A música que vai representar Israel na 68.ª edição do Festival Eurovisão da Canção está a ser "analisada" pela União Europeia de Radiodifusão (UER), que organiza o concurso. Em causa está o facto de fazer referências ao ataque do Hamas de 7 de outubro.
A letra da música, intitulada 'October Rain' ['Chuva de Outubro', em português] e cantada por Eden Golan, inclui os versos "já não há ar para respirar" e "eram todos bons miúdos, cada um deles", numa aparente alusão aos jovens que foram mortos por militantes do grupo islamita Hamas num festival de música.
Há ainda referência a "flores", que, de acordo com o jornal Israel Hayom, é um código militar para os soldados mortos das Forças de Defesa de Israel (IDF).
"A UER está atualmente a analisar as letras das canções, um processo que é confidencial entre a UER e o organismo de radiodifusão até ser tomada uma decisão final", adiantou um porta-voz da organização, citado pelo The Guardian.
"Todos os organismos de radiodifusão têm até 11 de março para apresentar formalmente as suas candidaturas. Se uma canção for considerada inaceitável por qualquer razão, os organismos de radiodifusão têm a oportunidade de apresentar uma nova canção ou uma nova letra, de acordo com as regras do concurso".
À agência de notícias Reuters, a emissora estatal israelita Kan confirmou que a letra da música divulgada pela comunicação social do país estava correta e adiantou que estava em "conversações" com a UER.
Já o ministro da cultura israelita, Miki Zohar, considerou que seria "escandaloso" desqualificar a canção, que afirmou não ser política. "A música de Israel, que será interpretada por Eden Golan, é uma música comovente, que expressa os sentimentos do povo e do país nos dias de hoje, e não é política", afirmou na rede social X.
כוונת איגוד השידור האירופי לפסול את השיר הישראלי לאירוויזיון - שערורייתית.
— Miki Zohar מיקי זוהר (@zoharm7) February 21, 2024
השיר של ישראל אותו תבצע עדן גולן הוא שיר מרגש, שמביא לידי ביטוי את רחשי העם והמדינה בימים אלה, ואינו פוליטי.
"Todos nós esperamos que a Eurovisão continue a ser um evento musical e cultural e não uma arena política - onde os países participantes podem trazer a sua singularidade e nacionalismo para o palco através da música. Apelo à União Europeia de Radiodifusão para que continue a agir de forma profissional e neutra e não deixe que a política afete a arte", acrescentou.
A participação de Israel na Eurovisão, que este ano se realiza em Malmo, na Suécia, entre os dias 7 e 11 de maio, tem sido alvo de críticas, com vários artistas europeus a pedir a expulsão do país do Médio Oriente - algo que a organização do evento se tem recusado a fazer - devido à corrente ofensiva na Faixa de Gaza.
Por outro lado, mais de 400 celebridades e executivos da indústria de cinema de Hollywood assinaram uma carta aberta a defender a participação de Israel, considerando que a "atual ronda de combates não é uma guerra que Israel quisesse ou tenha começado" e punir o país "seria uma inversão da justiça".
Após o anúncio de que Israel iria participar no certame, a União Europeia de Radiodifusão (UER) defendeu que "o Festival Eurovisão da Canção é um concurso para as emissoras públicas de toda a Europa e do Médio Oriente". "É um concurso para as emissoras - não para governos - e a emissora pública israelita participa no concurso há 50 anos", reiterou.
O país do Médio Oriente, recorde-se, estreou-se no festival europeu em 1973, uma vez que, segundo as normas do concurso, todos os membros ativos da União Europeia da Radiodifusão - ou seja, que façam parte da Área Europeia de Radiodifusão e que pertençam ao Conselho da Europa - podem participar. Desde então, já venceu quatro vezes: em 1978, 1979, 1998 e 2018.
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