Nuno Aroso regressa aos concertos com obra para um "punho partido"

O percussionista Nuno Aroso estreia, hoje, na Argentina, a primeira parte de uma obra coletiva inédita, "Cadavre Exquis for a broken wrist", concebida na sequência de um acidente em que fraturou um pulso.

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© Facebook / Nuno Aroso

Lusa
12/11/2016 11:10 ‧ 12/11/2016 por Lusa

Cultura

Percussionista

A obra, com o título "'Cadáver esquisito' para um pulso partido", , em tradução livre, é estreada hoje, parcialmente, num concerto do percussionista, integrado no Ciclo de Concertos de Música Contemporânea de Buenos Aires, disse o músico à agência Lusa.

No concerto, que terá lugar na Usina del Arte, na capital argentina, a partir das 20:00 locais (23:00 em Lisboa), Aroso mostrará parte dessa obra de 'multipercussão', escrita para uma mão e pés, depois de, em junho, ter fraturado um pulso, num acidente de automóvel, o que o obrigou a cancelar toda a agenda.

Na sequência do acidente, surgiu a ideia de "reviver" o que fizera o compositor Maurice Ravel, no passado - como Aroso contou à Lusa -, com o famoso "Concerto para mão esquerda", concebido para o pianista Paul Wittgenstein, que perdera o braço direito, na I Guerra Mundial: uma obra criada para um músico "que apenas usasse a mão esquerda e tivesse um múltiplo instrumento de percussão".

Surgiu assim a ideia de uma criação coletiva, composta como um "Cadavre Exquis", técnica de criação usada na literatura e na pintura pelos surrealistas do século XX, em que cada autor intervém da maneira que deseja, desconhecendo, porém, a criação dos seus parceiros.

A obra começou então a ser escrita por um grupo de 12 pessoas, contribuindo cada compositor com uma parte, indicou Nuno Aroso.

Entre os compositores de "Cadavre Exquis for a broken wrist" encontram-se "nomes consagrados e jovens criadores" da música contemporânea de vários países, como indicou Nuno Aroso, incluindo portugueses. São eles: João Pedro Oliveira, Luís Antunes Pena, Francesco Filidei, Jaime Reis, Oscar Bianchi, Sara Carvalho, Arturo Fuentes, Matthew Burtner, Ricardo Ribeiro, Pedro Junqueira Maia, Ângela Lopes e Panayotis Kokoras.

Neste concerto, Nuno Aroso recorda que ainda não será feita a estreia completa, pois alguns do compositores ainda não acabaram as sequências respetivas, o que o obrigou a alterar o plano.

"Farei uma parte, apenas [da obra]", disse à agência Lusa. "O resto do programa solo é essencialmente de compositores portugueses: Luís Antunes Pena, Pedro Junqueira Maia e João Pedro Oliveira", a que se juntará a obra "Trans", do compositor chinês Lei Liang.

Noutras três peças, para voz e percussão, de Luís Antunes Pena, Martin Bauer e Peter Ablinger, Nuno Aroso conta com a participação da cantora Nadia Szachniuk.

Estas três peças fazem parte de um projecto que o músico estreou em 2012, com Rita Redshoes.

"Chama-se 3'30''. Assenta na ideia de perceber como compositores da música erudita poderiam abordar uma formação tão invulgar como uma cantora rock pop e um percussionista contemporâneo", esclarece Nuno Aroso à Lusa.

"O título vem da duração que cada obra teria - pois não podia exceder os três minutos e trinta segundos -, que é a média da duração de uma canção pop", adiantou o músico.

Segundo Nuno Aroso, todas estas obras, a solo e duo, são estreadas na Argentina.

Licenciado pela Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE) do Porto, com classificação máxima, Nuno Aroso estudou depois em Estrasburgo e Paris. É doutorado pela Universidade Católica Portuguesa e leciona na Universidade do Minho.

 

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