"Estamos a levar-nos muito a sério. Não só na comédia, mas na vida"

O humorista Fábio Porchat é o convidado desta quinta-feira do Vozes ao Minuto.

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© Davi Nascimento

Teresa Banha
26/09/2024 07:29 ‧ 26/09/2024 por Teresa Banha

Cultura

Fábio Porchat

Fábio Porchat volta a estar em frente ao público português no sábado com 'Histórias do Porchat' - espetáculo que estreou por cá em 2022, mas que promete trazer novas histórias e 'costuras' na comédia do humorista, que, para subir ao palco, se inspirou nas suas viagens e "no que deu errado".

 

Com uma digressão que se inicia no dia 28 e tem data marcada para terminar a 2 de novembro, o ator falou com o Notícias ao Minuto - não só sobre o espetáculo, como também sobre os seus limites para o humor ou o encontro com o Papa Francisco, que foi uma estreia no Vaticano este ano.

Porchat falou ainda sobre o seu processo criativo, assim como sobre o "egoísmo" que é notório no mundo da comédia - e na "patrulha" das redes sociais.

Um apaixonado pelas aldeias portuguesas, Fábio Porchat revela ainda que gostava de fazer o programa 'Que História É Essa, Porchat?', transmitida no Brasil, e que não gostaria de ficar pelo 'stand-up' no que diz respeito às suas viagens - gostava também de escrever um livro.

É uma piada a cada dez segundos - a ideia é uma metralhadora de piadas.

O que pode esperar do espetáculo quem o vai ver pela primeira vez?

O meu solo de 'stand-up' fala sobre as minhas viagens. Eu adoro viajar, é aquilo que eu mais gosto de fazer na vida. Gosto muito de viajar pelo Brasil e pelo mundo e, obviamente, que as viagens que vão dando errado, as coisas que não vão dando muito certo, são as coisas mais engraçadas, não é? Rimos daquilo que dá errado.

Quando eu comecei a pensar num show [espetáculo] novo de 'stand-up', comecei a pensar: que histórias tenho? Divertidas e tal... Fui vendo que eram histórias em lugares, coisas curiosas. Como, por exemplo, quando um gorila veio na minha direção batendo no peito quando eu estava no Ruanda. Um hipopótamo que parou, ficou frente a frente comigo, todo o mundo saiu correndo e só eu é que fiquei parado. Eu fui gostando dessas histórias e vi que elas podiam ser não só histórias que eu contava para os meus amigos, como podiam ser 'stand-up'. Comecei a fazer essa 'costura' entre elas e acabei nas 'Histórias do Porchat'. No programa ['Que História é Essa, Porchat?'],  de vez em quando eu conto uma história minha, mas, de um modo geral, as pessoas é que contam histórias – então eu resolvi fazer um outro programa, uma peça, onde só eu conto as minhas histórias. Chegámos a fazer até uma cronometragem. É uma piada a cada dez segundos - a ideia é uma metralhadora de piadas.

E qual foi o 'momento Eureka' em que percebeu que havia matéria para fazer um espetáculo?

Fui vendo as histórias que eu contava na mesa de bar e que as pessoas davam risada. Já via que tinha assim umas três ou quatro histórias preferidas dos meus amigos. [Estavam] sempre a dizer: 'Conta aquela'. Tanto é que tem histórias na peça que eu nem achei que era bom de contar. Eu falei: 'Ah, essa história é só legal [fixe] para contar no bar. Não é legal como 'stand-up'' E a pessoa: 'Não! Você precisa contar essa história. Essa história é muito engraçada'. E aí eu falei: 'Deixa eu ver e tal. Comecei a escrever e acabou virando texto de 'stand-up'.

Talvez o 'momento Eureka' foi quando me dei conta de que tinha ali dez histórias. Fui meio fazendo um resumo. Escrevi uma, escrevi outra, e falei: 'Espera aí, tenho dez histórias. Dez histórias rende um negócio'.

Estreei esta peça em Portugal em 2022, mas diria que era 50% do que está hoje. Fui acrescentando novas histórias, criando novos momentos, tirando algumas coisas, limpando um pouco. Diria que quem assistiu em 2022 pode voltar porque tem muita coisa nova. Faço o mesmo show no Brasil e em Portugal - a única diferença é de 5% porque eu tiro algumas referências que são coisas muito específicas, por exemplo, personalidades brasileiras que em Portugal não fariam muito sentido. Acabo limpando um pouquinho o show nesse sentido, mas, justamente por isso, acabo colocando umas coisinhas novas em Portugal.

Já pensou em escrever um livro com estas histórias ou vai ficar pelo 'stand-up'?

A verdade é que pensei, mas o problema é o tempo. Já me propuseram lançar o meu 'stand-up' em livro: 'Ah, pega essa [história] aí e coloca'. Mas isso interessa-me menos. Acho que seria melhor se transformasse isso em crónicas. Aí eu acho que poderia ser mais legal como leitura mesmo. Porque o 'stand-up' lido é uma coisa -  fazer como um livro de crónicas, de viagens, é outra. Quero muito fazer isso, o problema é tempo.

Já houve alguma história que não funcionou e isso o surpreendeu ou esse 'ensaio' à mesa de bar resulta sempre?

Normalmente, no início, quando você começa a contar a história, ela ainda está meio se desenvolvendo. Ela ainda não tem tantos 'punchlines' [conclusão cómica]. Vamos entendendo por onde o público gosta, de que se ri o público. Então, por exemplo, toda a parte que eu conto de Amesterdão, provando um bolinho daqueles especiais, eu contei a primeira vez já no Brasil, não tinha contado ainda em Portugal. Contei meio de improviso, numa história que eu gostava de contar e aí eu fui vendo que funcionava e que as pessoas iam gostando. Então parei, sentei e escrevi - porque gosto de escrever o texto. Há comediantes que sobem no palco, improvisam e vão. Eu gosto de escrever o texto. Aí, primeiro improvisei para ver se dava certo. Quando eu vi que as pessoas gostavam, comecei a 'limpar'. Mas, no final da peça, quando estou a conversar com a plateia, conto umas que são mais curiosas do que engraçadas. Deixo as engraçadas para o show de 'stand-up' em si.

É que fazer uma piada com negro é diferente de ser racista. Ser racista é crime. Você pode fazer piada com mulher, com gay, com gordo? Pode. O que não pode é ser homofóbico

Tendo em conta as agressões que se têm registado em espetáculos  - com alguns temas que são mais criticados quando usados para 'stand-up', como a sexualidade, por exemplo -, qual acha que é o maior desafio para um humorista hoje em dia?

Acho que o desafio hoje - não só do comediante, mas de qualquer pessoa na sociedade - é estar inserido dentro do seu tempo. Abandonar as ideias velhas e os velhos conceitos, entender o que está a ser falado ou para onde estamos a olhar. Acho que temos sempre que olhar para a frente – o comediante, mas também o publicitário, o médico e o jornalista.

Há uma série de coisas que se fazia lá atrás e não se fazem hoje - e ainda bem. Porque, realmente, às vezes vemos um filme ou série e falamos: 'Meu Deus, como é que uma pessoa falava uma coisa dessas?' É claro que o pêndulo moral, que, com razão, passou a determinar que 'não dá mais para fazer piadas desse tipo', também comete exageros. Poder, pode-se falar sobre tudo. É que fazer uma piada com negro é diferente de ser racista. Ser racista é crime. Você pode fazer piada com mulher, com gay, com gordo? Pode. O que não pode é ser homofóbico. Se você incentiva ódio, violência, se está sendo 'apenas' preconceituoso... está a ir contra uma corrida do tempo, um desenvolvimento da sociedade.

Então, quando eu ouço comediantes a dizer que queriam fazer aquela piada e não sei quem fazia lá em 1992 eu penso: 'Que coisa mais triste, querer fazer uma piada que foi feita em 1992'. Faça uma piada que ainda não foi feita nem em 2024. Tente aprimorar-se, fazer uma com outro olhar. E depois há uma patrulha nas redes sociais, onde as pessoas estão mais como juízes do que como espetadores – o que é muito triste.

Porquê?

As pessoas ficam numa luta moral para mostrar quem está mais certo, quem consegue detetar alguma coisa na fala de alguém que pode ser colocada [em causa]… E eu não estou a falar aqui de uma pessoa que incentiva o nazismo ou que é a favor de expulsar os imigrantes do mundo. Não estou a ir por esse caminho. Estou a ir pelo caminho de brincar, de rir. A comédia em si é ridicularizar, é desrespeitar, é sacudir com o 'status quo' que está a acontecer. E isso incomoda. Ainda mais hoje em dia, que as pessoas estão um pouco pré-ofendidas, tensas ou nervosas e se querem apoiar num lugar para dizer: 'Olha o que estão a fazer comigo!'

Acho que a maior dificuldade hoje é conseguirmos também superar essa onda que vem das redes sociais. Em 1998, quando se fazia uma piada, não se perguntava para a D. Neusa do 415 o que é que ela achava. Hoje, a D. Neusa do 415 tem uma opinião e fala como o Barack Obama. Fica-se um pouco refém. Não se quer saber da opinião do Claudinho que tem 15 anos e fica nos videojogos. Não quero saber da opinião, quero que ele se ria. Se gostou ou não, está tudo bem. Mas, hoje em dia, ele mobiliza uma gente para dizer:'Você é horrível'.

Acho que estamos a viver um momento em que ainda estamos a acreditar na sociedade virtual. Ainda achamos que a sociedade virtual é uma realidade. Quando já entendemos que a sociedade virtual é mais agressiva, mais ignorante, mais aflita e quer atenção. Isso aconteceu-me recentemente.

Como?

Um cara [homem] me xingou [injuriou] na internet. Mas xingou bravo. Aí, eu mandei uma mensagem a perguntar-lhe porque é que ele estava tão bravo. E ele: 'Fábio, eu adoro-te. Sou muito fã'. É o jeito que ele encontrou de chamar a atenção. É a forma que as pessoas carentes têm de se sentirem incluídas. Um amigo meu já me disse: 'Fui lá no Facebook e falei mesmo'. E eu: 'Mas falou para quem? Falou só para você'. Quando fui ver, o que havia era um comentário dele para ele mesmo. É uma coisa tão distópica que a pessoa fala e ela comenta para ela mesma porque acha importante. Ou seja, estamos a levar-nos muito a sério - não só na comédia, mas na vida de um modo geral.

Cada vez mais, quando nos vamos individualizando, ficando menos dependentes do outro, sentimo-nos mais sós. E aí, para não nos sentirmos sós, 'temos' de ir à internet e achar que pertencemos a algum grupo - nem que seja o grupo da Terra Plana.

Ou seja: o humor tem limites ou é a audiência que se tem de adaptar ao humor?

Acho que temos que fazer aquilo que acharmos engraçado - e conquistar o nosso público. Mas aquilo que achamos engraçado não pode ser contra a Constituição e não pode incitar ao ódio e à violência. Mas pode ser desrespeitoso, pode ser escroto, pode ser sombrio, pode ser ácido – e pode não ser também. 

Tem graça em tudo. Por exemplo, uma velhinha andando na rua que cai no chão - às vezes a gente ri. Não tem a menor graça, a velhinha magoou-se. Mas ali, naquele momento, rimo-nos. Resta saber de quem ou do que é que se quer rir. Podemo-nos rir da velhinha e perceber: 'Nossa, ela magoou-se, como é que fui rir disto?' ou pensar 'Não, quero rir mesmo da velhinha'. Isso, acho triste. Uma pena.

Pode-se sacanear a velhinha que caiu na rua, mas para quê? Tem tantas coisas para sacanear… O que eu sinto é isso. As pessoas vão-se especializando em rir de velhinhas que caem na rua. Uma pena: a pessoa com potencial de poder fazer piada sobre tudo e ela resolve insultar a mãe que perdeu um filho. Caramba, que escolha ruim de vida, não é? Vivendo numa democracia e podendo fazer piadas sobre tudo e todos, você escolher fazer piada sobre um filho que morreu assassinado parece-me uma escolha bastante triste de vida.

Todo o mundo hoje tem alguma aflição. Se toda a piada que magoar o ser humano for impedida, ninguém mais faz piadas

Nesse sentido, o humor pode mesmo servir para desconstruir preconceitos, não é?

Perfeito! O humor tem muitas funções. Pode jogar luz sobre determinada situação ou ele também pode apagar a luz para a gente esquecer um pouquinho daquilo e poder rir de outras coisas – e passar um pouco por cima da nossa dor. Porque todo o mundo passa por alguma dor. Todo o mundo hoje tem alguma aflição, tem alguma tristeza e alguma coisa que lhe dói no coração. Se toda a piada que magoar todo o ser humano no mundo for impedida, ninguém mais faz piada nenhuma.

Porque uma pessoa vai dizer: 'Falaste sobre isto, mas eu perdi a minha mãe ontem'. Mas a piada não é sobre você e não foi para você. É que nesta coisa individualizada do mundo, com cada vez mais egoísmo, vamos achando que o mundo precisa de andar no nosso eixo. E na verdade, não. O mundo precisa de andar no eixo civilizatório. Se não se gosta desse tipo de piada, não se consome. E claro que você pode ir assistir meu 'show' e falar: 'Poxa vida, Fábio, você contou uma piada sobre um gorila que foi para cima de você e eu tive um primo que foi comido por um gorila'. Eu sinto muito, é uma tristeza, um horror, mas eu não posso deixar de fazer uma piada de gorila porque você vai se ofender e ficar triste por causa do gorila. A coisa começou a ir para um lado tão louco que a pessoa se começa a ofender quando se fala sobre.

A comédia é leve, a comédia é legal, a comédia não é uma coisa para deixar as pessoas bravas, chateadas, revoltadas ou para criar confusão. A comédia não é esse lugar. É um lugar para fazer as pessoas rirem.

Acaba por ser um pouco democrático – ou seja, como reage a maioria. E para si? O que é que não tem graça absolutamente nenhuma?

Acho que tudo em que estivermos envolvidos emocionalmente não tem graça – porque não nos conseguimos desconectar, não é? Eu posso fazer uma piada sobre minha avó: 'ah, a minha avó está velha, vai morrer'. Porque a minha avó não morreu ainda. Assim que minha avó morrer, provavelmente no primeiro mês, eu vou estar muito triste, muito abalado, e não vou querer fazer nem ouvir piadas sobre isso. Passado um ano, eu já vou ter superado isso, já vou ter resolvido isso - comigo mesmo, na análise, conversando com a família… o tempo vai curar. E aí eu posso voltar a fazer isso. Então, qualquer piada feita sobre algum assunto ao qual eu esteja intimamente conectado é mais difícil eu dar risada.

Mas, às vezes, é assim que a gente supera a morte da nossa avó. Rindo. Cada um supera de um jeito. Tem gente que ri. Tem gente que se alguém se rir vai dizer que é desrespeito.

Então cada um supera qualquer coisa de um jeito. Tem gente que gosta no enterro, por exemplo, de lembrar boas histórias, de dar risada, de fazer um discurso engraçado – e tem gente que acha que não. Que tem que chorar mesmo, tem que ficar triste, e nenhum dos dois está errado. Os dois estão certos – só que cada um precisa do seu tempo e do seu caminho. É muito mais uma questão pessoal do que qualquer outra coisa.

Queria muito poder fazer o ‘Que História É Essa’ em Portugal

No programa ‘Que História É Essa, Porchat?’ já recebeu alguns portugueses. Qual ou a história ou pessoa que mais gostou de receber?

Falando de um estrangeiro, o Emílio, angolano, foi ao programa e contou uma história muito engraçada. Tem uma tradição em Angola que é: se alguém quiser aumentar o pénis, é precisa bater o pénis na árvore. E aí ele contou essa história, foi muito, muito boa. O Emílio é um diretor de comédia de Angola. O César Mourão foi ao programa também e contou uma história muito boa – a saga dele em Cabo Verde. Ele não foi conseguindo dinheiro, não foi conseguindo pagar e foi meio passando fome e frio. Foi muito divertido.

Eu queria muito poder fazer o ‘Que História É Essa’ em Portugal, porque eu acho que é um programa que funcionaria muito. Acho que os portugueses também se sentiriam bem em contar essas histórias aí.

Não tenho o ‘História É Essa’ [em Portugal], mas tenho outros programas, com a RTP. Vou gravar agora a segunda temporada do ‘Só Como e Bebo. Por Acaso, Trabalho!’. Não sendo de histórias, é um programa em que eu reúno gente à mesa para debater sobre um assunto. São quatro pessoas que de alguma forma estão envolvidas nesse assunto – ou porque trabalham com isso ou porque já viveram aquilo de alguma forma. Anónimos e famosos. E ali todo o mundo acaba contando um pouquinho da sua vida, da sua história.

É engraçado: o realizador, Ivan Dias, disse-me: 'Fábio, aconteceu uma coisa muito interessante porque em Portugal as pessoas são um pouco mais fechadas, elas não se abrem, elas não contam tantas histórias pessoais'. E neste programa as pessoas começaram a contar histórias da sua família, de coisas que aconteceram. E eu estou muito habituado – no Brasil falamos muito, encontramos uma pessoa e já contamos a nossa vida íntima. Funcionou muito bem este programa. Acho que eu consegui fazer com que todos se sentissem muito à vontade ali para poder falar e contar. Foram oito episódios e agora a segunda temporada vai ter 12. A RTP gostou, o público gostou e eu gostei também. Vai estrear para o ano.

Ao mesmo tempo que eu sou muito aberto, conto as minhas histórias e estou ali a puxar assunto, estou também a cuidar um pouco daquelas pessoas, a ouvir, a brincar e a indagar, há também um interesse genuíno. Não é só falar por falar para ter audiência. Eu quero que se conte a história que se queira contar, mas eu adoraria que essa história acrescentasse no nosso debate. Acho que as pessoas se sentem à vontade e seguras daquele lugar.

O Papa disse que quando uma pessoa está rindo, Deus está rindo junto. Esse é um Deus que eu adoraria que fosse verdadeiro

Na televisão portuguesa conta também com a 'Viagem a Portugal', série inspirada na obra de José Saramago. Qual foi o sítio por que passou que mais o marcou?

Foram mais de 130 sítios pelos quais eu passei – de Norte a Sul. Foi inesquecível. Sou apaixonado pelas aldeias portuguesas. Amo as aldeias. Gosto dos velhinhos das aldeias, daquela conceção. As pessoas saíram e ficaram poucas. Romeu [em Mirandela] foi um lugar com o qual fiquei muito encantado.

Porquê?

Não é que eu tenha vindo de uma avenida e entrado na aldeia, mas fomos por um atalho, uma rua por dentro da floresta. E, de repente, entrámos nesta aldeia. Era outono, então estava todas as folhas estavam vermelhinhas e ainda a amarelar. Havia uvas penduradas nas casas das pessoas. Aquilo é uma coisa meio mágica. Acho que tinham dez pessoas morando em Romeu, foi muito mágico. Todas as aldeias em que eu entro interessam-me.

E o Buçaco [na Mealhada] também me agarrou muito. A Mata Nacional do Buçaco foi um lugar muito bonito também. Aquele castelo ali no meio, aquela mata gostosa de estar. Era um lugar que eu não conhecia, do qual eu nunca tinha ouvido falar. Então foram dois lugares especiais que me agarraram.

Este ano fez parte do leque de humoristas de todo o mundo que esteve com o Papa num encontro no Vaticano. O que significou esse momento?

Acho que significou muito mais para a comédia. Pela primeira vez na História, um Papa encontrou-se com com comediantes. O Ricardo Araújo Pereira até falou isso: que talvez há 200 anos estivéssemos sendo queimados ao encontrar com o Papa, e que hoje fomos conversar, fomos ouvir. E o Papa dizer que é possível fazer piada com tudo, inclusive, com Deus, acho que é muito significativo - um chefe de Estado, um líder religioso, poder dizer que há humor, que podemos brincar, que podemos rir.

E o Papa disse que quando uma pessoa está rindo, e você consegue fazer uma pessoa rir sem humilhá-la, que Deus está rindo junto. E esse é um Deus que eu adoraria que fosse verdadeiro. Foi muito bonito estar lá, poder estar naquele encontro com tanta gente boa. Realmente, vai ser inesquecível.

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