Cinemateca Portuguesa programa ciclo em defesa da Cinemateca Brasileira
A Cinemateca Portuguesa inicia em setembro um ciclo regular de cinema brasileiro, que só terminará quando os trabalhadores da Cinemateca Brasileira "puderem de novo regressar ao lugar e à missão que lhes compete".
© Global Imagens
Cultura Cinemateca
A informação é divulgada na programação de setembro da Cinemateca Portuguesa, com uma chamada de atenção para a atual crise pela qual passa "uma das cinematecas de referência no mundo, decisiva para a salvaguarda do Cinema Brasileiro".
"O tempo está a esgotar-se para evitar uma catástrofe ainda maior", escreve a direção da Cinemateca Portuguesa.
O ciclo, que terá uma periodicidade quinzenal, abrirá a 06 de setembro com o filme "O dragão da maldade contra o santo guerreiro", de 1969, também conhecido como "António das mortes", primeira longa-metragem a cores do realizador Glauber Rocha.
A Cinemateca Portuguesa recorda que a congénere brasileira "viu-se subitamente posta em causa por um inusitado e intrincado processo político-administrativo", ficou sem apoios do governo federal brasileiro e foi forçada, há um ano, a paralisar a atividade, incluindo "a interdição formal de entrada de todos os técnicos nas instalações", em São Paulo.
Todas as sessões regulares deste ciclo de solidariedade "serão de homenagem ao Cinema Brasileiro, à instituição Cinemateca Brasileira e à sua história, e à atual equipa que a representa", lê-se na programação de setembro.
O mais recente episódio da crise pela qual passa a Cinemateca Brasileira aconteceu em julho, quando um incêndio atingiu o edifício, em São Paulo, que alberga o maior arquivo cinematográfico da América do Sul.
Segundo informações dos 'media' brasileiros, entre os materiais armazenados e destruídos pelo fogo estavam cerca de quatro toneladas de documentos sobre a história do cinema do Brasil, equipamentos e parte do acervo de Glauber Rocha.
Diversas personalidades do cinema brasileiro lamentaram as perdas para o património cinematográfico mundial e responsabilizaram o governo liderado pelo presidente, Jair Bolsonaro, responsável pela gestão da cinemateca.
No início de agosto, a Cinemateca Portuguesa juntou-se ao movimento internacional de solidariedade para com a Cinemateca Brasileira, e colocou-se ao lado dos trabalhadores, lamentando a "inédita e gravíssima situação de exceção imposta pelo Governo brasileiro", que a impede de "funcionar e de cumprir as mais elementares funções de salvaguarda que lhe estão consignadas".
Em 2016, a cinemateca já tinha sido atingida por um incêndio que consumiu cerca de 500 obras fílmicas, e em 2020 sofreu uma inundação.
A Cinemateca Brasileira junta-se a uma longa lista de instituições e entidades culturais que têm sido alvo das chamas no Brasil, onde os cortes no orçamento na área da Cultura se intensificaram nos últimos anos.
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