"Sp. Braga campeão? As pessoas do futebol português nunca vão deixar"

Pedro Tiba mudou-se este verão para a Polónia e garante ter feito a melhor escolha numa fase da carreira que antevê como decisiva. Aos 30 anos, o médio português 'pegou de estaca' e já é um dos capitães do Lech Poznań, equipa onde assume um papel chave. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Tiba explica o porquê de rumar ao estrangeiro, revela-se "aborrecido" com o futebol português e admite que lhe falta jogar na Liga dos Campeões.

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© Reprodução Facebook Lech Poznań

Francisco Amaral Santos
17/10/2018 13:02 ‧ 17/10/2018 por Francisco Amaral Santos

Desporto

Pedro Tiba

Os jogadores portugueses estão espalhados pelos quatro cantos do mundo e a Polónia revela-se, atualmente, como um dos destinos mais atrativos. Em termos financeiros, a realidade polaca parece estar vários furos acima do futebol português e a atenção dada pelos adeptos é manifestamente mais elevada. 

Foi nesse sentido que Pedro Tiba mudou-se este verão para o Lech Poznań, equipa onde também milita o português João Amaral, e garante que não poderia ter tomado melhor opção na carreira.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o médio português de 30 anos, que já passou pelo Desportivo de Chaves, Sporting de Braga e Vitória de Setúbal, revela-se triste e aborrecido com o futebol português e explica o que, na sua opinião, ainda lhe falta alcançar na carreira. 

 

Estou aqui com a minha mulher e o meu filho e temos uma vida tranquilaComo está a correr esta aventura na Polónia?

A nível pessoal tem sido muito positivo. Tenho jogado os jogos todos, fiz praticamente todos os minutos, tenho feito golos e assistências e também sou um dos capitães de equipa. Portanto, a nível pessoal as coisas estão a correr mesmo muito bem.

A adaptação foi complicada?

Para ser sincero, pensei que iria ser mais difícil. É lógico que tive algumas dificuldades, como a língua, mas como falo algum inglês, e o treinador fala português, além de ter aqui o João [Amaral], e há mais um argentino, um espanhol… Ou seja, é uma dificuldade que estamos a conseguir ultrapassar. Adaptei-me muito bem, o futebol aqui é um bocadinho diferente do nosso [futebol português], é mais físico e a forma de trabalhar é um pouco diferente, mas consegui adaptar-me muito bem. Estou aqui com a minha mulher e o meu filho e temos uma vida tranquila.

E em termos culturais que país encontrou?

Isso é uma das principais dificuldades para a família. Estamos habituados a Portugal, onde as pessoas são acolhedoras, simpáticas e onde toda a gente fala com toda a gente. Aqui é diferente. As pessoas são mais fechadas, mais frias e cada uma está na sua vida. Não se relacionam assim tão facilmente com outras pessoas que não conhecem. É uma dificuldade, mas, aos poucos, temos de nos acostumar e habituar a isto.

Como são as condições do clube?

São de topo. São muito boas e estão ao nível dos três grandes em Portugal. Esta é uma equipa grande na Polónia. Há muito boas condições, os estádios são praticamente novos, há muitos academias e muitos campos de treino. O Lech é um clube muito organizado e que tem a academia mais forte do país. É um país maior do que Portugal e que tem uma cultura diferente da nossa. Enquanto nós, na formação em Portugal, somos mais ensinados técnica e taticamente, aqui [na Polónia] eles dão maior importância à parte física. Portanto, é lógico que o futebol não tem tanta qualidade. Mas têm melhores condições e ainda há a parte das assistências. Eu ainda não joguei um jogo em casa com menos de 20/25 mil pessoas nas bancadas.

Notícias ao MinutoPedro Tiba já apontou três golos em 17 jogos com a camisola do Lech Poznań. © Reprodução Facebook Lech Poznań

Isso motiva-o mais?

Sim, muito mais. Em Portugal, tirando os jogos com os grandes, que têm em média 30 mil pessoas, o Sp. Braga tem nove mil e os outros têm três/quatro mil… Aqui, seja contra o primeiro classificado ou seja contra o último, temos sempre 30 mil pessoas nas bancadas. Isso é fantástico. Fiquei muito surpreendido com o ambiente. Já sabia que era assim, porque me informei antes de vir, mas ao vivo é ainda melhor.

No jogo entre a seleção polaca e a seleção portuguesa ficou bem evidente esse ambiente…

Eles aqui têm uma tradição de fumos e de cores que usam durante o jogo. Coisas que em Portugal e Espanha não são permitidas. Aqui é permitido e fica espetacular quando se olha para as bancadas. É mesmo impressionante. Uma coisa é estar num clube do meio da tabela em Portugal, em que tens três ou quatro mil pessoas nas bancadas, caladinhos e sem fazer muito barulho. Aqui é barulho do início ao fim.

Notícias ao MinutoDepois de brilhar em Chaves, Tiba aceitou o convite polaco e mudou-se para o Lech. © Reprodução Facebook Lech Poznań

Voltando um bocadinho atrás… Como aconteceu esse convite do Lech Poznan? Disse logo que sim ou hesitou?

Pois... hesitei muito. Eu nunca tomo nenhuma decisão sem pensar muito sobre o assunto. Até hoje foi assim. Tive um ano que me correu bem e tinha várias ofertas, principalmente do campeonato turco. Mas o que me fez aceitar foi o facto de ser um clube grande, que luta por títulos e que está na Liga Europa. E foi o clube que demonstrou, quase todos os dias, que me queria. E, em termos financeiros, também era uma proposta tentadora. Não posso fugir disso. Entre estar num campeonato turco ou espanhol a lutar para não descer, preferi vir para um campeonato que, embora não tenha tanta visibilidade, me dá a oportunidade de estar numa equipa que joga para ser campeã e que está nas competições europeias. Como tenho 30 anos, provavelmente já não teria outra oportunidade assim...

Acabou por escolher uma equipa que estivesse mais perto de ganhar títulos…

Sim, uma equipa que ganhe títulos. Em termos financeiros a diferença era muito pouca, mas eles fizeram um esforço muito grande para me contratar, sou umas das contratações mais caras do clube. Comecei a tentar perceber como era o campeonato e decidi vir para aqui. Até hoje estou certo que foi a melhor decisão.

O facto do treinador Ivan Durdevic falar português também ajuda?

Sim claro, ele fala muito bem português. Passou por Portugal, jogou no Vitória, no Belenenses e no Farense, se não estou enganado. Para nós portugueses é uma grande ajuda. É mesmo fundamental.

E as saudades de casa, como se lida com essa parte?

Eu sou uma pessoa muito ligada à família e aos amigos. Mas tenho aqui a minha família mais próxima. Tenho aqui a minha mulher, o meu filho e agora vai nascer o meu outro filho daqui a dois/três meses… Por isso, eu passo a maior parte do tempo com eles. Ou estou a treinar ou estou com eles. Além disso, o campeonato parar duas vezes, em dezembro e outra em junho, também facilita. Essas paragens ajudam a matar as saudades de casa.

Continua a acompanhar o campeonato português?

Sim, vou tentando. Sabe que com um filho pequeno não é fácil, a televisão está sempre na BabyTV (risos). Vou acompanhado os resultados e de vez em quando vejo um jogo ou outro. Não consigo ver tudo também por causa dos estágios… Mas eu também quis sair de Portugal porque estava um bocadinho aborrecido com o futebol português. Não sei o dia de amanhã, mas uma das minhas pretensões é não voltar mais a Portugal.

Notícias ao MinutoPedro Tiba num jogo entre Chaves e Sporting. Aqui, num intenso duelo com o uruguaio Coates. © Global Imagens 

Porquê? Por todo o clima de suspeição que se tem vivido no futebol português?

Sim, também. Conhecendo outras realidades e outras culturas, percebe-se que temos um bom campeonato, mas diz-se tanta asneira e faz-se tanto mal ao futebol português. Depois de chegar a outro país e estar feliz… Mas, atenção, sou muito patriota e gosto muito de Portugal. Devo tudo ao futebol português. Mas estou tão bem aqui e olhando para o futebol português, onde há tanto desequilíbrio … Estou um bocadinho desiludido. Não me passa pela cabeça voltar.

Tirando aqueles últimos seis meses no Sp. Braga, as coisas têm corrido bem

Mas este ano temos um Sporting de Braga mais perto de ser candidato?

Eu tenho de ser sincero. O Sporting de Braga até pode ser candidato e lutar pelo título, mas as pessoas do futebol português nunca vão deixar isso acontecer. Pode acontecer, estar ali pertinho, mas o normal é ser um dos três grandes. É assim que está sistematizado para ser Portugal. Nem os grandes deixam que assim não seja. Parece-me que o Sp. Braga está a crescer, está cada vez maior, tem feito plantéis de grande qualidade e trabalha quase tão bem como os grandes. Mas, na minha opinião, é praticamente impossível o Sp. Braga ser campeão. Mais sincero não posso ser.

Para trás, ficam ainda duas aventuras no estrangeiro. Uma na Grécia e outra em Espanha. Que recordações guarda?

Bem, a da Grécia já foi há 12 anos… Já foi há muito tempo. Quando fui para lá, tive uma lesão, houve problemas financeiros e as coisas não correram como esperado. Tinha 17 ou 18 anos, também era muito novo. Mas foi uma experiência que me fez crescer não só como jogador, mas como pessoa. Relativamente a Espanha, gostei mesmo muito da II Liga espanhola. Gostei muito de viver lá. Aliás, o meu filho nasceu lá! Tenho excelentes recordações desse período. Tenho tido um percurso bom porque tive sucesso nos clubes pelos quais passei. Tirando ali aqueles últimos seis meses no Sp. Braga, de resto as coisas tem corrido bastante bem.

Falando um bocadinho desse trajeto, o que faltou para subir mais um degrau no futebol português? Em 2014, chegou a falar-se no interesse do Benfica…

Eu acho que faltou alguma coisa. Aliás, faltou de certeza. Não gosto de me desculpar com nada, por isso culpo-me a mim próprio. Mas devo ter algum defeito para não ter chegado a um dos grandes. Mas também a cultura portuguesa não é fácil. No futebol português, é mais fácil ir buscar um estrangeiro que ninguém conhece por seis milhões de euros do que ir buscar um português que está a fazer um bom trabalho numa equipa pequena por 300 mil euros. É assim que funciona… O adepto português tem mais paciência para um jogador que não conhece de lado nenhum, mas que custou milhões, do que para um jogador que sai do Vitória de Setúbal. Disso tenho a certeza absoluta e se pensarmos bem é assim que funciona. Faz parte da nossa cultura.

Notícias ao MinutoPedro Tiba esteve ligado ao Sporting de Braga durante quatro temporadas. Aqui figura ao lado de Rui Fonte e Pedro Santos, dupla que também já deixou o emblema minhoto. © Global Imagens

Aos 30 anos o que lhe falta alcançar na carreira?

Gostava muito de ser campeão aqui e de ganhar a Taça. Também gostava de ter oportunidade de jogar a Liga dos Campeões. Já tive a oportunidade de jogar a final da Taça de Portugal, a Supertaça, a Liga Europa e já fui chamado uma vez à seleção nacional. Tenho isso tudo no meu percurso e 'falta-me' jogar a Champions.

É agora um jogador feliz na Polónia?

Sim, muito feliz.

E a Polónia é um bom destino para os jogadores portugueses?

Sim, porque tem melhores condições financeiras. E depois, entre ser um jogador que está a meio da tabela em Portugal, prefiro não ser apenas mais um, mas ser um. Tenho a possibilidade de lutar por títulos e de jogar nas competições europeias.

Notícias ao MinutoPedro Tiba já foi promovido ao lote de capitães do Lech Poznań.© Reprodução Facebook Lech Poznań

 

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