Hollywood tem de corrigir falta de histórias de mulheres e afroamericanos
A escassez de séries e filmes sobre mulheres, afroamericanos, latinos e todos os que não sejam caucasianos, na História, é algo que Hollywood tem de corrigir, disse a criadora da minissérie "Mrs. America", que em Portugal passa na HBO.
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Cultura Produtora
"Não temos visto muitos conteúdos na televisão ou cinema sobre mulheres e afroamericanos na História, e isso é algo que temos de retificar", afirmou hoje a criadora e produtora executiva Dahvi Waller, numa sessão do festival Banff World Media.
"O facto de as pessoas assistirem a 'Mrs. America' e questionarem porque é que não há mais [produções sobre estas questões] ilustra a escassez de conteúdos sobre personagens não brancas e não masculinas", disse Dahvi Waller, frisando que a minissérie é de apenas uma temporada.
"Mrs. America" conta a história verdadeira de como falhou a ratificação da Emenda da Igualdade de Direitos para as mulheres, na Constituição dos Estados Unidos, durante os anos setenta.
É protagonizada por Cate Blanchet (Phyllis Schlafly), Rose Byrne (Gloria Steinem), Uzo Aduba (Shirley Chisholm), Tracey Ullman (Betty Friedan), Margo Martindale (Bella Abzug) e Sarah Paulson (Alice Macray), contando ainda com Elizabeth Banks, James Marsden e John Slattery.
"Não me parece que esta série tivesse sido feita até há pouco tempo", disse Dahvi Waller, em resposta a um pergunta da Lusa. "Não há muitas séries ou filmes nos quais as mulheres não sejam retratadas como mães, esposas ou irmãs", referiu, sublinhando que "nem sequer há séries sobre política, centradas em mulheres", e esta "parece ser a primeira".
Segundo a criadora, houve uma escolha deliberada de omitir as relações familiares da congressista Bella Abzug, uma das mulheres em torno das quais a série se centra. "Porque a sua função nesta história não é de mãe ou esposa, é de operativa política", disse. "Estamos tão habituados a ver mulheres em relacionamentos, por oposição à procura do poder e trabalho em estruturas políticas, que quase parece estranho no início".
A atriz Uzo Aduba, que interpreta a primeira mulher que se candidatou à presidência dos Estados Unidos, disse que este momento se revelou apropriado para que a série pudesse ser feita.
"Tem havido uma ausência tão grande no que toca a histórias sobre mulheres", frisou a atriz. "Enquanto crescia, só ouvia falar de Betsy Ross, Amelia Earhart e Harriet Tubman. Fora elas, era como se as mulheres nunca tivessem feito nada no mundo".
Aduba, que ganhou dois prémios Emmy pelo papel de Suzanne em "Orange is the New Black", referiu a importância desta e de outras séries centradas em mulheres nos últimos anos, mencionando "The Handmaid's Tale" e as criações de Shonda Rhimes ("Anatomia de Grey", "Scandal", "How to Get Away With Murder").
"O que tem sido bom em haver tantas opções e plataformas para a existência de conteúdos é que isso criou muito mais espaço para que se ouçam mais vozes", considerou. "Ajudou a equalizar o cenário de contadores de histórias no entretenimento", afirmou, referindo que "isso abriu espaço para novas histórias, e as pessoas aperceberam-se de que as queriam ver".
"Mrs. America", bem recebida pela crítica, foi escrita quase inteiramente por mulheres.
O coprodutor executivo Micah Schraft disse que isso foi uma oportunidade de "ouvir e aprender" e que trazer as histórias destas mulheres permite "dar contexto ao momento que vivemos agora".
Dahvi Waller vendeu a minissérie em 2015 e estava a trabalhar nos primeiros episódios, em 2016, quando Hillary Clinton perdeu para Donald Trump. "Foi depois da eleição que nos virámos mais para a Emenda", disse. "Tornou-se numa série sobre como este país guinou para a direita conservadora, e como esta obteve poder".
A série termina de forma negativa, já que a Emenda não foi ratificada, e Dahvi Waller admite que isso é "uma tragédia", porque "o patriarcado vence".
A criadora notou, no entanto, que a série tem "muita esperança" embebida, e disse esperar que a história, por ser verdadeira, "galvanize a audiência".
A Emenda da Igualdade de Direitos tem como objetivo tornar ilegal a discriminação baseada no género. Foi proposta em 1923 e aprovada pelo senado norte-americano em 1972, mas uma forte campanha de antifeminismo impediu a sua ratificação.
O interesse pela Emenda foi reavivado após a eleição de Donald Trump e o advento do movimento "#Me Too", no final de 2017.
Neste momento, há 12 estados que ainda não ratificaram a Emenda e três entraram com um processo para impedir a sua ratificação.
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