Este projeto de Mónica de Miranda "reúne documentos concretos da história com explorações estéticas sistemáticas que visam trazer à luz as memórias, ideias e conceções ocultas da realidade e retratam a queda do império português e as ruínas coloniais desse império que agora são engolidas pela natureza num ato de regeneração natural", de acordo com a assessoria da artista, em comunicado.
Partindo do caderno de campo, nunca publicado, do antropólogo angolano Augusto Zita, "um dos primeiros antropólogos africanos a inverter o rumo da investigação antropológica para o colonizador", Mónica de Miranda criou um filme, no qual "dá voz às suas pesquisas e investigações no deserto do Namibe, onde este concebeu um sistema cosmológico orientado para a natureza, tendo a luz como terceira dimensão".
"O filme retrata também a relação que Augusto Zita tinha com a welwitschia, uma planta que existe apenas no deserto do Namibe, considerada sagrada pelas culturas indígenas da região, um símbolo de resistência", lê-se no comunicado.
"Como se no mundo não houvesse Oeste" inclui também imagens, "que retratam os resquícios coloniais portugueses no deserto de Namibe, no Towba e na Baía dos Tigres, no sul de Angola, esta última uma aldeia 'fantasma', fundada por pescadores do Algarve, por volta de 1860, e que foi habitada por eles até ao final do período colonial, em 1975, e posteriormente abandonada".
A Bienal de Sharjah é considerada uma plataforma privilegiada para os artistas e agentes culturais darem a conhecer o seu trabalho no Médio Oriente e realizou-se pela primeira vez em 1993.
A 16.ª Bienal de Sharjah, que decorre até 15 de junho, tem curadoria de cinco mulheres: a curadora Alia Swastika, a curadora e artista Amal Khalaf, a escritora e curadora Megan Tamati-Quennell, a curadora, escritora e investigadora Natasha Ginwala e a curadora Zeynep Öz.
Utilizando desenho, instalação, fotografia, vídeo e som, o trabalho de Mónica de Miranda é baseado em temas de arqueologia urbana e geografia pessoal.
Cofundadora do Hangar (Centro de Investigação Artística), em Lisboa, Mónica de Miranda foi nomeada em 2019 para o Prémio EDP Novos Artistas e, em 2014, para o Prémio Novo Banco de Fotografia.
Recentemente, foi contemplada com uma bolsa Soros Arts 2023, "prémio proeminente que apoia arte socialmente engajada", da rede internacional de filantropia Open Society Foundations.
A obra de Mónica de Miranda está representada em várias coleções, tanto públicas como privadas, entre as quais a Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional de Arte Contemporânea, a Nesr Art Foundation e o Arquivo Municipal de Lisboa.
Em 2024, representou oficialmente Portugal na 60.ª Bienal de Arte de Veneza, com o projeto artístico "Greenhouse", que partilha com Sónia Vaz Borges e Vânia Gala.
Leia Também: Audições expõem diferentes versões sobre ambiente de trabalho no CCB