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Museu de Lamego recebe doação inédita de uma carta de colação de 1506

O Museu de Lamego vai receber em 20 de fevereiro uma doação inédita de uma carta de colação, assinada pelo bispo D. João Camelo de Madureira, em 1506, disse à agência Lusa a diretora do espaço.

Museu de Lamego recebe doação inédita de uma carta de colação de 1506
Notícias ao Minuto

15:55 - 02/02/21 por Lusa

Cultura Museu

Lamego, Viseu, 02 fev 2021 (Lusa) -- O Museu de Lamego vai receber em 20 de fevereiro uma doação inédita de uma carta de colação, assinada pelo bispo D. João Camelo de Madureira, em 1506, disse à agência Lusa a diretora do espaço.

"É uma carta de colação, ou seja, de atribuição da posse de uma igreja a um sucessor o que equivaleria a sucessão de paróquia, de pároco de uma igreja. É assinada pelo Bispo de Lamego D. João Camelo de Madureira, em 1506, que é muito conhecido por ter sido responsável da encomenda do retábulo da Sé de Lamego ao pintor Vasco Fernandes, ou seja, Grão Vasco", adiantou Alexandra Falcão.

A entrega do documento está agendada para "dia 20 [de fevereiro], numa cerimónia 'online', acompanhada por uma mesa redonda virtual", na qual participará "todo o corpo de investigadores que durante o ano passado se debruçaram sobre o documento".

Alexandra Falcão explicou à agência Lusa que foi contactada, em janeiro do ano passado, por um homem que dizia existir à venda num leilão da internet este documento e que gostava de o adquirir para o oferecer ao museu.

"Uma atitude que consideramos exemplar e é inédita no nosso historial de doações feitas ao Museu". Ele adquiriu-a para a oferecer ao Museu e "associada à compra espoletou todo um processo de estudo e análise do documento", contou.

Assim, no último ano, os investigadores Maria João Borges de Pinho, Maria do Rosário Morujão e Nuno Resende fizeram a contextualização do documento, o estudo paleográfico e diplomático e a transcrição" e o resultado "vai dar origem a uma publicação que estará disponível 'online' no dia da entrega" da carta.

"É uma forma de uma maior democratização do acesso à cultura e penso que isso é que é absolutamente extraordinário e muda completamente o paradigma do historial das nossas doações", defendeu.

A diretora referiu que, de acordo com o trabalho desenvolvido pelo historiador Nuno Resende, "há um elemento muito curioso" nesta carta, assinada em 15 de janeiro de 1506, uma vez que foi "assinada pelo bispo no local, o que não era comum, em Trevões", freguesia do concelho de São João da Pesqueira, diocese de Lamego.

"Na altura contraria um pouco a ideia de que os bispos tinham uma ação ausente das suas dioceses ou centralizados, estavam em Lisboa, e dirigiam a diocese à distância. D. João de Madureira procurava visitar os espaços da sua diocese e fazer uma governação muito presente, segundo revela este documento", explicou.

A responsável contou que "este bispo encetou a reforma da Catedral de Lamego na época Moderna, na transição do Gótico para o Renascimento", mas era "uma figura de quem muito pouco se sabia". Este documento foi "um pretexto para aprofundar melhor o percurso e a atividade, e a ação pastoral" de João Camelo de Madureira.

O outro elemento "muito interessante" desta carta, sublinhou a diretora, "é que possui um selo em cera e é o único documento que se conhece deste bispo que tem ainda a marca sigilar".

"Conhecíamos apenas uma versão simplificada, justamente de uma das pinturas encomendadas para a Catedral de Lamego e que hoje estão no museu e era essa a única marca das armas do bispo que conhecíamos até à atualidade. Agora, conhecemos de uma forma bastante mais completa", revelou.

Neste sentido, Alexandra Falcão admitiu que "faz todo o sentido esta carta ser entregue ao Museu de Lamego, porque o documento é relacionado com Lamego, é de um bispo de Lamego" e também pelo espólio que este espaço possui relacionado a este responsável da igreja católica.

"O Museu tem à sua guarda as pinturas remanescentes do retábulo de Grão Vasco, encomendado pelo bispo, que foi apeado já no século XVII. Era um retábulo magnifico de 20 painéis, sobreviveram cinco e esses cinco estão no Museu, de maneira que faz todo o sentido que o documento fique e esteja em Lamego", defendeu.

Do doador, João Pedro de Oliveira Santos, a diretora destaca "a atitude altruísta" deste empresário de Aveiro, "com raízes em Lamego que conhece o trabalho" da instituição que ela dirige.

"É muito compensador e gratificante ter depositado no Museu a confiança de oferecer este documento, porque sabe que estaríamos recetivos ao seu estudo e a torná-lo o mais acessível possível", destacou.

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