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Ucrânia. Realizador que documentou guerra diz que Portugal não está imune

O realizador Evgenyy Afineevsky, cujo documentário 'Liberdade em Chamas' acaba de chegar às plataformas de vídeo, avisa que Portugal não está imune à guerra e que os elementos de propaganda usados na invasão da Ucrânia estão a espalhar-se.

Ucrânia. Realizador que documentou guerra diz que Portugal não está imune
Notícias ao Minuto

07:16 - 13/12/23 por Lusa

Cultura Ucrânia/Rússia

"Temos de entender que hoje a guerra está em todo o lado", afirma o realizador em entrevista à agência Lusa.

"E se pensam que Portugal ou qualquer outro país da União Europeia (UE) está imune, nada disso", alerta.

À Lusa, Afineevsky, que nasceu em Cazã, Rússia, quando ainda existia a União Soviética, afirma que a "máquina de propaganda e mentiras está em todo o lado" e não precisa de um visto para entrar no espaço europeu de livre circulação Schengen. 

"A propaganda é uma arma de destruição maciça", considera, frisando: "Pode fazer lavagens cerebrais, dividir países, enfraquecer e derrubar Governos". 

O realizador, que em 2015 foi nomeado aos Óscares pelo documentário 'Inverno em Chamas: A Luta pela Liberdade da Ucrânia' e agora voltou ao terreno para documentar a invasão russa em larga escala do país, iniciada em fevereiro de 2022, identifica a guerra em curso no solo ucraniano como híbrida. 

"Para mim, esta guerra específica não é só sobre bombas, 'drones' como novas armas sofisticadas e mísseis", afirma.

"Esta é a guerra híbrida, em que de um lado temos as armas letais, mísseis, minas terrestres e 'drones' e as outras armas sofisticadas do século XXI", prossegue.

"Mas por outro lado, temos os 'media'. Temos as câmaras que foram transformadas em armas", destaca.

Um grande foco deste novo documentário de Afineevsky é colocado nos jornalistas que têm arriscado a vida para reportar o que está a acontecer na Ucrânia. 

"Desde o início da invasão em larga escala e especificamente de março a abril de 2022, vi o maior número de mortes entre jornalistas, cineastas, fotojornalistas e todos os que estão a lutar no terreno pela verdade", salienta. 

O documentário também se debruça sobre os civis - mulheres, crianças, idosos, pessoas apanhadas numa invasão mortífera com destruição generalizada. 

"Queria trazer estas vozes que nem sempre são ouvidas, porque quando mostramos histórias de guerra são os soldados na linha da frente", explica Afineevsky. 

"Era importante trazer o lado humano da nação ucraniana, o lado humano desta guerra", diz.

O documentário chega à Apple TV+, Amazon e outras plataformas numa altura em que as atenções do mundo se viraram para o conflito Israel-Hamas, há um esmorecimento do apoio internacional e o Congresso norte-americano está num impasse quanto à aprovação de mais ajuda financeira e militar para a Ucrânia.

É algo que Afineevsky critica, considerando que o motivo pelo qual o Presidente russo, Vladimir Putin, invadiu a Ucrânia em 2022 foi o início da guerra ter sido ignorado em 2014, ano em que Moscovo anexou a península ucraniana da Crimeia.

"O mundo negligenciou os factos desta guerra e os crimes de guerra não foram punidos", diz.

"Foi o que permitiu a Putin escalar para uma invasão total", acrescenta.  

Frisando que a guerra dura "há dez anos" e começou com a anexação da Crimeia, o cineasta deixa outro alerta: "Se agora começarmos a esquecer esta guerra, qual será a próxima escalada?", questiona. 

"Eu chamo-lhe o início da III Guerra Mundial", vaticina.  

Se Donald Trump regressar à Casa Branca em 2025 ou o Congresso bloquear a ajuda financeira à Ucrânia, Afineevsky diz que o povo ucraniano não se dará por vencido. 

"De uma forma ou de outra, a Ucrânia vai lutar pela sua pátria. Não vão desistir, com ou sem a nossa ajuda", afirma.

"A questão é se os vamos ajudar, salvar vidas inocentes e tornar esta vitória mais rápida", refere.  

O cineasta, agora um cidadão americano, espera que "qualquer Presidente" que vá para a Casa Branca em 2025 (após as presidenciais agendadas para novembro de 2024) perceba que os ucranianos "estão a lutar pelo resto do mundo".

Considera ainda importante que os aliados não ignorem o conflito e o poder da propaganda. 

"É importante aprender que, não interessa onde vivem, não estão protegidos", alerta.

"A guerra pode entrar nas vossas casas (...) com os cenários tradicionais de dividir pessoas. São ferramentas que já foram usadas no passado e podem ser operadas em qualquer país", argumenta.

"É uma grande lição para o Governo português, para os políticos em Portugal, para as pessoas -- aprenderem e recordarem que temos um inimigo, a Ucrânia está a lutar contra ele e todos precisamos de paz para os nossos filhos", conclui.

'Liberdade em Chamas' é um documentário que sucede a 'Inverno em Chamas' (2015), este último sobre a revolta de Maidan (que implicou a queda do Presidente "pró-russo" Viktor Ianukovitch em fevereiro de 2014, que três meses antes tinha renunciado a um acordo de associação com a UE) e o início da guerra em 2014, no leste ucraniano.

O novo documentário conta com imagens inéditas e entrevistas exclusivas no terreno com as vítimas da invasão russa iniciada em 24 de fevereiro de 2022, em vários pontos da Ucrânia, e pretende retratar os ucranianos não como vítimas mas como heróis da resistência. 

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