Cristina Branco aprofunda relação com o fado tradicional no novo disco
A intérprete Cristina Branco afirmou que o seu novo álbum, "Mãe", a sair na próxima sexta-feira, aprofunda a sua relação com o fado tradicional, "definindo" a sua própria sonoridade.
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Cultura Fado
O álbum sucede à trilogia formada pelos álbuns "Menino" (2016), "Branco" (2018) e "Eva" (2020), e é constituído por sete fados com poemas de Lídia Jorge, David Mourão-Ferreira, Fernando Pessoa e Manuela de Freitas, entre outros.
Em declarações à agência Lusa, a intérprete afirmou que "é notório" que está mais próxima do "fado sem nunca ter estado longe" dele. "Este é o momento de, finalmente, me debruçar mais sobre o fado tradicional e como eu e os meus músicos o vemos, como a nossa linguagem chega ao fado tradicional".
"Sempre fiz fado tradicional e nunca me senti longe dele", enfatizou a intérprete que considera que este disco "define mais" a sua sonoridade.
"Para mim é importante ir à origem, mas depois partir dessa origem e ir para algo mais próximo de mim, que me é mais familiar", disse.
Este novo álbum inclui, com arranjos, temas tradicionais como o Fado Cravo, de Alfredo Marceneiro, Fado Santa Luzia, de Armando Machado, Fado Rosita, de Joaquim Campos, ou o Fado Carriche, de Raul Ferrão, a par de novas melodias.
Cristina Branco, na construção deste álbum, projetou, num primeiro momento, recuperar os jovens que escreveram para a trilogia, mas depois decidiu "voltar aos cartapácios" e procurar aqueles "poemas que dão aquele peso ao fado".
Com uma carreira de 26 anos, Cristina Branco disse que sempre procurou os poemas que queria cantar.
"Comecei pelo David Mourão-Ferreira [1927-1996] que é uma espécie de santo do meu altar fadista", contou. De David Mourão-Ferreira, canta "Noite Apressada" com música de Luís Figueiredo.
Cristina Branco realçou que "nem todas são palavras para o fado, pode-se respeitar a prosódia e a fonética, e pode-se até fazer uma rima, mas o fado tem uma característica especial".
"Escrever para o fado é diferente, qualquer um acha que qualquer um de nós pode, num rasgo, escrever para o fado, mas isso não é verdade. O fado tem uma linguagem especial, exige densidade, é quase uma magia, nem todas as palavras servem ao fado; há qualquer coisa de etéreo e misterioso nas palavras do fado, nem todas as palavras lhe servem, de facto", asseverou.
O autor seguinte foi Lídia Jorge que tinha escrito "Senhora do Mar Redondo" para o álbum "Menina". "Na altura pedi-lhe para escrever para o Fado Menor, mas fiz-lhe uma pequena adaptação para o cantar no Fado Cravo", disse Cristina Branco à Lusa.
O tema abre o álbum, cujo alinhamento inclui "Folha em Branco" (Teresinha Landeiro/Fado Rosita). Landeiro assina ainda dois outros temas, sendo a autora mais representada neste álbum: "Liberdade", gravado no Fado Alexandrino Estoril, de Armando Freire, e "Passos Certos", gravado no Fado Doca de Belém, de Cristina Branco e Bernardo Couto.
"Tudo o que gravei tem a ver comigo, nem podia ser de outra maneira, tenho de sentir, de estar dentro do que canto, tenho de perceber", sublinhou a fadista acrescentando que "tem de haver qualquer coisa da minha experiência, da minha busca naquilo que canto".
Referindo-se a este disco como "uma enormíssima lição de humildade" para si, sobre o título do álbum, "Mãe", Cristina Branco afirmou: "Mãe é a música, foi aquilo que me acolheu, o meu porto seguro, um regaço, o início da minha civilização".
Outra poeta escolhida, também fadista, é Aldina Duarte, com quem há muito Cristina Branco queria trabalhar. "Fado de Uma Mulher Feliz Sozinha" é o poema de Aldina, que Cristina Branco interpreta no Fado Santa Luzia.
De Natália Correia (1913-1993), a fadista gravou "Rio de Nuvens" no Fado Carriche. De Manuela de Freitas gravou "Essa Tristeza", e com uma música do guitarrista Bernardo Couto, de Fernando Pessoa (1888-1935) gravou "Este e o Outro", no Fado Moreira, de Bernardo Moreira.
Cristina Branco está a apresentar este álbum na sua digressão, tendo já cantado temas em Rabat, no início deste mês. Em território nacional estreia "Mãe", em Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva, a 21 de outubro.
Entretanto, a fadista tem previsto atuações, na próxima terça-feira, no Teatro Savoy, em Helsínquia, e, ainda na Finlândia, em Tampere, no dia seguinte, no Tullikamari. Nos dias 29 e 30, sobe ao palco do Teatro Vitória, em Malmö, na Suécia.
No dia 21 de outubro, estará em Leiria, seguindo para o arquipélago espanhol das Canárias, onde canta no dia 28 de outubro, no Espaço Cultural Caja Canarias, em Santa Cruz, na ilha de Tenerife.
No dia 30 de outubro atua na Casa da Música, no Porto, e, no dia 21 de dezembro, no Algarve, em Lagoa, no Auditório Carlos do Carmo.
Para o próximo ano, tem já agendada, em janeiro, uma atuação em Hamburgo, na Alemanha.
No dia 2 de fevereiro, sobe ao palco do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no âmbito do ciclo "Há Fado no Cais".
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