A obra, com o título, em tradução livre, "'Cadáver esquisito' para um pulso partido", será estreada a 12 de novembro, num concerto a solo que o percussionista dará no Ciclo de Música Contemporânea de Buenos Aires, acrescentou o músico, em declarações à agência Lusa.
Aroso, que se encontra na ilha de Jeju, na Coreia do Sul, para participar no júri de um festival de música de sopros e percussão, com competição associada, mostrará aí parte dessa obra de multipercussão, escrita para uma mão e pés, esclareceu hoje à Lusa.
Depois de, em junho, ter fraturado um pulso, na sequência de um acidente automóvel, que o obrigou a cancelar toda a agenda -- o músico só voltará a tocar em pleno em outubro e só regressará aos concertos um mês depois -, Nuno Aroso apenas mostrará e falará desta parte da peça, na Coreia do Sul, facto resultante da "incapacidade momentânea" que o obrigou a parar de tocar.
Na sequência do acidente, surgiu uma ideia, "um revivalismo" do que fizera, no passado, o compositor Maurice Ravel - contou Aroso à Lusa -, com o famoso "Concerto para mão esquerda", composto para o pianista Paul Wittgenstein, ou seja, uma obra criada para um músico "que não usasse a mão esquerda e tivesse um múltiplo instrumento de percussão".
Surgiu assim a ideia de uma criação coletiva, composta como um "Cadavre Exquis", técnica de criação usada na literatura e na pintura pelos surrealistas do século XX.
A obra seria então escrita por um grupo de 12 pessoas, contribuindo cada compositor com uma parte, indicou Nuno Aroso.
Entre os compositores de "Cadavre Exquis for a broken wrist" encontram-se, segundo Nuno Aroso, nomes consagrados e jovens criadores da música contemporânea de vários países, incluindo portugueses. São eles: João Pedro Oliveira, Luís Antunes Pena, Francesco Filidei, Jaime Reis, Oscar Bianchi, Sara Carvalho, Arturo Fuentes, Matthew Burtner, Ricardo Ribeiro, Pedro Junqueira Maia, Ângela Lopes e Panayotis Kokoras.
Convidado há um ano para o festival na Coreia do Sul, que começou na passada segunda-feira e termina no dia 16, o percussionista irá, informalmente, falar e tocar partes desta composição inédita, ainda inacabada, aos participantes do concurso e aos alunos, disse o músico à Lusa.
"Será, como dizem no teatro, 'roubando' [a expressão] aos ingleses, um 'tryout'", acrescentou.
Licenciado pela Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE) do Porto, com classificação máxima, Nuno Aroso estudou depois em Estrasburgo e Paris. É doutorado pela Universidade Católica Portuguesa e leciona na Universidade do Minho.