"Estamos num momento, em termos de produção artística, terrível. Os espaços de produção artística estão a fechar e estão a ser cancelados vários eventos", disse à Lusa Alvim Cossa, presidente da Associação Moçambicana de Teatro.
Aquele responsável falava à margem de uma reunião realizada hoje em Maputo que debateu os desafios das artes face à Covid-19 em Moçambique.
Para o presidente da Associação Moçambicana de Teatro, o impacto das medidas de prevenção, que incluem a suspensão de todos os eventos que juntem mais de 50 pessoas por 30 dias, será mais doloroso para os fazedores das artes, na medida em que o próprio setor atravessa vários desafios, com destaque para a falta de apoio.
"Há necessidade de o Estado olhar para nós e abrir linhas de crédito para que, em casos como este, as pessoas não percam os seus salários e tenho alguma forma de sobrevivência", frisou Alvim Cossa.
Também Matilde Muocha, investigadora e docente da Escola de Comunicação e Artes na Universidade Eduardo Mondlane, observa que a crise consequente da propagação da Covid-19 vai agudizar as dificuldades dos artistas no país, lembrando que se está perante um setor cuja estruturação é fraca.
"Para os mais fracos, a crise é muito mais aguda. Mas isto nos dá a oportunidades para refletirmos em torno das fragilidades existentes no setor e encontrarmos soluções", observou a investigadora.
Por sua vez, Dadivo José, ator e também docente universitário, entende que o período pode ser usado para a adoção de novas formas de fazer arte a partir das plataformas digitais e os artistas podem usar a sua arte para promover mensagens de prevenção.
"Não vamos olhar as coisas com fatalismo, vamos ficar nas nossas casas e vamos produzir bastante. Há aqui um oportunidade para nos entregarmos a ideias novas e também ajudarmos a disseminar mensagens educativas, gravando pequenos vídeos e que podem passar nas nossas televisões", afirmou.
As conclusões da reunião, que também decorreu em simultâneo nas cidades da Beira, Quelimane e Pemba, serão compiladas em um documento, que deverá ser entregue ao Governo moçambicano e aos parceiros que apoiam a arte, além de ser veiculada pelos media.
Moçambique ainda não registou casos de Covid-19, mas a doença existe em países vizinhos e o risco é iminente, segundo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, que falava à nação na sexta-feira para anunciar novas medidas de prevenção.
As medidas incluem o fecho de todas as escolas e a suspensão de vistos de entrada no país por um período de 30 dias a partir de segunda-feira
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 271 mil pessoas em todo o mundo, das quais pelo menos 11.401 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 164 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, com a Itália a ser o país do mundo com maior número de vítimas mortais, com 4.032 mortos em 47.021 casos. Segundo as autoridades italianas, 5.129 dos infetados já estão curados.
Em Portugal, há 12 mortes e 1.280 infeções confirmadas.