Nunca se fez um ataque tão grande ao teatro em Portugal
De acordo com os números avançados pelo Ministério da Cultura, o Programa de Apoio Sustentado da Direção Geral das Artes (DGArtes), na área do teatro, vai ter um reforço de 900 mil euros por ano, de 2018 a 2021. O diretor do Teatro Experimental de Cascais (TEC) considera que nunca como agora se fez um ataque tão grande ao teatro em Portugal.
© Lusa
Cultura Carlos Avilez
Mas os resultados provisórios conhecidos do programa mostram que companhias como o Teatro Experimental do Porto e a Seiva Trupe, assim como o Teatro Experimental de Cascais ficaram sem financiamento, à semelhança das únicas estruturas profissionais de Évora (Centro Dramático de Évora) e de Coimbra (Escola da Noite e O Teatrão), além de projetos como Cão Solteiro, Bienal de Cerveira e Chapitô.
Neste contexto, em entrevista à agência Lusa, o diretor do Teatro Experimental de Cascais, Carlos Avilez, disse estar "perplexo" com o facto de o TEC estar excluído dos subsídios plurianuais ao teatro, de acordo com os resultados provisórios dos concursos da Direção-Geral das Artes (DGArtes).
"Este palco faz 52 anos, por ele passaram grandes nomes do teatro mundial, inclusive, grandes espetáculos. Temos um elenco de gente jovem da maior qualidade, está o Ruy de Carvalho (...) e, de repente, acaba-se com o TEC? É uma coisa absurda. Uma coisa que em 52 anos nunca ninguém se atreveu a fazer", sublinhou Carlos Avilez.
Para o diretor do TEC, é "impensável" que a companhia que dirige possa não ser subsidiada nos próximos quatro anos, numa altura em que já está projetada uma sala nova para a companhia.
"Então vamos ter uma sala nova e acabam connosco?", questiona Carlos Avilez, sublinhando que o TEC "não é um museu".
"Estamos vivos e bem vivos e temos obra feita", observou, acrescentando estar convicto de que se resolva o problema das companhias não subsidiadas.
"Não acredito que o senhor primeiro-ministro não reaja a uma coisa destas, porque toda a gente está a reagir", disse. E mostrou-se solidário com todas as companhias, sejam ou não subsidiadas.
"Isto não é uma divisão de classe. Isto é uma falta de respeito pela classe, que é uma coisa completamente diferente", frisou Carlos Avilez.
O diretor do TEC acrescentou que, antes do 25 de Abril de 1974, passou por muitas situações difíceis, teve espetáculos proibidos pela censura, mas nunca se viu confrontado com a hipótese de a companhia poder acabar.
"E nunca pensei que isto acontecesse com este Governo", pelo que vai estar presente, na sexta-feira, na concentração em frente ao Teatro Nacional D. Maria II, que já dirigiu.
"Na sexta-feira vou estar por baixo da janela do Nacional D. Maria, que dirigi durante sete anos", frisou. "E não esperava estar sujeito a isto, mas isto não é uma questão pessoal, mas de classe".
Para Carlos Avilez, a situação gerada pela DGArtes teve um ponto positivo: "Conseguiu reunir a classe". Um "imperativo" de há muito, porque não é só o presente do teatro que está em causa, mas também o futuro", referiu.
Carlos Avilez sublinhou ainda o trabalho importante que o TEC tem desenvolvido na vila de Cascais, onde o teatro esgota salas.
"Foi um percurso de 52 anos, de 25 anos de escola de teatro e não há direito que se acabe assim com ele", afirmou.
Na quarta-feira, o Teatro Mirita Casimiro abre portas à população de Cascais para que possa assitir à peça que tem em cartaz -- "As you like it -- Como vos aprouver", sobre o clássico de William Shakespeare, com interpretações de Ruy de Carvalho, Bárbara Branco e José Condessa, entre outros atores.
Será uma récita gratuita para a população que apenas terá de levantar os ingressos com antecedência, concluiu.
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