Ministra da Cultura recorda Melo e Castro como exemplo de inventividade

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, recordou hoje o poeta Ernesto Melo e Castro, que morreu este sábado, aos 88 anos, como um exemplo de "inventividade" e talento que "nunca se conformou com limites e dogmas".

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Lusa
30/08/2020 16:40 ‧ 30/08/2020 por Lusa

Cultura

Ernesto Melo e Castro

"Para a poesia e para as artes plásticas portuguesas, E. M. de Melo e Castro será sempre um exemplo de inventividade e de um talento que nunca se conformou com limites e dogmas", salienta a ministra, numa nota de pesar e condolências à família.

Ernesto Manuel de Melo e Castro, que vivia no Brasil, morreu no sábado à noite, em São Paulo, aos 88 anos, anunciou hoje a sua filha, a cantora Eugénia Melo e Castro, numa publicação na rede social Facebook.

Graça Fonseca salienta que o poeta, "figura incontornável" da poesia experimental portuguesa, sempre foi "dinâmico e interventivo" e que o seu trabalho artístico sempre se fez acompanhar de uma "produção teórica consciente e maturada".

Na missiva, a ministra recorda que, com a publicação de "Ideogramas", em 1962, o poeta Ernesto Melo e Castro inaugurou a poesia concreta portuguesa, construindo assim um "alicerce iniciador do experimentalismo".

"Foi pioneiro na escrita e nas artes plásticas portuguesas, com uma obra vasta e multidisciplinar em que, como o próprio tantas vezes referia, a transgressão foi o ponto crucial da sua produção", refere.

Do percurso do poeta, Graça Fonseca destaca ainda a organização, juntamente com a sua mulher, Maria Alberta Menéres, da "Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa", considerando-a uma "obra ímpar pelo rigor da seleção, pelo detalhe e completude da informação e pelo impacto que teve na poesia portuguesa contemporânea".

"No seu trabalho, poderemos sempre ver uma língua em constante revolução, em constante tensão, uma língua sem fronteiras definidas e que permanentemente se reinventa", recorda.

Poeta e escritor, E.M. de Melo e Castro, como assinava, nasceu a 19 de abril de 1932, na Covilhã, e foi particularmente marcante na emergência da poesia concreta experimental e visual em Portugal.

Autor de uma obra demarcada pela construção de experiências com diferentes materiais, o seu livro "Ideogramas", que reúne 29 poemas concretos sem qualquer introdução ou nota explicativa, foi um "marco fundador" do experimentalismo, na literatura e na arte portuguesas.

Filho de Ernesto de Campos Melo e Castro, neto materno do 1.º Visconde da Coriscada e comendador da Ordem da Instrução Pública, E. M. de Melo e Castro licenciou-se em engenharia têxtil pela Universidade de Bradford, em Inglaterra, em 1956.

Desde sempre reconhecido como "figura multifacetada", na literatura e na arte, pela crítica e pela investigação, E.M. de Melo e Castro participou no primeiro número da revista Poesia Experimental ("Po.Ex"), em 1964, tendo sido, dois anos mais tarde, um dos organizadores do segundo número desta publicação, pioneira na exploração de 'transtextualidades'.

Entre as diversas antologias e suplementos em que colaborou, assinala-se a organização de "Hidra e Operação", tendo também colaborado com a revista Arte Opinião.

A publicação da extensa "Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa", em 1959, pela Moraes, em colaboração com Maria Alberta Menéres (1930-2019), sua companheira, constituiu um momento decisivo na afirmação e divulgação da literatura portuguesa e dos autores emergentes, que vieram a definir a sua modernidade, de Alberto de Lacerda, Ana Hatherly, António José Forte e António Maria Lisboa, a Couto Viana, Gedeão, Daniel Filipe, Fernando Lemos, Leonor de Almeida, Mourão-Ferreira, Pedro Tamen, Ruy Belo, Vitor Matos e Sá, entre muitos mais.

 

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