Na II Liga não falta talento com a bola nos pés. O avançado georgiano Avto é um desses casos. Depois de quatro anos ao serviço do Gil Vicente, no passado verão Avto mudou-se para Viseu para representar um Académico que sonhava com a subida. No entanto, as contas da equipa da Beira Alta acabaram por ficar estragadas por dois pontos. O Académico terminou em terceiro lugar da II Liga e viu Nacional e Santa Clara subir de divisão.
Avto, porém, já não é jogador do Académico de Viseu. O internacional georgiano tinha assinado um contrato de uma época e quer agora dar o salto para outras paragens. A garantia foi dada pelo próprio em entrevista ao Desporto ao Minuto.
"Foi uma época interessante, porque lutámos por um objetivo que era a subida. Foi uma época coletiva e individualmente bastante boa, mas foi pena acabarmos em terceiro lugar. Depois de tudo o que se passou durante a época tínhamos todas as condições para subir [à I Liga], mas pronto. Faz parte. A II Liga é muito difícil e competitiva. Foi triste acabar em terceiro e a dois pontos da subida. Ainda assim, faço um balanço positivo porque há muitos anos que o Académico não lutava pelos lugares cimeiros. Foi muito bom, a equipa jogava para ganhar e para subir", começou por contar Avto, antes de abordar a polémica em torno da subida do Santa Clara.
"Eles não tiveram os tais jogadores sub-23 que são obrigados a ter, toda a gente sabe disso. Eles não tinham, mas nós também sabemos que estas coisas levam tempo a resolver-se. Eles, tudo bem, jogaram, ganharam, tiveram o mérito de ficar em segundo lugar e estão de parabéns. Mas também fica algum sentimento de injustiça pelas regras que não foram cumpridas e que têm de ser alvo de castigo. Mas são coisas que podem levar muito tempo. Faltou-nos ali uma vitória num ou noutro jogo...", explicou o avançado que assinou sete golos em 32 jogos pela formação de Viseu.
Sobre o futuro, Avto garante que neste momento está a analisar propostas do estrangeiro e confirma também que já foi sondado por um ou outro clube de Portugal.
"Neste momento, sou jogador livre porque acabei contrato com o Académico. Sinceramente, o futuro não passa por lá. Se subíssemos havia essa possibilidade, mas está na altura de mudar com todo o respeito pela II Liga. Sei aquilo que mereço e em que nível posso jogar. Espero que surja uma oportunidade na I Liga ou no estrangeiro. Ou regresso à I Liga para um bom projeto ou vou embora. Jogar na I Liga é um prazer. É uma liga muito forte e conhecida", afirmou Avto, deixando ainda algumas pistas sobre o futuro.
“Já me abordaram alguns clubes. Neste momento, concretamente da Roménia, Polónia… Há uma ou outra equipa em Portugal, mas não é nada de muito concreto. Gostava de ficar do centro da Europa, perto de Portugal, mas se tiver que ir um bocadinho mais longe também não há problema. Espero dar um passo em frente e ir para algo melhor. Foi uma boa época e agora vamos ver", sublinhou.
Gil Vicente na memória
Avto é uma cara bem conhecida em Barcelos. Durante quatro anos, o avançado georgiano contabilizou 120 jogos e apontou nove golos ao serviço do Gil Vicente. Avto não esquece os "bons e maus momentos" vividos no norte do país e revela o porquê de ter deixado os gilistas no verão de 2017.
[Avto jogou durante quatro temporadas ao serviço do Gil Vicente.]© Global Imagens
"Estive quatro anos no Gil Vicente e vivi lá muita coisa. Estivemos na I Liga, depois descemos. Sinceramente, não queria ficar na II Liga, mas tinha um contrato para cumprir e depois sabia que era preciso mudar. Tive várias propostas da I Liga e do estrangeiro, mas depois, por alguma culpa minha, deixei passar e acabei por ir para a Académico. O projeto do Académico era agradável e lutava pela subida", frisou, prosseguindo.
"Vivi bons e maus tempos no Gil Vicente. Mas já estava a acusar algum cansaço e cheguei a um ponto em decidi que tinha de mudar. Precisava de um desafio novo e de algo diferente", rematou.
Dez anos em Portugal
Afinal de contas, como é que um georgiano se adapta a Portugal? Avto acredita que a paixão pelo futebol e a forma como foi recebido pelos portugueses ajudam a explicar o porquê de a adaptação ter sido "fácil" e "boa". Prova da adaptação bem sucedida é o português deste georgiano: Avto tem grande domínio sobre a língua portuguesa.
"Achei que iria ser difícil adaptar-me. Cheguei em 2007 a Lagos e as pessoas foram muito simpáticas. Receberam-me muito bem. Isso ajudou-me muito na adaptação. Digo a todos os meus amigos que as pessoas em Portugal são muito humildes e que recebem muito bem as pessoas de fora. Acabou por ser fácil. Comecei a falar português e fui melhorando. Para mim, acabou por ser fácil ao mesmo tempo que foi muito bom", explicou Avto, antes de enumerar as semelhanças entre a Geórgia e Portugal.
"Olhe, para começar, gosto muito da comida portuguesa e da comida georgiana. Claro que há algumas diferenças [entre os dois países]. Mas, por exemplo, não vejo muitas diferenças nas pessoas, porque os georgianos também são conhecidos por receber bem as pessoas de fora. E as praias... aqui também há praias lindas, mas em Portugal têm das melhores do mundo. Acabam por ser bastante similares", considerou.
[A época de 2017/18 foi a melhor época a nível individual para Avto com sete golos em 32 jogos.]© Global Imagens
Uma certeza e o que ainda falta conquistar
Avto não esconde a ambição de chegar mais longe na carreira. Questionado sobre aquilo que ainda lhe falta alcançar, o avançado de 26 anos revela o desejo de voltar a vestir a camisola da seleção da Geórgia e de chegar a um 'grande' da Europa.
"O meu objetivo é voltar à seleção. Sei que vou voltar, mais cedo ou mais tarde. Já tive lá várias vezes e será sempre um prazer jogar pelo meu país. E, claro, tenho o objetivo de jogar num grande clube da Europa. Sei da minha qualidade e do que sou capaz de fazer. É tudo uma questão de sorte, de te cruzares com a pessoa certa. Mas isto no futebol faz parte. Sei que sou capaz e é uma questão de continuar", finalizou Avto.