A peça é uma estreia absoluta a cargo do Teatro do Bolhão e vai estar em cena a partir da próxima quarta-feira, até dia 14 de junho.
"Como é que se trabalha a partir do texto de Gogol e se reflete sobre algumas questões que vivemos hoje também? Porque não é bem a mesma história, fazemos uma viagem pelo texto de Gogol, mas questionamo-nos sobre o lugar das almas mortas, das pessoas, dos trabalhadores, que são silenciados na obra toda de Gogol", disse à Lusa António Júlio.
Em palco vê-se um cenário de construções semelhantes a retalhos de madeira em ponto grande, de onde surge o elenco, composto na totalidade por antigos alunos da Academia Contemporânea do Espetáculo, com exceção da participação especial do professor da instituição João Paulo Costa.
Para a responsável pelo texto e assistente de encenação, Raquel S., "a dificuldade maior [foi] compreender o que é que naquele texto é mesmo literatura e não vai funcionar em teatro".
"O texto de Gogol, mesmo sendo muito criativo, não chega às almas e para nós era fundamental que essa fosse a raiz do texto, o lugar a que queríamos chegar. Nesse sentido tivemos também de mudar a forma", explicou Raquel S..
Desta forma, numa altura em que já contemporâneos de Gogol "questionavam a servidão enquanto instituição", Gogol não era um deles, sendo, nas palavras de Raquel S., "um autor conservador que acredita naquela estrutura social".
Na peça, o viajante Tchitchikov chega a uma cidade acompanhado de um baú, visitando "proprietários rurais, percorrendo os caminhos sinuosos de um misterioso negócio: comprar os camponeses que, apesar de já terem morrido, ainda constam das listas dos censos".