Grupo de teatro de cegos estreia comédia nos Açores até final do ano
O grupo de teatro amador 'Arte Engenho', formado exclusivamente por cegos e amblíopes, deverá estrear, até ao final do ano, na ilha de S. Miguel, nos Açores, a sua primeira comédia, disse hoje o encenador.
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Cultura Encenação
"Em princípio, lá para o final do ano a gente vai arrancar com ela [peça de teatro]", afirmou Leonardo Sousa em declarações a agência Lusa, acrescentando que os ensaios já decorrem "há vários meses".
Este grupo de teatro amador resulta de uma parceria entre a Associação Portuguesa dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) e a associação Solidaried'arte.
Leonardo Sousa referiu que o autor da comédia é desconhecido e que a estreia da peça já esteve prevista "duas ou três vezes", mas acabou sempre por ser adiada "devido às caraterísticas do grupo".
"Há essa dificuldade nos ensaios porque eles têm necessidade de se ausentar da ilha para ir consultar especialistas no continente. De resto, ensaiar é como se ensaia um grupo de teatro normalmente, com alguns cuidados em termos de marcação no palco", afirmou o encenador e coordenador da associação sem fins lucrativos Solidaried'arte.
Segundo Leonardo Sousa, os ensaios decorrem uma vez por semana ao final do dia e a peça engloba no total cinco pessoas, com idades que variam entre os 21 e os 65 anos, com várias atividades e das quais uma é totalmente cega.
Entre o grupo de atores está, por exemplo, uma estudante universitária, que está a tirar o curso de ensino básico na Universidade dos Açores, e outra que, "dado o seu jeito para as artes de palco, tem participado nas produções do grupo de teatro residente da associação Solidaried'arte".
Reconhecendo o empenho e capacidades dos elementos deste grupo de teatro, Leonardo Sousa afirmou que tem trabalhado muito com eles a questão da expressão facial "uma vez que não fazem muita utilidade dela, nem estão habituados a vê-la nas outras pessoas".
Além de contribuir para a elevação da autoestima e um alargar de conhecimentos ao nível pessoal dos participantes, Leonardo Sousa considerou que o teatro permitirá, também, à delegação da ACAPO em S. Miguel "abrir portas e dar-se mais a conhecer à sociedade", contribuindo para que os cegos e ambliopes sejam vistos "de outra forma".
"Quando fizermos o início da atividade, porque estamos de férias, pensamos trazer outras pessoas para o grupo de teatro. Não necessariamente pessoas portadoras deste tipo de deficiência, mas pessoas com outras deficiências ou pessoas sem qualquer tipo de deficiência física", disse Leonardo Sousa.
Estima-se que vivam nos Açores três mil invisuais.
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