Culturgest. Insustentável leveza da obra de António Bolota em exposição

A exposição antológica com uma seleção de obras de António Bolota desde 2006 até à atualidade, incluindo uma inédita, que revelam a insustentável leveza da obra do artista, caracterizada pela grande escala, é inaugurada sexta-feira, na Culturgest, em Lisboa.

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Lusa
07/04/2021 18:00 ‧ 07/04/2021 por Lusa

Cultura

Culturgest

 

Sob o título 'Mão-de-Obra', esta primeira exposição antológica de António Bolota tem curadoria de Bruno Marchand e ficará patente nas galerias da Culturgest até 19 de setembro de 2021, com entrada gratuita no dia da inauguração, segundo o também programador das artes visuais da entidade.

"Esta exposição não representa toda a obra de António Bolota", avisou Bruno Marchand no início de uma visita de imprensa com a presença do artista, em frente a uma das seis peças que a compõem, edificada no ´foyer´ da Culturgest, e que dá uma ideia da grande escala das obras a descobrir no interior.

Com "características especiais" devido a essa dimensão, o artista decidiu escolher algumas peças e "recriá-las" para o espaço expositivo, que também teve de sofrer algumas modificações, de forma a moldar-se ao percurso dos últimos 15 anos de António Bolota, um artista que tem feito toda a sua carreira sobretudo a criar tendo em conta os lugares de apresentação do seu trabalho.

Muros, vigas, paredes, pilares, telhas e todo o tipo de elementos que associados ao universo da construção civil e que, de tão familiares, se tornam frequentemente invisíveis, fazem parte do universo escultórico de António Bolota, que nestas seis peças usou tijolo, cimento, madeira, ferro, pedra e areia de pinhal.

"Estas peças não são só para ver, são mais para viver e experimentar", comentou Bruno Marchand sobre o trabalho do artista, nascido em Benguela, Angola, em 1962, e que vive em Portugal desde 1975.

Ao longo da exposição, o artista sublinhou que a luz e a sombra são elementos muito importantes do seu trabalho: "A luz está presente em todas as peças, independentemente do material que uso, é captada de várias formas, e a sombra também me interessa, na procura de outra dimensão dos objetos".

As peças, todas sem título - uma delas inédita, em aço e betão, criada este ano - impressionam pela sua dimensão, pela forma como criam ambientes nas várias salas expositivas, e pelo seu peso, segundo o artista, algumas de 12 e de 17 toneladas, mas que ao olhar do visitante aparentam uma leveza, com a qual António Bolota disse gostar de "jogar, como desafio".

Devido à sua enorme escala, as peças foram "recriadas, sem perder a sua identidade", às quais o artista - formado em engenharia civil em 1985, atividade cujo exercício mantém até hoje - chamou "versões" para a exposição.

"Sendo também engenheiro, António Bolota põe ao serviço da escultura tudo o que sabe desta formação", apontou o curador, referindo alguns passos dos bastidores da instalação das peças que percorrem as várias salas, a primeira delas uma parte de um enorme telheiro sustentado em madeira, que possibilita uma visão cimeira por parte do visitante.

Questionado pela Lusa sobre o interesse pelas peças de grandes dimensões, o artista ressalvou que o seu objetivo não é chocar quem olha, mas desafiar: "Os objetos de larga escala interessaram-me sempre devido à minha formação [em engenharia e escultura] e ao meu gosto pela arquitetura e pelos materiais. Há sempre uma tensão entre o corpo e a escultura. Há sempre dois lados nas peças, a sombra e a luza, o peso e a leveza".

"Nunca me interessou fazer esculturas pequenas. As próprias peças são um gesto que convoca o espaço em si", salientou o autor, que iniciou a formação artística em desenho e pintura, entre 1994 e 1998, na Escola Oficina de Artes e na Cooperativa Atitude, ambas em Cascais.

Ingressou em 2001 na Ar.Co onde deu continuidade a esta formação, desenvolvendo os seus conhecimentos em Estética, História de Arte e Prática do Desenho, até 2003, e de 2004 a 2007, na mesma escola, frequentou o curso de Escultura.

Iniciou a prática artística em 2006 com a exposição coletiva 'Sem Título (Telhado)' na Interpress, em Lisboa, expondo regularmente o seu trabalho, cuja singularidade, segundo Bruno Marchand, está no "confrontar o espectador com vivências de perigo, de espanto ou de incredulidade".

Na sexta-feira, a exposição 'Mão-de-Obra' está aberta na Culturgest das 11h00 às 22:00, com entrada gratuita, e nos restantes dias, até 19 de setembro, o horário é de terça a sexta, das 11h00 às 18h00, ao sábado das 11h00 às 13h00, e ao domingo, das 10h00 às 13h00.

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