Mural 'Extravagante Retrato de Família' homenageia Agustina Bessa-Luís
Um mural artístico, intitulado "Para Agustina -- Extravagante Retrato de Família", com uma extensão de 120 metros, está a ser pintado na sede da CCDR-Norte, no Porto, por 13 artistas residentes ou com origem no Norte de Portugal.
© Estoril Sol
Cultura Agustina Bessa-Luís
"O mural estará concluído na quarta-feira, a ideia foi iniciá-lo, simbolicamente, na ocasião em que se cumprem 100 anos sobre o nascimento da escritora", disse hoje à agência Lusa o dirigente da CCDR-Norte nas áreas da cultura e Marketing Territorial, Jorge Sobrado.
A intervenção insere-se nas comemorações dos 100 anos de Agustina Bessa-Luís, que se assinalam no sábado, com um conjunto de exposições e música, em Amarante e no Porto, com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
"Trata-se de uma pintura mural que é um ato de homenagem, mas que é também uma declaração de amor. É tirar o seu legado das prateleiras, das estantes das bibliotecas e trazê-lo para a rua, escrevê-lo na paisagem urbana de uma das cidades de eleição de Agustina, como é o Porto", afirmou Jorge Sobrado.
A intervenção versa sobre personagens e narrativas simbólicas da obra de Agustina, de títulos como "A Sibila", "Os Incuráveis", "A Muralha", "As Pessoas Felizes", "As Fúrias", "Fanny Owen", "Dentes de Rato", "Os Meninos de Ouro", "Vale Abraão", "Prazer e Glória" ou "Estações da Vida", entre outros.
"É uma leitura livre, uma leitura artística de 13 criadores do Norte, sobre 13 obras de Agustina", sublinhou o dirigente da CCDR-Norte.
Há artistas de várias proveniências e cada um foi desafiado a interpretar uma cena, uma narrativa ou personagens da obra escolhida.
"Esse foi o desafio, foi colocar artistas a reler a obra de Agustina, a interpretá-la e a dar-lhe uma nova pele, neste caso, uma pele por via da imagem que é tecida no espaço urbano, trazendo ou retirando o legado literário de Agustina das estantes para a rua. E, de alguma forma, valorizando-o publicamente e também popularizando o seu nome", frisou Jorge Sobrado.
Sendo 13 artistas - um deles é a artista plástica e escritora Mónica Baldaque, filha de Agustina - procurou-se "uma unidade artística", ou seja, executar uma obra coletiva, com uma identidade comum.
"Respeita a liberdade, o traço, a gramática visual de cada artista e o seu trabalho específico sobre uma cena, uma narrativa ou um personagem, mas o conjunto fala como um todo, respira como um todo e tem uma unidade artística que é garantida com uma paleta de cores comum de 11 tonalidades", sustentou Jorge Sobrado.
Estas 11 tonalidades refletem também a paisagem e os lugares de Agustina.
"As cores refletem ambientes e lugares de Agustina que vão desde cidades como o Porto ou Vila do Conde ou Póvoa de Varzim e as suas paisagens até ao Vale do Douro", acrescentou.
A obra localiza-se no exterior do muro da CCDR-NORTE, na Via Panorâmica Edgar Cardoso, numa extensão de 120 metros (por dois metros de altura), compreendida entre a entrada principal da Faculdade de Letras e o cruzamento com a Rua do Campo Alegre.
Frederico Soares Campos (DRAW) é o curador artístico da intervenção, cuja conceção e coordenação geral são da responsabilidade de Jorge Sobrado.
A criação junta, além de Monica Baldaque, também os artistas FEDOR, Third, OKER, SPHIZA, CAVER, Fátima Bravo, GLAM, MADUZE, Daniel Africano, Pedro Podre, Mafalda Mendonça e Frederico DRAW.
Em declarações à Lusa, o curador artístico, Frederico Soares Campos, explicou que o seu trabalho foi "tentar encontrar 12 artistas ligados ao Norte e com registos diferentes para criar um certo ritmo".
"O desafio foi trazer não só pessoal que já tem currículo na arte urbana, mas também poder dar a oportunidade de criar aqui um registo diferente. Temos artistas ligado à pintura, à ilustração e ao design", disse.
Para o Presidente da CCDR-Norte, António Cunha, sendo esta "uma homenagem de uma instituição, em nome da região a partir da qual Agustina se abriu para o mundo, é também um ato de interpretação de artistas contemporâneos sobre o seu legado literário e cultural, profundamente nortenho".
Jorge Sobrado acrescentou ainda que "nesta iniciativa procurou-se inspiração no temperamento provocatório e desafiador que definia Agustina e que define a sua obra. Marcará também a imagem pública da CCDR-Norte, mais criativa e cultural".
Em declarações na terça-feira à Lusa, Fontaínha Fernandes, comissário das comemorações do centenário da escritora, disse que os principais eixos do programa, que arranca no sábado em Amarante e se prolonga até outubro de 2023, centram-se, em especial, no roteiro dedicado aos lugares de Agustina, que nasceu em Amarante, viveu no Porto e tem uma forte ligação ao Douro e ao Minho.
Entre as iniciativas programadas para sábado destaca-se também a estreia da peça de teatro "A Importância de ser Agustina Bessa-Luís", encenada por Miguel Bonneville.
Criada especialmente para o centenário de Agustina Bessa-Luís, a peça, que será exibida às 22:00 de sábado na RTP 2, apresenta em palco uma abordagem à condição social e cultural dos portugueses.
Este trabalho caracteriza-se pela "procura das raízes mais profundas do que é ser português através da caracterização que Bessa-Luís faz das personagens, em choque permanente com a sociedade em que vivem".
Com um estilo "absolutamente único e enigmático", a obra de Agustina Bessa-Luís destaca-se pelas "suas histórias intemporais numa busca pragmática de quem somos, sempre com personagens extremamente marcantes", refere a produção do espetáculo.
A sessão solene das comemorações está agendada para as 12:00 de sábado, em Amarante, com a presença anunciada do Presidente da República, na inauguração da exposição "Feminino, uma história ficcionada", que tem por base as palavras de Agustina Bessa-Luís "A mulher é uma criadora por natureza. A mulher é.", no livro "Dicionário Imperfeito".
A escritora nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e morreu a 03 de Junho de 2019, no Porto.
Na cidade do Porto, onde a escritora viveu, a abertura das cerimónias está marcada para as 18:00, em Serralves, também com a presença também do Presidente da República.
"Uma Exposição Escrita: Agustina Bessa-Luís e a Coleção de Serralves" visa promover, segundo os seus curadores António Preto e Ricardo Nicolau, "um diálogo entre textos de Agustina e obras da Coleção de Serralves".
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