Livro 'Carlos Paredes - a guitarra de um povo' tem gravação inédita

A vida e obra do mestre da guitarra Carlos Paredes, que "criou do nada uma música genuinamente portuguesa", é contada num livro a ser apresentado esta semana e que inclui as gravações de dois concertos, um dos quais inédito.

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Lusa
10/02/2025 20:09 ‧ há 10 horas por Lusa

Cultura

Carlos Paredes

Em 'Carlos Paredes -- a guitarra de um povo', o investigador Octávio Fonseca começa a contar o percurso do guitarrista ainda antes de este ter nascido, lembrando os antecedentes familiares.

 

Carlos Paredes, que completaria cem anos de vida no dia 16 de fevereiro, descende de uma família de guitarristas e compositores: o bisavô António Rodrigues Paredes, o avô Gonçalo Rodrigues Paredes, o tio-avô Manuel Rodrigues Paredes e o pai, Artur Paredes.

Segundo Octávio Fonseca, Artur Paredes, "em termos de técnica, revolucionou completamente a guitarra de Coimbra", e Carlos Paredes "aproveitou esse trabalho e simplificou-o".

Para contar a história e as histórias de Carlos Paredes, Octávio Fonseca recorreu-se do trabalho de investigação que tinha feito para um outro livro dedicado ao guitarrista editado em 2000, e que incluiu a leitura de artigos sobre música que o 'mestre' escreveu em jornais e entrevistas que deu a vários órgãos de comunicação social.

Mas para escrever este livro, contou com "a colaboração extraordinária" da guitarrista e compositora Luísa Amaro, companheira de Paredes. "A maioria das histórias que estão contadas no livro foi ela que me transmitiu", contou.

O que torna Carlos Paredes um artista único é, para Octávio Fonseca, o facto de ter criado "música genuinamente portuguesa do nada".

"No final dos anos 1960, início de 1970, discutia-se muito ir às raízes tradicionais, para criar uma música popular portuguesa, como fez José Afonso. Mas Carlos Paredes não fez isso, e criou uma música portuguesa do nada. Ele não partiu da nossa canção tradicional, nem de nenhuma experiência da música portuguesa", salientou o investigador.

O paralelismo entre José Afonso e Carlos Paredes era apontado pelo próprio guitarrista.

"Ele diz em duas entrevistas que há um paralelo entre ele e o José Afonso no inicio da carreira. O primeiro disco de Carlos Paredes é de 1962 e o primeiro disco de baladas de José Afonso também (tinha feito discos antes, mas eram de Fado de Coimbra). Fazem os dois uma música nova de Coimbra", contou.

No ano seguinte, os dois músicos "libertam-se de Coimbra, da canção de Coimbra", mas com uma diferença, "enquanto que com José Afonso há um corte completo, com Carlos Paredes há um corte, mas há sempre uns 'pinguinhos' nas composições em que Coimbra aparece".

No último álbum que editou, 'Canção para Titi', editado em 2000, mas que começou a ser gravado em 1993, Carlos Paredes "mergulha outra vez em Coimbra".

"Ele vai a coisas materiais, aos locais de Coimbra, às pessoas, à tia, à mãe, e cria outra vez canções de raiz coimbrã novas. No fim, ele parecia que sabia que ia fechar. Como se tivesse morrido naquela altura. Fecha ali a obra, voltando a Coimbra", referiu Octávio Fonseca.

'Carlos Paredes -- a guitarra de um povo' vem acompanhado por dois discos.

Um é 'Mestre da guitarra portuguesa', um álbum gravado em 1977, no 7.º Festival de Canção Política em Berlim, editado nesse ano pela AMIGA, editora da antiga República Democrática Alemã (RDA), e que é inédito em Portugal.

No outro álbum está registado "o primeiro espetáculo que Carlos Paredes fez em nome próprio em Portugal", uma gravação inédita registada em 31 de março de 1984, no Teatro Carlos Alberto, no Porto.

"Nesse concerto ele faz exatamente o contrário do que era a norma nos concertos. Fala tanto como toca. Explica tudo o que está a tocar, de uma maneira incrível. É um testemunho absolutamente notável de como era o Carlos Paredes em palco. A genialidade dele como músico, mas também como pedagogo", afirmou Octávio Fonseca.

O livro inclui também um portfólio de fotografias de Carlos Paredes, da autoria de Augusto Cabrita, Luís Paulo Moura e Inácio Ludgero.

'Carlos Paredes -- a guitarra de um povo', uma edição da Tradisom, é apresentado na quarta-feira, às 18:00, no auditório da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em Lisboa.

O livro está integrado na programação 'Variações para Carlos Paredes', criada para assinalar os 100 anos do nascimento do guitarrista e celebrar o seu legado.

Carlos Paredes nasceu em Coimbra, em 16 de fevereiro de 1925, e morreu em Lisboa, em 23 de julho de 2004.

O músico viveu sobretudo em Lisboa e a cidade inspirou muitas das suas composições. 'Verdes Anos', uma das mais conhecidas da sua obra, foi composta para o filme homónimo de Paulo Rocha, marco do Novo Cinema português dos anos de 1960.

Combatente antifascista, opôs-se à ditadura e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950. Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a sua atividade como administrativo, no Hospital de São José, em Lisboa.

Em dezembro de 1993, foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar guitarra.

Leia Também: Anadia celebra Carlos Paredes com espetáculo, exposição e palestras

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