O Dia do Pai é, para muitos, uma ferida aberta. Em meados de fevereiro, a sociedade desperta para a chegada desta data, comemorada em Portugal a 19 de março, lançando de forma quase ritualística anúncios, artigos e sugestões do que oferecer às figuras paternais.
Se muitos nem pensam no assunto, rejeitando a sua génese capitalista, que se afasta da associação a Jesus Cristo e a José, outros embarcam na busca pelo presente perfeito, que transmita o carinho que sentem pelo seu pai. Há ainda uma grande fatia da população que, quer pela perda ou pela ausência, fica remetida às margens, observando em surdina, e evitando cruzar o olhar com cartazes e promoções alusivas àquele dia.
Foi a pensar nesta última camada que o Notícias ao Minuto se propôs a compilar um conjunto de livros, tanto de ficção como de não ficção, que poderão dar algum conforto a quem se vê a braços com a dor, a perda e a ausência de um pai, numa sociedade que evita os sentimentos associados ao luto e ao vazio, preferindo acreditar na ilusão de que tudo ficará bem, independentemente das circunstâncias. Contudo, na vida, nem todos os finais são felizes.
Confira abaixo a lista curada pelo Notícias ao Minuto:
Notas sobre o Luto, Chimamanda Ngozi Adichie© D.R.
No dia 10 de junho de 2020, a vida de Chimamanda Ngozi Adichie mudou drasticamente. O seu pai, o académico James Nwoye Adichie, morreu subitamente, na Nigéria. Em 'Notas sobre o Luto', a autora faz um tributo à vida do pai, ao mesmo tempo que aborda uma das experiências humanas que tocará toda a gente: o luto. De forma crua e verdadeira, Chimamanda Ngozi Adichie partilha os efeitos devastadores da morte do pai, ao mesmo tempo que dá um vislumbre da sua história de vida.
You Are Not Alone, Cariad Lloyd © D.R.
Se gosta de ler em inglês, este é o livro para si. Em 'You Are Not Alone', Cariad Lloyd partilha tudo aquilo que aprendeu com o seu podcast, Griefcast, refletindo não só no seu próprio luto, mas também na psicologia e na ciência por detrás da forma como a sociedade ocidental encara a morte. Na verdade, a autora perdeu o pai aos 15 anos, numa altura em que a morte era (ainda mais) tabu. Só anos depois é que procurou compreender a ferida que orbitava o seu luto, criando um 'guia' para todos aqueles que, como ela, se sentem sozinhos, ou que pretendem ajudar quem lida com a dor de perder alguém que lhe é querido. A todos, a sua mensagem é simples: não estão sozinhos.
Está Tudo Bem Não Estar Tudo Bem. Como enfrentar o luto e a perda numa cultura que evita o sofrimento, Megan Devine© D.R.
Numa sociedade que procura ignorar a dor e trata o luto como uma doença que tem de ser curada o mais rapidamente possível, 'Está Tudo Bem Não Estar Tudo Bem' mostra que não há nada de errado em sentirmo-nos mal quando uma perda dolorosa ou um evento grave nos abala a vida. Na verdade, é mais do que normal. Depois de ter testemunhado o afogamento acidental do seu companheiro, a terapeuta Megan Devine encoraja-nos a encarar o luto como uma resposta natural à morte e à perda, em vez de uma condição anómala que tem de ser resolvida. Assim, a autora aborda a dor que as pessoas enlutadas carregam ao serem julgadas, despedidas ou mal-entendidas, e contesta a ideia de que se deve regressar o mais rapidamente possível a uma vida 'normal' e 'feliz', propondo um caminho intermédio, que convida a andar lado a lado com a dor.
Amanhã a Esta Hora, Emma Straub© D.R.
Ao adormecer à porta da sua casa de infância, na noite anterior ao seu quadragésimo aniversário, Alice não poderia adivinhar que acordaria em 1996, com 16 anos. O seu pai, que está doente numa cama de hospital, surgiu-lhe, para sua surpresa, muito mais novo. Terá viajado no tempo para corrigir algum erro? Ou para se reconectar com o pai, cuja voz temia nunca mais ouvir? Como é que a sua vida passou a correr, sem que desse por isso? Perante várias perspetivas daquilo que poderia ter sido a sua realidade, Alice atribui um novo significado à sua vida, procurando perceber as consequências das suas decisões, ao mesmo tempo que tenta salvar o pai.
Princípio de Karenina, Afonso Cruz© D.R.
"Um pai que ergue muros de silêncio, uma mãe que revela as costuras do mundo, uma criada velhíssima, um amigo que quer ser campeão de luta, uma amante que carrega sabores e perfumes proibidos." É desta forma que 'Princípio de Karenina' é descrito, naquela que é a procura do amor mais incondicional de um pai a uma filha. Esta trama de Afonso Cruz vai até aos confins do mundo, ao Vietname e Camboja, e até ao território que antigamente se designava como Cochinchina, em busca da felicidade.
O Livro da Forma e do Vazio, Ruth Ozeki
© D.R.
Um ano após a morte do pai, Benny Oh, de 13 anos, começa a ouvir vozes. Inicialmente, estas vozes pertencem às coisas que tem em casa, como roupa, enfeites da Natal, e comida. Benny consegue não só sentir o seu tom, mas também as emoções, percebendo que umas estão felizes, e outras carregadas de sofrimento. Entre a viuvez, as dificuldades financeiras, e uma tendência para comprar e guardar coisas de que não precisa, a mãe de Benny acaba por intensificar as vozes que perturbam o filho, cada vez mais altas e intrusivas. Na verdade, as vozes começam a segui-lo para fora de casa, conduzindo-o ao refúgio da biblioteca pública, onde os objetos são mais educados, e respeitam o silêncio. Benny descobre também o seu próprio Livro, que o ensina a ouvir o que realmente importa e a encontrar a sua própria voz na inevitável dureza do caminho.
As Coisas Que Faltam, Rita da Nova© D.R.
"Esta ideia de que havia uma espécie de fio invisível a ligar as filhas aos pais fez sentido. Havia algo que me impelia a procurar o meu pai, a agarrar esse fio e a puxá-lo, até conseguir aproximá-lo de mim." 'As Coisas que Faltam' conta a história de Ana Luís, que cresce a sentir que lhe falta algo e que não pertence a lado nenhum. A convivência com a mãe, uma mulher fria e dominadora, aprisiona-a num lugar solitário, sendo na figura do pai, que não conhece, que deposita todas as suas esperanças. Na sua ótica, é ele a peça do puzzle que falta e, quando o conhecer, a sua vida vai finalmente fazer sentido. Neste romance de estreia, a autora explora a complexidade da identidade humana, a importância do círculo familiar e as histórias que se repetem, por vezes, de geração em geração.
Conversas sobre o Amor. Namoros - Encontros - Família - Amigos - Desfechos - Inícios, Natasha Lunn© D.R.
Ao fim de anos a sentir que o amor era algo que não conseguiria alcançar, a jornalista Natasha Lunn propôs-se a entender como é que os relacionamentos funcionam e como evoluem ao longo da vida, com a ajuda de autores e de especialistas, para responder às questões: "Como encontramos o amor?", "Como o sustentamos?" e "Como sobrevivemos quando o perdemos?". 'Conversas sobre o Amor' aborda, assim, a vulnerabilidade, a solidão da perda, a paternidade, as expetativas irreais, entre muitos outros temas, criando uma 'Bíblia' sobre o amor.
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