Um mestre de linguagem sem paralelo
O poeta Nuno Júdice afirmou hoje que Herberto Helder, falecido na segunda-feira, foi "um mestre" e um autor com uma linguagem sem paralelo, que descrevia as viagens ao seu mundo interior "de forma única".
© Global Imagens
Cultura Nuno Júdice
O poeta Herberto Helder, de 84 anos, morreu na segunda-feira na sua casa em Cascais, disse hoje à Lusa fonte familiar.
A mesma fonte adiantou que, na quarta-feira, haverá uma cerimónia privada apenas para a família e que não serão dadas mais informações sobre o funeral do poeta.
Em declarações à agência Lusa, Nuno Júdice recordou que, para a sua geração, que começou a escrever e a publicar no final dos anos 1960, Herberto Helder "foi um mestre".
"'Os Passos em Volta', o primeiro livro de contos, foi uma descoberta, era um tipo de escrita que não se conhecia na literatura portuguesa, falando de coisas como a Europa, a marginalidade, em contacto com uma literatura que seria inteiramente baseada na própria literatura", lembrou.
Para Nuno Júdice, esse livro "foi uma libertação de muitos modelos que nessa altura eram dominantes".
Nos anos seguintes foi acompanhando a poesia de Herberto Helder e sempre mantendo o mesmo interesse por aquilo que ía publicando: "Era uma linguagem que não tem paralelo. Uma viagem ao mundo interior, a espaços da profundidade do ser, que ele conseguida descrever de uma forma única", disse.
Nuno Júdice conviveu com Herberto Helder durante alguns anos, antes e logo a seguir à Revolução do 25 de Abril, num período de grandes entusiasmos literários e políticos.
"Era um convívio sempre muito apaixonante. Ele era uma pessoa muito polémica e frontal. Tinha ideias que defendia junto de escritores muito diferentes, como Carlos de Oliveira, Augusto Abelaira, José Gomes Ferreira. Ouvi-lo era sempre fascinante", recordou.
O poeta Nuno Júdice disse ainda que os últimos livros de Herberto Helder "são também muito corajosos, porque é o confronto com a morte, com a decadência física, com a doença mas, ao mesmo tempo, com uma vitalidade surpreendente".
Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de novembro de 1930 no Funchal. "A Morte sem Mestre" foi o último livro do poeta, publicado pela Porto Editora, em junho de 2014.
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