"Sinto-me honrado por receber este prémio e lamento não poder estar em Paris para o receber, porque tenho de ficar com as equipas a preparar a próxima edição do Festival d'Avignon", escreveu Tiago Rodrigues na sua página de Facebook, referindo que o galardão foi entregue na segunda-feira à noite.
O dramaturgo agradeceu não só ao júri da premiação e ao Sindicato Crítico Profissional, mas também ao Teatro Nacional D. Maria II e à sua equipa, que produziu este espetáculo, agora transmitido pelo Festival d'Avignon.
Tiago Rodrigues estendeu os agradecimentos também aos teatros e festivais que coproduziram e apresentaram a peça, especialmente em França, e a toda a equipa artística e técnica da peça "pela confiança, coragem e talento".
"Com esta equipa, vivi e continuo a viver uma aventura onde as transgressões, perturbações e complexidades oferecidas no palco são perfeitamente compatíveis com grande gentileza nos bastidores e respeito pela dignidade de todos e todos que contribuem para a criação de um espetáculo", enalteceu o encenador.
"Tentamos encenar distopia para manter a possibilidade de utopia nas nossas vidas. Tentamos encenar pessimismo, violência, medo, para manter o otimismo, o amor e a coragem em nossas vidas", acrescenta.
A peça "Catarina e a beleza de matar fascistas", que no final deste mês encerra a Bienal de Teatro de Veneza, teve estreia em setembro de 2020, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e está atualmente em digressão pela Europa.
A história centra-se numa família que tem por tradição matar fascistas, ritual que a mais nova de todos, Catarina, se recusa a cumprir. Catarina argumenta que todas as vidas devem ser defendidas, sendo necessário falar e entender aqueles que acabam por votar na extrema-direita, não sendo fascistas.
O espetáculo culmina com um longo monólogo do dirigente de extrema-direita, que entretanto alcança maioria absoluta e conquista o poder.
A peça de Tiago Rodrigues -- atualmente diretor do Festival francês de Avignon -- venceu em 2022 o Prémio Ubu de melhor espetáculo estrangeiro de teatro em Itália.
Em Roma, a sua estreia foi acompanhada de protestos de forças de extrema-direita, com um deputado do partido Irmãos de Itália (Fratelli d'Italia, agora no Governo), Federico Mollicone, a pedir que o espetáculo fosse retirado do cartaz.
Em setembro passado, numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e a Escola Superior de Comunicação Social, Tiago Rodrigues afirmava que a peça termina daquela forma "porque é uma tragédia".
"Ali o que acontece é a vitória da extrema-direita pela incapacidade, a impossibilidade de uma democracia, naquele caso uma família que quer defender a democracia pela violência e mesmo assim é incapaz de impedir a vitória de um discurso fascista e antidemocrático", disse.
"O discurso é tão insuportável, tão provocatório que o público não pode senão reagir", prosseguiu Tiago Rodrigues, na mesma entrevista, recordando reações diversas, em diferentes palcos: "Em Portugal, têm cantado a 'Grândola', em Itália, a 'Bella Ciao', em Viena, o público levantou-se. Ver esses públicos reagir é algo que me devolve confiança, mas ao mesmo tempo preocupa-me que o público tão facilmente se revolte contra um ator".
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