É uma ópera cómica de 1797 do compositor português Marcos Portugal (1762-1830), com texto de Giuseppe Foppa (1760 -- 1845).
Ricardo Bernardes, diretor musical, destacou que é a primeira vez que se apresenta esta ópera na versão portuguesa, já que originalmente foi escrita em italiano, como era típico da época.
"É a primeira vez que se faz uma ópera de Marcos Portugal, qualquer que seja, com uma orquestra de instrumentos históricos, de época, e que tem uma sonoridade muito especial e muito diferente da sonoridade de uma orquestra tradicional", acrescentou ainda o maestro.
Interpretada pela Orquestra Barroca da Casa de Mateus, a peça conta com seis cantores portugueses, brasileiros e um colombiano.
"A ideia era termos os vários tipos de falar português em palco", salientou Ricardo Bernardes.
O espetáculo é gratuito, estreia-se na sexta-feira, no Teatro Municipal de Vila Real, e foi preparado durante uma residência artística no Palácio de Mateus.
"É um trabalho muito concentrado, muito cansativo, muito desafiador, mas também, ao mesmo tempo, uma oportunidade única", apontou o maestro brasileiro.
O espetáculo é composto por seis personagens e uma orquestra clássica completa, num total de 35 pessoas.
"É uma histórica muito divertida, é uma história típica do final do século XVIII. Damas trocadas porque elas trocam de corpo, o que gera situações muito cómicas", apontou Ricardo Bernardes.
Para o encenador argentino Nicolás Isasi, o projeto foi "um desafio muito interessante e importante". Esta, destacou, é a primeira vez que dirige uma "ópera em português".
E esta é também, segundo Teresa Albuquerque, diretora da Fundação da Casa de Mateus, a primeira vez que a instituição produz uma ópera, destacando que era uma ambição "muito antiga que se tornou possível este ano graças ao apoio da Direção-Geral das Artes [DGartes]".
A cómica farsa do período italiano de Marcos Portugal, com título original de "Le donne cambiate" ("As damas trocadas") estreou-se em Veneza em 1797, com mais de 52 récitas.
A ópera atingiu "grande sucesso" na sua época, sendo representada em Paris, Londres, Madrid, Dresden e em Lisboa, no Teatro de São Carlos (1804), para além de uma representação não datada no Rio de Janeiro.
Marcos Portugal é considerado um dos "mais famosos compositores luso-brasileiros de todos os tempos", compôs mais de vinte óperas em estilo italiano, principalmente óperas bufas e farsas.
O compositor e organista, nascido em 1762, formou-se no Seminário da Patriarcal de Lisboa, onde estudou com Joa~o de Sousa Carvalho, e destacou-se na Europa do século XVIII, sobretudo na produção operática e na música sacra.
Foi organista da Igreja da Patriarcal, em Lisboa, compôs para a corte de Maria I e dirigiu o antigo Teatro do Salitre, antes de partir para Itália, em 1792, onde permaneceu quase uma década, destacando-se nos principais palcos internacionais, de Nápoles e Milão, a São Petersburgo, onde foi representado.
No regresso à capital portuguesa, dirigiu o Real Teatro de S. Carlos. Quando das invasões francesas, em 1808, acompanhou a corte para o Brasil, onde permaneceu após a independência do país, vindo a morrer em 1830.
A sua produção, entre óperas, obras sacras, serenatas e modinhas soma mais de 140 títulos.
"As damas trocadas" é a segunda incursão da Orquestra Barroca de Mateus pelo repertório operático, depois do recital "Setaro, construtor de utopias", apresentado em 2018, em colaboração com a Ópera da Corunha.
A nova produção é uma coprodução da Fundação da Casa de Mateus e do Teatro de Vila Real, com o apoio do Ministério da Cultura, DGArtes e do município de Vila Real.
A Fundação Casa de Mateus promove em 2023, segundo Teresa Albuquerque, um "vasto programa cultural", com cerca de 80 eventos que cruzam a música, literatura, dança e a divulgação científica.
O programa estende-se a 2024 e conta com um apoio financeiro bienal de 600 mil euros por parte da DGArtes.
O palácio de Mateus, finalizado em 1744 e reconhecido como monumento nacional desde 1910, é também a principal atração turística de Vila Real.
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