 a 20 de dezembro, levará, respetivamente, as companhias Mugmetdegoudentand (Mosquito do dente dourado, Holanda), 3G (Roménia ) e La Confraternita del Chiante (Companhia de Teatro da Associação K, de Milão), ao palco do Teatro Ibérico, sede da Companhia João Garcia Miguel, para apresentarem os seus próprios projetos.
Sobre a peça a estrear pela companhia portuguesa, no dia 21, o criador diz tratar-se de um texto que elaborou a partir de um dia passado com Carlos Moedas, em Bruxelas, em que este se mostrou "muito recetivo, acolhedor e entusiasta" na relação que teve com o autor, ao contrário do que acontecera antes com a "entourage" do comissário europeu.
Ele próprio [Carlos Moedas] tem alguma relação com esta noção de que é necessário fazer transparência e divulgar o trabalho da Comissão Europeia
'Sr. Moedas' é um texto com duas personagens, uma das quais o Sr. Moedas, que, não tendo "correspondência direta" com "o engenheiro Carlos Moedas", cria uma "personagem inventada que se relaciona com a Europa".
"Com a compreensão que, de alguma forma, a Europa é um sonho muito antigo, que ultrapassa a nossa própria construção da Europa e que, de alguma maneira, é um diálogo interior que acaba depois por ser teatralizado entre duas personagens", disse.
A peça estabelece-se assim uma "reflexão sobre a história da Europa e aquilo que esta está a construir para cada um de nós", observou João Garcia Miguel, traçando um paralelismo com o comissário Carlos Moedas: "Um rapazinho que vivia em Beja, filho de um conceituado jornalista local, que depois ficou alcoólico, [um rapazinho] que tinha tudo para que a vida lhe corresse mal e que acabou por se sair extraordinariamente bem".
Muitas das vezes nem sequer temos consciência das coisas positivas, temos muito mais consciência daquilo que é negativo e que nos choca, que nos deixa entristecidos, e provavelmente sem margem de progressão
'Sr. Moedas' é, assim, um texto que "acaba por refletir sobre a pequenez e a grandeza destes contextos em que vivemos", indicou o encenador.
João Garcia Miguel acrescentou que o projeto 'Comichão Europeia' nasceu de forma "fortuita", depois de um convite que lhe foi lançado, em 2018, por um encenador holandês que também faz parte da organização Informal European Theatre Meeting (IETM) e que pusera em palco uma peça semelhante a partir de um texto em torno do 'seu' comissário europeu, em 2015 e 2016.
À Holanda e a Portugal juntaram-se depois companhias de Itália, Roménia e Letónia que "criaram espetáculos para refletirem sobre este regime europeu" que nos obriga a um conjunto de regras que acabam muitas vezes por ser difíceis de aceitar e perceber".
O espetáculo dos italianos está um pouco mais longínquo da figura do comissário italiano, já que, ao contrário do português, não foi nada sensível a receber o grupo, esclareceu o encenador português.
Os romenos têm uma figura muito idealizada a partir de testemunhos de um conjunto de pessoas que foram deputados e comissários europeus, assim como os letões, disse João Garcia Miguel à Lusa, a propósito dos espetáculos que o teatro Ibérico acolhe em dezembro.
Só a companhia da Letónia, Story Hub, não se apresentará em Lisboa, em dezembro próximo, mas em abril de 2020, acrescemtou João Garcia Miguel.
'Sr. Moedas' já foi apresentado na Holanda e na Roménia. Nos dias 09 e 10 deste mês, estará em cena, em Milão, e, de 15 a 22 de fevereiro, os projetos de todas as companhias serão apresentados em Riga, na Letónia.
Com texto, espaço cénico e direção de João Garcia Miguel, 'Sr. Moedas' é interpretado por Sara Ribeiro e tem figurinos de Rute Osório de Castro. Trata-se de uma produção da Companhia João Garcia Miguel & Teatro Ibérico, com o Teatro Cine de Torres Vedras, Teatro Aveirense e as autarquias locais de Torres Vedras e Aveiro.
Além da estreia do projeto português em Lisboa e da apresentação dos outros três projetos, o diretor da Companhia JGM conta promover debates com alguns "políticos e pensadores" que acompanhem os espetáculos e façam depois uma "reflexão paralela sobre política internacional".
O objetivo é que o projeto "tenha alcance além do palco, e nos coloque todos a falar e a pensar sobre esta relação", concluiu.
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