'Passagem secreta': Poesia cénica, visual e textual no Teatro S. Luiz
Uma espécie de poesia cénica, visual, sonora e também textual é como o artista multidisciplinar Fernando Mota define 'Passagem secreta', que se estreia hoje no S. Luiz Teatro Municipal, em Lisboa.
© Teatro S. Luiz
Cultura Encenação
'Passagem secreta' é, segundo o criador, "uma procura" que "só se concretiza com o público".
"Outro dia perguntaram-me se já tínhamos encontrado [a passagem], e eu disse que não", frisou o artista, acrescentando que será o público "que vai atribuir significados e reflexões tanto às palavras, como às imagens ou aos signos" apresentados no espetáculo.
Num cenário onde pontuam dois ramos de árvores pendurados, um conjunto de pedras dispostas em cascata, um gongo, um escadote e um telão branco, Fernando Mota surge em palco com uma cana em cada mão, agitando ora uma ora outra deixando que se oiça o vibrar do som que emitem.
"Ninguém termina na ponta dos dedos/Somos o que os outros foram/Só sabemos do visível/Mas somos do mesmo tamanho do invisível" são os primeiros versos do poema original de Vasco Gato que se ouvem no espetáculo enquanto, pouco depois, Fernando Mota vai tocando com as canas nas pedras deixando cada uma soltar os sons que vão emitindo.
"A passagem é uma pesquisa dentro da escuta", sublinhou o artista à Lusa, acrescentando que "começou por ser uma pesquisa acerca da comunicação das árvores através das raízes".
Depois, começaram a criar analogias entre aquela comunicação e "um pouco as raízes familiares". Ou "de onde é que nós vimos e o que é que em nós é de facto nosso ou de outros, dos nossos", frisou.
'Passagem secreta' é, por isso, nas palavras de Fernando Mota, "uma reflexão sobre tudo isso e sobre [...] comunidade".
Sem ser um espetáculo sobre a pandemia de covid-19, 'Passagem secreta' -- que não tem um texto dramático, nem é uma narrativa, nem tem personagens -- acaba por construir relações entre pessoas de várias idades.
"E entre nós e os nossos", acrescenta o criador e músico, daí que o espetáculo seja também "o lugar do invisível dentro da poesia, de nós e do mundo".
Ainda que não seja um espetáculo sobre a pandemia, é "todo ele muito influenciado por ela", pela ideia de que "no pico da pandemia algumas vozes diriam que [se vai] pôr tudo em causa e refletir sobre tudo".
Agora "voltamos ao mesmo ritmo frenético, a um ritmo ainda mais frenético", o que leva Fernando Mota a questionar-se o que é que se aprendeu com isto.
"Será que era por isto que ansiávamos", interroga-se, acrescentando que este espetáculo também reflete sobre o ritmo "um bocado absurdo" que se vive nos dias de hoje.
Um espetáculo que integra várias gerações -- desde as vozes que dizem o poema, compostas por pessoas de várias idades, até às imagens que vão sendo projetadas ao longo do espetáculo no telão branco e que são imagens de quatro elementos da Companhia Maior.
Um espetáculo multidisciplinar e "transversal", segundo Fernando Mota, que não pretende trazer conclusões mas apresentar temas para refletir, na "busca de ser melhor", concluiu.
Este espetáculo dá continuidade à pesquisa e criação de instrumentos musicais e objetos sonoros a partir de árvores, pedra, água e outros materiais naturais iniciada por Fernando Mota em 2020 e da qual resultou, entre outros trabalhos, '7 Poemas para um Mundo Novo'.
Integrado no ciclo 'Mais novos', 'Passagem secreta' está em cena na sala Mário Viegas de sexta-feira a domingo, com sessões à sexta-feira, às 19:30, ao sábado, às 16:00 e às 19:30, e, ao domingo, às 16:00.
Para escolas, pode ser visto entre hoje e dia 11, com sessões de hoje a quinta-feira, às 14:30, mediante marcação.
Criado e interpretado por Fernando Mota, 'Passagem secreta' tem direção cénica de Sofia Cabrita, textos de Vasco Gato, vídeo de Mário Melo Costa, desenho de luz de José Álvaro Correia e realização plástica de Marco Fonseca.
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