Ricardo Neves-Neves explicou à agência Lusa que esta reposição vai "permitir a quem não assistiu ou queira rever a peça" o possa fazer e tomar contacto com a "temática local da procissão da Mãe Soberana" de Loulé, que todos os anos se realiza na cidade do distrito de Faro por ocasião da Páscoa.
"O espetáculo tem textos da Ana Lázaro, é encenado por mim, tem 16 atores em cena, com uma orquestra de 12 elementos a tocar ao vivo, e é um espetáculo já estreado em 2019, que correu muito bem, esteve sempre esgotado, e ficou a vontade de o voltarmos a fazer para chegarmos a mais pessoas", acrescentou o encenador.
Neves-Neves reconheceu que as três apresentações feitas em 2019 "souberam a pouco" e que a peça deveria "ter voltado em 2020, em 2021, mas com a [pandemia de] covid-19 foi sendo adiada", e agora vai pode voltar de novo à cena e permitir "a mais 300 espectadores assistirem à peça".
O encenador contou que o espetáculo "é um levantamento histórico do que a Mãe Soberana é e o que ela representa para a cidade de Loulé, os algarvios e as pessoas religiosas", mas "também diz muito do que é ser louletano e ser algarvio".
"O espetáculo tem um grande sentido de humor, a Ana Lázaro tem um humor muito refinado, e temos ali uma zona de leveza, de brincadeira, de falar sobre o ser humano, não só da crença, mas também do que é o símbolo da relação mãe e filho", acrescentou.
Ricardo Neves-Neves recordou que a peça tem um "episódio da despedida das mães e dos filhos que vão para a guerra de África, no século XX", e considerou que esta ação "das mães a pedirem à Mãe Soberana pelos filhos" pode agora ter "uma outra vibração, diferente da de 2019, por causa da guerra" na Ucrânia.
"O espetáculo é uma festa, é um festejo no palco que inclui também o espectador na plateia, porque estas tradições também têm a ver com a renovação, a primavera e a relação com as flores, que existe tanto na procissão como no palco", referiu ainda o encenador.
A peça "Soberana", que volta ao palco do Cineteatro louletano às 21:00 de 17 de abril, é baseada na história e no culto da Mãe Soberana, uma manifestação religiosa que remonta ao século XVI e acontece, anualmente, na altura da Páscoa, em honra da Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Loulé.
O espetáculo, que conta também com direção musical de Rita Nunes, surgiu na sequência de um convite da Câmara de Loulé dirigido à companhia Teatro do Elétrico para refletir uma temática local, depois de ter produzido "A Freguesia", que encerrou o programa comemorativo dos 100 anos da freguesia de Quarteira.
Esta celebração, conhecida como a maior manifestação religiosa a Sul de Fátima, atrai anualmente milhares de pessoas à cidade algarvia e é composta pela Festa Pequena, no domingo de Páscoa, em que a imagem da padroeira desce à cidade, e pela Festa Grande, duas semanas depois, em que os homens carregam o andor no sentido inverso, de regresso à ermida.
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