"Com tudo o que está a acontecer na Ucrânia, é um lembrete de que todos os refugiados são amigos, vizinhos, maridos, mulheres, e precisamos de ver isso", afirmou Jonas Poher Rasmussen, cujo filme conta a história verdadeira do refugiado afegão Amin Nawabi.
"É bom ver como as fronteiras estão a ser abertas para receber ucranianos e espero que seja uma mudança na forma como os refugiados em geral são vistos, venham da Ucrânia, Afeganistão, Síria, Mianmar ou de onde seja", sublinhou.
Rasmussen falava no simpósio de nomeados aos Óscares na categoria Melhor Filme de Animação, organizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em antecipação à cerimónia.
"Vemos o lado humano de alguém que precisa de ajuda e isso é muito importante para o Amin e a sua família", disse Rasmussen, frisando que eles sentem muitas vezes que os refugiados são definidos apenas como tal, refugiados. "Esperamos que as pessoas fiquem com um sentimento de ligação e vejam o poder de ouvir e partilhar, o quão humano isso é".
Na 94ª cerimónia dos Óscares, que regressará hoje ao Dolby Theatre, em Hollywood, "Flee - A Fuga" vai competir com vários pesos pesados do último ano da animação, começando pelo mais recente sucesso da Disney, "Encanto", considerado o favorito.
O realizador Jared Bush, que participou no simpósio, falou do "realismo mágico" que inspirou a história, centrada na Colômbia, e dos desafios de equilibrar a magia com a componente humana. "Todos tínhamos famílias grandes e disfuncionais e queríamos ver isso no grande ecrã", descreveu sobre o processo de criação dos Madrigal.
A produtora Yvette Merino, que se tornou a primeira latina nomeada para Melhor Filme de Animação em longa-metragem, contou como o processo de pesquisa foi profundo e rigoroso, apesar das dificuldades impostas pela pandemia.
"Há tanta diversidade na Colômbia, nas pessoas, na música, na comida e apaixonámo-nos pelo país", disse. "Quando a pandemia aconteceu sabíamos que tínhamos de mudar as coisas e criámos o Colombian Cultural Trust, um grupo de especialistas, botânicos, artistas, para garantir que tudo representava e celebrava o país".
O outro competidor pelo Óscar com a marca Disney é "Raya e o Último Dragão", que nas palavras do realizador Don Hall "é um filme inspirado nas muitas culturas do sudeste asiático" que acabou por espelhar o que estava a acontecer com o confinamento da covid-19.
"Apesar de este mundo estar estranhamente a refletir o que se passava no mundo real, no fim de contas é uma história sobre uma mulher que quer recuperar o seu pai", resumiu. "Teve uma experiência traumática quando confiou em alguém e deu errado, e custou-lhe o seu pai. Só o quer de volta", continuou. "Estamos sempre a voltar a essa história humana, e todos temos uma versão dessa história com que nos identificamos".
Também da Disney, mas vindo da Pixar, "Luca" de Enrico Casarosa é um dos nomeados ao Óscar, um filme que a produtora Andrea Warren disse ser "uma ode à Itália e aos amigos que mudam a nossa vida".
Situado na costa italiana algures entre os anos cinquenta e sessenta, "Luca" usa monstros do mar para contar uma história que fica entre o fim da idade da inocência e o despontar da independência.
A sua estética distinta foi algo em que Enrico Casarosa insistiu. "É um mundo de miúdos. Queríamos ser tão expressivos e brincalhões quanto possível", disse. "Por isso têm as bochechas vermelhas. Eu não queria algo que parecesse demasiado suave e perfeito".
A fechar o círculo de nomeados está "Os Mitchell Contra as Máquinas", um filme com que o realizador Mike Rianda quis prestar um tributo aos seus pais. "É algo muito pessoal, profundamente emocional", afirmou.
O filme da Sony, que a Netflix comprou no início do ano passado, pode ser a surpresa da noite dos Óscares, depois de ter vencido os prémios da Associação de Críticos a 13 de março.
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