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'Hipólito' encenado por Rogério de Carvalho abre 38.º Festival de Almada

A construção de "outro ponto de vista" esteve na base da criação da peça 'Hipólito', de Eurípides, com que a Companhia de Teatro de Almada (CTA) abre, na sexta-feira, o 38.º Festival de Almada.

'Hipólito' encenado por Rogério de Carvalho abre 38.º Festival de Almada
Notícias ao Minuto

16:04 - 30/06/21 por Lusa

Cultura Festival de Almada

A criação de 'Hipólito' não teve como objetivo "fazer um retorno" à peça 'Fedra', de Racine, que a CTA estreou em 2006, acrescentou à imprensa o encenador Rogério de Carvalho, que encenara 'Fedra' e que agora também dirige 'Hipólito'.

Por isso, a primeira das duas criações com que a companhia anfitriã do certame abre a edição deste ano do festival surgiu "por memória" da companhia, que assim acaba por fazer dois espetáculos referentes à mesma personagem, mas com a intenção de "construir um outro ponto de vista", acrescentou Rogério de Carvalho aos jornalistas no final de um ensaio da peça para a imprensa.

"É uma espécie de complementaridade e de vontade", precisou o encenador, acrescentando tratar-se de "uma oportunidade" que lhe foi dada.

"Onde poderia fazer esta peça?", referiu, sublinhando que a CTA lhe tem dado oportunidade "de fazer grandes textos".

'Hipólito', tragédia de Eurípides apresentada em 428 a. C., poucos anos antes do início da Guerra do Peloponeso, centra-se na personagem homónima e no desejo de que é alvo por parte da madrasta, Fedra. Hipólito é filho bastardo de Teseu, fruto de uma ligação deste com uma amazona.

A paixão de Fedra por Hipólito é, contudo, apresentada como a concretização de uma vingança lançada por Afrodite sobre Hipólito, já que este se recusa a adorar a deusa grega do amor, direcionando a sua adoração apenas para Ártemis, deusa da caça e da vida selvagem.

'Hipólito' é assim, segundo Teresa Gafeira, a atriz que encarna a personagem de Fedra - como a interpretara no texto de Racine -, "um texto extremamente revelador e que, por alguns motivos, chega até hoje".

Para a atriz que encarna Fedra, a personagem faz, sobretudo no texto que diz antes de se suicidar, uma "defesa extraordinária das mulheres".

"Nunca enfrentarei o olhar de Teseu nem nunca envergonharei a casa de Creta depois dos atos vergonhosos que pratiquei", diz Fedra.

Contudo, a personagem nunca pratica qualquer ato criminoso, exceto o de acusar Hipólito, acrescentou Teresa Gafeira. Já Hipólito surge nesta peça como um homem puro, que recusa o amor, e que se mantém íntegro até ao final.

"[Fedra] apenas sentiu desejo", argumentou Teresa Gafeira. E este texto de Eurípides continua bastante atual, acrescentou a atriz, sublinhando que traz a público um tema que "continua atual".

Apesar de na atualidade as relações entre homens e mulheres serem "mais liberais e mais abertas" a atriz está convicta de que "ainda hoje uma mulher com desenho não é tão bem aceite [pela sociedade] como um homem com desejo".

Fedra tem apenas "a alma trabalhada pelo desejo, e não tem culpa nenhuma. Contudo, mata-se".

Hipólito acaba por morrer, após ter sido expulso por seu pai, mas Teseu acaba também por conhecer a verdade que lhe é revelada quase no final da peça por Ártemis.

Num cenário despojado assinado por José Manuel Castanheira, onde pontuam cinco cadeiras, 'Hipólito' tem figurinos de Mariana Sá Nogueira, luz de Guilherme Frazão e voz e elocução de Luís Madureira.

A interpretar estão Anabela Ribeiro, Carolina Dominguez, Cláudio da Silva, Elsa Valentim, Joana Francampos, Marques D'Arede, Miguel Eloy, Pedro Fiúza, Sofia Correia e Teresa Gafeira.

A peça será representada no palco da sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite, onde regressará no início de 2022, na sexta e sábado, às 20h30, e, no domingo, às 16h00.

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