"Quarteto" coloca palco de teatro entre 'bunker' e salão aristocrata
O cenário de "Quarteto" situa-se entre um salão aristocrata do século XVIII e um 'bunker' no pós-Terceira Guerra Mundial, disse hoje o encenador Carlos Pimenta sobre a obra que se estreia quinta-feira no Teatro Carlos Alberto, no Porto.
© Pixabay
Cultura Carlos Alberto
Em cena até 07 de fevereiro, "Quarteto" foi escrita pelo alemão Heiner Müller a partir de "Ligações Perigosas", de Choderlos de Laclos, e é, diz Carlos Pimenta, uma "peça sobre o tempo".
"O Heiner Müller diz que o cenário é em simultâneo um salão aristocrata por altura da Revolução Francesa e é também simultaneamente um 'bunker' após a Terceira Guerra Mundial. Temos aqui muitos anos, não sabemos quando será a Terceira Guerra Mundial, mas temos aqui um período de tempo muito largo. E nesta peça o tempo existe", explicou o encenador aos jornalistas no final de um ensaio para a imprensa.
Com Albano Jerónimo e Lígia Roque nos papéis dos dois personagens, o cenário inclui retratos em vídeo dos atores que pairam à medida que os rostos envelhecem ao longo da hora da peça, utilizando uma tecnologia de 'morphing' realizada por Alexandre Azinheira.
"Os retratos têm a ver com essa passagem de tempo pelo corpo e pelo processo de envelhecimento mesmo. Eles envelhecem", afirmou Carlos Pimenta.
O próprio Müller descreveu "Quarteto", que é também a obra escolhida para a abertura do ano dos Artistas Unidos em Lisboa, como "uma reflexão sobre o problema do terrorismo, usando material que, à superfície, não tem nada a ver com ele".
"'Quarteto' é uma peça sobre o desejo e a manipulação. Se essas já eram as características de 'As Ligações Perigosas', em 'Quarteto' elas são radicalizadas pelo prenúncio de um fim. Valmont e Meurteil jogam aqui um jogo de espelhos em que as máscaras que vão pondo lhes permitem a possibilidade de regresso às suas disputas sexuais e amorosas. Mas o tempo não está disposto a mudar as suas regras", escreveu Carlos Pimenta no programa da peça.
Assim, os dois personagens, Valmont e Meurteil, "confrontam-se com aquilo que agora são".
"Os seus corpos têm um destino já traçado. Ambos o sabem. Por isso, os velhos amantes digladiam-se e na violência com que o fazem pressentimos que o tempo vence sempre, dando-nos a imagem como lenitivo", acrescentou o encenador.
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