Futuro dos arquivos do teatro pode passar pela criação de rede de cooperação

A criação de uma rede de cooperação entre arquivos municipais, arquivos de companhias de teatro e coleções privadas foi a principal proposta que saiu hoje do debate sobre desafios colocados pelos arquivos de artes performativas, que decorreu em Lisboa.

Notícia

© Pixabay

Lusa
05/02/2025 19:26 ‧ há 2 horas por Lusa

Cultura

Teatro

Integrada na conferência internacional Arquivar o Teatro, que começou hoje no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), esta mesa redonda centrou-se na discussão do papel dos arquivos e das bibliotecas no estudo do teatro e das artes performativas: questões de guarda, acesso e transmissão.

 

A conferência, que encerra o Projeto ARTHE -- Arquivar o Teatro, financiado pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia (FCT) nos últimos três anos, é promovida pelo Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O objetivo do encontro é discutir o cuidado com materiais teatrais de diferentes naturezas -- figurinos, registos audiovisuais, fotografias, cenografias e documentos -- e a importância de garantir a sua salvaguarda e utilização como parte ativa da criação artística.

Num debate que ficou marcado por "respostas utópicas e imaginativas de responder ao problema" -- nas palavras de Maria João Brilhante, investigadora responsável do ARTHE -, apresentadas pelos intervenientes na mesa, a ideia de "cooperação" reuniu consenso.

Silvestre Lacerda, do ANTT, destacou a importância, além dos registos físicos, da "ambiência social do teatro", que passa por coletividades, "formas precárias de existência presentes nas mais diversas formas", como marchas e representações teatrais.

"Os arquivos têm esta tarefa essencial" de guardar "exemplos de vivência das organizações, não é só papel", afirmou sublinhando a necessidade de "olhar para a diversidade dos materiais".

Sofia Patrão, bibliotecária do Museu Nacional do Teatro e da Dança (MNTD) acrescentou que a coleção de um teatro é "muito diversificada" e alberga tudo o que resulta de um espetáculo, de figurinos e adereços, a cartazes, passando por recortes de jornais.

A preocupação no museu é como transformar esse material em informação e quando se pensa num futuro sistema de arquivo, a responsável lembra que o MNTD participou na "formação de várias bases de dados e muitas já não estão 'online'".

Por isso, a diversidade de materiais e as condições de conservação de todos eles são as principais preocupações quando se fala das artes de palco.

"Podemos estabelecer uma cooperação com outras entidades, como a Cinemateca", para as imagens em movimento (conversão de cassetes de VHS, por exemplo), "e o Arquivo Nacional do Som", sugeriu.

Nessa mesma linha da cooperação, Silvestre Lacerda aventou a hipótese de se criar uma "cidade dos arquivos", ideia que confessou que gostaria de ver sair deste encontro.

"Não um arquivo central, mas sim a possibilidade de funcionamento em rede, em cooperação", especificou, acrescentando que o ideal era haver um "território em que todos pudessem estar e dialogar" e que também tivesse "traçabilidade", ou seja "saber por onde é que as coisas andaram até chegarem ali".

"Há condições para isso, é preciso vontade", assegurou.

Maria João Brilhante lembrou que as companhias de artes performativas estão a "atingir o limite de capacidade de gestão destes acervos" e "estão à procura de como lidar com o problema", sobretudo no caso de companhias que se extinguem, e em que os locais são esvaziados da sua produção artística, questionando: "o que se faz com esta tralha toda?".

Para Sofia Patrão a passagem desse espólio para outros arquivos levanta dois problemas, um deles é a questão de como lidar com os dados pessoais (por causa da proteção de dados) e outro é o facto de as companhias em atividade fazerem questão de ter o seu arquivo.

"Quando as companhias terminarem, aí faz todo o sentido que o arquivo fique no arquivo municipal. Deve haver condições dos arquivos municipais para receberem estes arquivos", acrescentou

Silvestre Lacerda é também da opinião que a "documentação deve estar junto das entidades produtoras dos documentos. Esta é uma questão central", razão por que pensou "na ideia utópica da cidade dos arquivos", ou então uma rede de arquivos municipais mais próximos das populações".

"Mas tem que passar por uma mudança de mentalidade. Os arquivos não podem ser só arquivos históricos, têm que cuidar da passagem entre atividade e património", acrescentou.

O também ex-diretor da Direção-Geral do Livro dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) concordou com a importância do regime geral da proteção de dados, e lembrou a necessidade de assegurar igualmente a proteção dos direitos de autor, por exemplo em relação a "obras órfãs".

"Há a ideia de que arquivo é sinónimo de papeis velhos e de História", um preconceito que urge mudar, segundo Silvestre Lacerda, que tornou a insistir: "Temos que ir à procura de cooperação, colaboração, criação de redes", para as companhias terem os seus arquivos e quando terminarem, faz sentido que fiquem no arquivo municipal.

Alinhando na ideia da "hipotética rede informática, de articulação dos arquivos municipais, mas também dos arquivos de teatros e companhias", Ana Bigotte Vieira, investigadora corresponsável do ARTHE, juntou ainda a possibilidade de chamar a participar coleções privadas, como por exemplo a Ephemera- Biblioteca e arquivo de José Pacheco Pereira.

Mas deixou a questão específica de saber "o que poderia ser um funcionamento em rede, que possibilitasse a troca de informação relacional".

"O fundamental das redes são as pessoas e provavelmente esse é o caminho que devemos continuar a trilhar. A compartimentar as coisas, vamos ter mais dificuldade", considerou Silvestre Lacerda.

A conferência decorre até sexta-feira.

Leia Também: Club Makumba, Mão Morta e The Legendary Tigerman em março na Covilhã

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas