Novo álbum de Sakamoto resulta de reflexão sobre a vida e a morte
O compositor Ryuichi Sakamoto afirmou à Lusa que o seu novo álbum, 'async', a ser editado na sexta-feira, resulta de "uma reflexão mais profunda da que fizera até aqui sobre a vida e a morte".
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"Este álbum surge oito anos depois do anterior. Foi muito tempo, mais do que é habitual, e como tal soa diferente dos anteriores", disse Sakamoto à Lusa, referindo "um conjunto de situações pessoais e outras externas", como o acidente nuclear em Fukushima, em 2011, como explicação para ter estado tanto tempo sem gravar.
"Tive há três anos um problema de cancro, entretanto estive envolvido em várias em ações de solidariedade, de sensibilização para a a necessidade de protegermos o mundo, e de filantropia", acrescentou.
Sem esconder o orgulho pelo trabalho agora divulgado, o compositor japonês afirmou: "A minha questão de saúde tem a ver com a fricção entre natureza e o ser humano, e tal fez-me pensar mais profundamente do que fizera até aqui sobre a vida e morte".
"Desde que iniciei esta minha caminhada na música, procurei sempre melhorar e melhorar cada vez mais, passo a passo, cumprindo cada etapa", disse, referindo que partiu para este álbum questionando-se sobre que tipo de sons/música queria ele escutar.
Desta forma, "'async' é a resposta a esta pergunta", disse Sakamoto, que realçou ter juntado todos os seus "caminhos musicais e interesses sonoros", tratando-se de "uma viagem pelos sintetizadores analógicos, pelos sons de coisas e de sítios, por uma banda-sonora imaginária para um filme de Andrei Tarkovski", sem excluir surpreender-se a si próprio e quem o escuta.
"Para mim, na música, como em qualquer área, deve haver sempre uns buracos brancos e nós artistas não nos devemos nunca sentir 100% completos, e ter algo mais para mostrar", disse.
Referindo-se ao título escolhido, 'async', Sakamoto afirmou que pretende transmitir a ideia de "assincronia".
Para o compositor nipónico "não há uma relação direta entre qualquer filosofia, ou que se passa no mundo, e a música, apesar de ser um ser humano", tanto mais que não é um "músico de palavras" e como compositor expressa-se de "uma forma simbólica".
O álbum, editado pela Warner, é constituído por 14 composições, abre com 'andata', e inclui, entre outras, 'solari', 'ZURT', 'tri', 'async', antes de concluir com 'garden'.
Quanto à sua forma de composição, reivindicou uma maneira nova de a fazer, "nem mais fácil ou difícil, que outra, simplesmente não tem uma fórmula concreta como acontece com a música dita clássica, ou o rock, em que as forma estão lá, e basta escrever".
Sobre a música que faz e que lhe dá "muita alegria e entusiasmo", "a dificuldade está em fazer algo muito novo e para o qual não há uma fórmula", mas rematou: "fazer boa música é sempre difícil".
Tendo atuado várias vezes em Portugal, o músico afirmou que tem vários amigos portugueses, nomeadamente um músico que faz parte do seu trio. Em 2011, Sakamoto gravou nos Boom Studios, de Pedro Abrunhosa, em Vila Nova de Gaia.
O novo álbum deve ser escutado num ambiente próprio, disse, referindo que "é preciso criar uma espaço próprio, com uma técnica 'surround' [conceito da expansão do som a três dimensões]".
Sakamoto, que completou 65 anos em janeiro, é um destacado músico e compositor japonês, que começou a carreira na música eletrónica, compondo com regularidade para cinema, tendo já criado 30 bandas sonoras, com destaque para a de 'Merry Christmas, Mr. Lawrence' (1983), de Nagisa Oshima, que coprotagonizou com David Bowie (1947-2016).
Colaborou também com Alva Noto, os brasileiros Jaques e Paula Morelenbaum, e o português Rodrigo Leão.
O compositor nipónico tem visto o seu trabalho reconhecido, tendo conquistados já um Oscar, dois Globos de Ouro e um Grammy. O Governo de França condecorou-o com a Ordem das Artes e Letras.
Desde os anos de 1990, Sakamoto tem-se empenhado em causas ambientais e pacifistas e, em 2006, iniciou a campanha 'Stop Rokkasho', para travar a construção de instalações de processamento nuclear no norte do Japão, e no ano seguinte fundou a iniciativa ecológica 'More Trees' ('Mais árvores').
Uma das ações de solidariedade em que está envolvido é no apoio às vítimas da catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão, na sequência de um terramoto.
Em 2015 terminou as bandas-sonoras de 'The Revenant', de Alejandro González Iñárritu, em colaboração com Alva Noto, e 'Nagasaki: Memories of My Son', de Yoji Yamada.
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