Gravação integral de António Fragoso apresentada em Lisboa
António Fragoso, falecido há um século, "poderia ter sido o nosso maior compositor do século XX", disse à Lusa o pianista João Paulo Santos, que gravou em CD a Integral de Canto e Piano do músico.
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O CD 'António Fragoso. Integral da Obra para Canto e Piano' é apresentado na quarta-feira, às 19:00, no átrio do Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa, e constitui a primeira das quatro integrais que a Associação António Fragoso (AAF) projeta editar durante a evocação, este ano, do centenário da morte do compositor, nascido em 1897, que morreu em 1918.
Além de João Paulo Santos, ao piano, participaram na gravação, as cantoras líricas Carla Caramujo (soprano) e Raquel Luís (meio-soprano).
"Se calhar, do nosso maior compositor do século XX, temos mais saudade dele do que outra coisa, pois não chegou a ser", afirma João Paulo Santos, referindo-se aos 21 anos de vida de António Fragoso, que morreu vítima da pneumónica.
"É uma espécie de ironia e uma coisa bem portuguesa, não ter chegado a ser, e ter saudade do que ele poderia ter sido", prosseguiu o pianista, acrescentando que, desde cedo, as obras de Fragoso "são admiráveis e interessantes", tanto mais que as compôs ainda na sua terra natal, a Pocariça, aldeia de Cantanhede, a cerca de 30 quilómetros de Coimbra.
"O que é espantoso é o que ele escreveu a partir dos 17 anos, quando veio estudar para o Conservatório, em Lisboa, e tomou contacto com muita coisa, o que faz dele uma referência absoluta para a música no início do século XX, em Portugal. Não há maneira de se lhe esquivar", defendeu João Paulo Santos, em declarações à agência Lusa.
A Integral para Canto e Piano, de Fragoso, divide-se em três grupos. O primeiro é constituído por canções de salão, que compôs na Pocariça, "Toadas da Minha Aldeia", um grupo de cinco canções em francês sobre poemas de Paul Verlaine, "das melhores que há de compositores portugueses", e um ciclo de canções em português, com poemas de António Correia de Oliveira, "Cantigas do Sol Poente".
Relativamente a este ciclo de cantigas, João Paulo santos afirmou que é "uma interessantíssima tentativa de criar um estilo português, uma cor nacional, sem fugir a um lado absolutamente pessoal e moderno".
João Paulo Santos afirmou que, se António Fragoso não tivesse morrido precocemente, poderia tornar-se, num grande compositor. Todavia, "é admirável o que ele escreveu, principalmente entre os seus 17 e 21 anos, quando morreu. São obras extremamente pessoais e de uma extraordinária força, a par do que se passava no mundo".
"Quando digo que poderia ser, é porque ele morreu tão novo e a obra é muito reduzida, e só podemos imaginar o que poderia ter sido a sua repercussão no panorama musical português, visto o que ele escreveu de tão fantástico, numa idade tão jovem", esclareceu.
"As obras que ele deixou, não são de uma pessoa sem experiência. São de tal modo maduras e intensas, que uma pessoa se espanta, [e interroga-se] com o que poderia vir a sua personalidade" musical.
Referindo-se ao disco, o pianista e maestro declarou que é "muito ilustrativo dos interesses da obra toda de Fragoso, que como se sabe [é] mínima", tendo ficado de fora desta integral, apenas "umas peças absolutamente episódicas, de quando ele era [muito] jovem, e que não fazia sentido estar a gravar".
O CD traz "um melhor conhecimento da música de António Fragoso, que é uma obra capital da nossa música do século XX".
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