Carolina Maria de Jesus vai ter exposição no Instituto Moreira Salles

Facetas pouco conhecidas da trajetória da escritora Carolina Maria de Jesus, que reforçam a importância do seu projeto literário, serão tema de uma mostra do Instituto Moreira Salles (IMS), a inaugurar em 18 de setembro, na cidade de São Paulo, Brasil.

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Lusa
06/08/2021 10:25 ‧ 06/08/2021 por Lusa

Cultura

Brasil

 

A escritora brasileira, que chamou a atenção do mundo ao dar voz aos oprimidos e aos moradores de favelas, teve o seu livro mais importante "Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada" editado em Portugal neste ano pela primeira vez, 60 anos depois de sua publicação original no Brasil, porque a obra foi proibida à época, pela ditadura de António de Oliveira Salazar.

Num comunicado, o IMS, que tem direção artística do curador português João Fernandes, explicou que a mostra é fruto de uma pesquisa de quase dois anos, e que a seleção reúne fotografias, manuscritos, vídeos e material documental. Traz ainda a público obras de cerca de 60 artistas numa relação direta com a escritora.

A exposição chamada "Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros" entrelaçará diferentes linguagens, sobre a produção da escritora, ressaltando aspetos pouco conhecidos de sua vida e obra.

A seleção reúne aproximadamente 300 itens, entre fotografias, materiais de imprensa, vídeos e outros documentos. As obras dos cerca de 60 artistas, parte delas comissionadas, dialogam com temas investigados por Carolina.

A curadoria foi feita pelo antropólogo Hélio Menezes e a historiadora Raquel Barreto, e a assistência de curadoria, pela historiadora da arte Luciara Ribeiro. A exposição conta ainda com o trabalho de pesquisa da crítica literária Fernanda Miranda, doutorada em estudos literários.

"A mostra apresenta as reflexões de Carolina de Jesus (1914-1977) ao longo de sua trajetória, da infância, na cidade de Sacramento (MG), no contexto pós-abolição da escravatura, passando pela sua chegada à capital paulista, pelo lançamento e pela repercussão de seus livros, até ao fim de sua vida, em Parelheiros (SP)", explicam os organizadores.

"Na seleção, [será] possível observar como Carolina interpretou as contradições, a política e a desigualdade do Brasil, na sua época", prosseguem.

Destacam ainda o modo como a exposição procura evidenciar a importância histórica da autora, e a sua atualidade no contexto da luta antirracista, pela alfabetização e pelo direito à habitação.

Os organizadores também explicaram, na antevisão da mostra, que o seu título --- "Um Brasil para os brasileiros" --- remete para dois cadernos originais de Carolina, desde 2006 sob a guarda do IMS.

Em 1975, estes manuscritos foram entregues pela autora à investigadora Clélia Pisa (1931-2017), que a entrevistou, juntamente com a autora e tradutora francesa Maryvonne Lapouge (1926-2021), profunda conhecedora das letras do Brasil, para a sua obra conjunta "Brasileiras", publicada apenas em França.

Os manuscritos vão ser o fio condutor da mostra, sendo exibidos logo na entrada.

A equipa de curadoria comenta a importância do livro explicando que "em 'Um Brasil para os brasileiros', a autora elabora narrativas biográficas e autoficcionais ao rememorar sua infância, apresentando pontos de vista de personagens que foram apagadas das narrativas oficiais escritas, maioritariamente, por autores homens e brancos. Carolina faz assim um interessante contraponto aos cânones literários vigentes no Brasil."

Na exposição, os textos de Carolina e a sua própria letra vão aparecer em diversos formatos, como manuscritos, projeções na parede e 'lambes-lambes' (fixados em paredes, com cola, como cartazes de rua).

A exposição percorre a produção literária de Carolina, abordando a história e a receção de suas obras e mostrando a amplitude e a complexidade de sua produção, em grande parte presente em cadernos manuscritos ainda não publicados.

Além do "Quarto de despejo" (1960), obra pela qual Carolina Maria de Jesus ficou mais conhecida, na qual relata seu quotidiano na favela do Canindé, em São Paulo, a autora lançou em vida as obras "Casa de alvenaria" (1961), "Pedaços da fome", cujo título original era "A felizarda" (1963), "e Provérbios" (1963).

Após sua morte, foram publicados também "Diário de Bitita" (1986) e outras edições independentes reunindo textos seus. Ao longo de sua trajetória, Carolina escreveu ainda poemas, crónicas, peças de teatro e letras de música, a maioria também ainda inédita.

"Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada", de Carolina Maria de Jesus, foi publicada este ano, em Portugal, pela chancela VS Editor, de Vasco Santos.

"Carolina -- Uma Biografia", do professor, investigador e jornalista brasileiro Tom Farias, também deverá ser publicado em Portugal este ano, estando prevista a apresentação da obra em Lisboa, na Feira do Livro, no próximo mês de setembro, segundo o seu autor.

Leia Também: Governo indica jornalista Ana Margarida de Carvalho para CGI da RTP

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