Cinco anos depois Jorge Jesus está de regresso a uma casa que tão bem conhece. O treinador português irá entrar novamente no estádio da Luz, depois de passagens pela casa do eterno rival, Sporting, de uma travessia asiática na Arábia Saudita (Al Hilal) e, por fim, de um 2019, que colocou o técnico no estrelato mundial.
Foi no Flamengo que Jorge Jesus atingiu o maior número de conquistas no mais curto espaço de tempo. Afinal 57 encontros bastaram para almejar seis títulos - Campeonato, Libertadores, Supertaça do Brasil, Supertaça Sul-Americana, Taça Guanabara, Carioca -. um número que supera o das derrotas do emblema carioca no seu reinado, deixando milhões de adeptos ‘abraçados’ a um nome que jamais esquecerão.
Jesus levou o Mengão à conquista da Libertadores, da Supertaça sul-americana e só o Liverpool travou o caminho perfeito de uma equipa que ganhou e só lhe escapou, pelo intervalo dos dedos, o tão desejado Mundial de Clubes.
[Jorge Jesus após conquistar a Copa Libertadores]© Getty Images
Recuemos a 18 de junho de 2009
"Vou ser o 63.º da história do Benfica. Quero fazer parte da história do clube, quero ganhar títulos no Benfica. Não vim por questões económicas. Vim com a certeza e convicção que vou ser campeão nesta casa", referia Jorge Jesus, ao lado de Luís Filipe Vieira e Rui Costa, numa conferência de apresentação que ficou célebre por uma promessa.
"Quem vem para esta casa, só pode ter um pensamento (ser campeão). Não pode ter outro". E foi ainda mais longe, asseverando: “Em termos individuais, o Benfica tem excelentes jogadores. Comigo vão jogar o dobro do que jogaram no ano passado."
E Jesus cumpriu efetivamente a promessa. O Benfica ligou o rolo compressor e de goleada em goleada arrecadou o tão desejado título, o que já fugia desde 2005.
O Benfica vencia, goleava e até… abusava da nota artística. "Há três factores importantes (num jogo de futebol): a vitória, golear, e a nota artística. Mas este último é na patinagem artística."
Jesus efetivamente não foi “politico” no Benfica
Com ou sem patinagem artística, Jorge Jesus, atualmente com 65 anos, cimentou o mais longo período como treinador no comando técnico das águias. Recorrendo a mais uma das suas célebres e icónicas afirmações: "Se alguns políticos fossem treinadores não resistiam muito tempo nas equipas."
Efetivamente, Jesus resistiu e muito. Desde que chegou à Luz, no verão de 2009, o treinador luso levou as águias à conquista de dez títulos oficiais: três Ligas, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e cinco taças da Liga. A que se junta ainda a presença em duas finais da Liga Europa, perdidas para Chelsea e Sevilla.
Jorge Jesus orientou o Benfica em 321 jogos oficiais, tendo um saldo de 225 vitórias (70% do total), 51 empates (16%) e 45 derrotas (14%), o que se traduz numa media de pontos de 2,27.
Se olharmos apenas para o campeonato nacional, prova em que conquistou três edições em seis, a taxa de sucesso é de 75,5% (139 em 184 jogos) contra 15% de empates (27) e apenas 10% de derrotas (18).
[Jesus a representar o Benfica nas competições europeias]© REUTERS
Nas provas europeias, Jesus orientou o Benfica em 78 jogos, dos quais 38 na Liga dos Campeões e 40 na Liga Europa. Na maior prova europeia tem saldo neutro (37% de vitórias e de derrotas, 14 em 38), já na segunda competição de clubes arrecadou 26 vitórias em 40 jogos (65%) e somente seis desaires (15%).
E com isto tudo parafraseamos novamente Jesus: "Para mim, um treinador não tem passado nem futuro, só tem passado."
Um passado que colocou o nome de Jesus num patamar de longevidade em que é dono e senhor do altar: é o técnico do Benfica com mais jogos orientados (superou os 272 de Janos Biri em agosto de 2014) e também com mais troféus.
"O treinador tem de ver coisas que mais ninguém vê."
E esta frase, que o leitor já calcula de quem é, pode levar a muitas interpretações, sobretudo tirada fora do contexto. Mas colocamo-la aqui para levantar um dos temas mais controversos da sua passagem na Luz: a formação.
O Seixal nunca esteve, num primeiro foco, na linha de apostas de Jorge Jesus e sempre que se toca no assunto vem à baila o assunto Bernardo Silva, atleta que fugiu para o Monaco por ‘apenas’ 15,75 milhões de euros.
"Formação? Nestes seis anos no Benfica houve alguns jogadores, como André Gomes, André Almeida, Ivan Cavaleiro, João Cancelo, Oblak, Bernardo Silva... Mas hoje os miúdos da formação dos três grandes não têm o mesmo pensamento que eu tinha quando era novo. Os miúdos da formação têm como objetivo ir para o estrangeiro, no meu tempo era chegar à equipa principal. Nestes seis anos houve um leque de jogadores do Benfica como André Gomes, Cancelo, Bernardo, que depois saíram. Mas antes tiveram de treinar e desenvolver as suas capacidades nos juniores, equipa B e equipa principal do Benfica", assim justificou Jorge Jesus uma aposta que nunca foi prioritária e muito à custa de quem ‘morava’ na equipa principal na altura.
[Bernardo Silva no Benfica]© Global Imagens
"O Bernardo Silva é um talento, como está a mostrar, assim como o André Gomes. Só que no Benfica jogava numa posição onde as prioridades na altura eram o Gaitán e o Salvio. Não era fácil ter oportunidades para jogar. Claro que ele tem talento, como está a mostrar no Mónaco onde tem mais possibilidades de jogar e tem mostrado grande potencial. Mas isso é fruto da sua qualidade", referiu o técnico, nessa altura já ao serviço do Sporting.
“O Benfica ganhou limpinho, limpinho."
Tantas e tantas vezes se ouviu esta frase da boca de Jesus, depois de jogos em que se questionava a qualidade da equipa ou, por outro lado, Jesus via a sua equipa ser acusada de ir a reboque de algumas arbitragens.
Não se preocupe caro leitor o tema que se segue nesta longa odisseia de Jesus pelo mundo encarnado não é para falar sobre os homens do apito, mas dos homens a quem o treinador deu maior preferência no seu reinado.
E, concomitantemente, pelo facto de Jesus ter passado seis anos na Luz, os que o treinador sexagenário mais apostou ao longo da carreira.
Numa lista liderada por Maxi Pereira, Luisão e Nico Gaitán, as atenções viram-se para quem mora no quinto posto. Tem um palpite?
Nada mais nada menos do que o vigente treinador do Sporting, a quem Jesus deu a titularidade por 173 ocasiões.
[Jorge Jesus a orientar Rúben Amorim no Benfica]© Global Imagens
Continuamos na senda dos números, mas agora para falar de cifrões
Foi tema de café e agora irá voltar a ser um dos assuntos que mais preocupará a nação benfiquista. Afinal, quanto está disposto Vieira a investir no plantel principal? Quantos euros estarão reservados para reforços?
Não sabendo o que o futuro nos reserva, importa olhar para o passado e decifrar o que foi gasto por Jesus em reforços nas seis épocas como treinador das águias, colocando em contraponto o valor o dos ganhos em vendas e por aqui percebemos que só por duas ocasiões houve prejuízo.
Época | Receitas | Despesas | Balanço |
2009/10 | 6,83 milhões | 34,3 milhões | - 27,47 milhões |
2010/11 | 85,6 milhões | 40,83 milhões | + 40,83 milhões |
2011/12 | 41,19 milhões | 30,96 milhões | + 10,23 milhões |
2012/13 | 75,73 milhões | 29 milhões | +46,73 milhões |
2013/14 | 44,3 milhões | 55,75 milhões | -11,45 milhões |
2014/15 | 104,65 milhões | 38,65 milhões | + 66 milhões |
Por aqui concluímos que os anos em que o saldo foi mais positivo remontam à época de despedida de Jesus da Luz, à frente de temporadas como a de 2010/11 e 2012/13.
Noutro prisma, como se traduz esta análise no valor de mercado da equipa? Também através do portal Transfermarkt verificamos que houve uma curva ascendente até 2012/13, sendo que a equipa valia menos 33 milhões de euros comparativamente ao ano que antecedeu à chegada de Jesus.
Temporada | Valor de mercado da equipa |
2008/09 | 116,2 milhões de euros |
2009/10 | 149,5 milhões de euros |
2010/11 | 168,10 milhões de euros |
2011/12 | 179,5 milhões de euros |
2012/13 | 254,95 milhões de euros |
2013/14 | 235,50 milhões de euros |
2014/15 | 196,6 milhões de euros |
Por fim, percebemos que a temporada 2012/13 catapultou o Benfica para a equipa com valor de Mercado mais elevado – 254,95 milhões de euros, curiosamente numa temporada em que o título da I Liga sucumbiu no Dragão aos pés de Kelvin, aos 90+2, para em Amesterdão, no mesmo minuto, o Chelsea ‘raptar’ o sonho europeu do Benfica.
As cartas estão lançadas e, por entre vários números, cabe agora fazer as previsões de como será a segunda vida de Jesus no bastião da Luz. "Não sou Eça de Queiroz. Têm de me julgar como treinador. Se sou bom ou não."