Ricardinho despediu-se nesta terça-feira da seleção nacional de futsal. O ala de 36 anos anunciou em conferência de imprensa na Cidade do Futebol que chegou ao fim a sua aventura na seleção, depois de completados 187 jogos com 141 golos. A carreira do jogador segue, sem grandes metas para o futuro, apenas com a certeza de que a decisão tomada foi difícil, mas acertada. Ricardinho venceu um Europeu e mais recentemente um Mundial de futsal ao serviço da seleção portuguesa.
O discurso de Ricardinho:
"Hoje vim aqui anunciar o final de um ciclo. Apesar de me custar muito, foi sem duvida uma caminhada incrível, inesquecível. Foi uma caminhada incrível, com altos e baixos como tudo na vida".
"Sabia que só tinha mais uma bala no cartuxo para disparar, o Mundial da Lituânia. Para quem não sabe, quando jogámos o apuramento na Póvoa do Varzim, contra a Itália, também me caíram as lágrimas quando ouvi o hino. Podia ter sido o meu último jogo na seleção, dependendo do desfecho daquele jogo. Conseguimos o apuramento e sabia que o Mundial seria o último capítulo na seleção. Toda a gente sabe e viu a minha dedicação na última caminhada, agarrei-me aos meus companheiros, à crença do treinador e aos portugueses. Termina da melhor maneira esta página no livro do futsal, um Campeonato da Europa, um Mundial, vários títulos individuais. Por isso, hoje venho aqui dizer com muita pena minha que vou dizer um até já à seleção nacional, é a decisão mais difícil que estou a tomar na minha carreira desportiva, mas acho que é hora de dar lugar aos demais, aos mais jovens. Sinto que tudo aquilo que tinha a dar à seleção eu dei desde os meus 16 anos até ao dia de hoje. Espero que compreendam a minha decisão, vou continuar a ser português, a apoiar os meus companheiros e o crescimento desta nossa modalidade".
Última internacionalização e ser embaixador da seleção de futsal: "São dois pedidos muito fáceis de aceitar. Obviamente que seria de todo o meu orgulho e seria mais uma oportunidade de realizar um sonho pela seleção, que é entrar num jogo com os meus dois filhos. Quanto ao ser embaixador, desde sempre tentei trabalhar para deixar a marca, tentei ser uma influência para que os mais jovens pratiquem desporto. Acho que acima de tudo consegui e acho que ficou marcada esta historia na qual neste momento sou a cara, mas que teve vários colegas por trás para que fosse possível acontecer".
Recordes individuais: "Ainda tenho alguns anos para dar ao futsal e para jogar futsal nos clubes. Esta decisão é somente quanto à seleção. Acho que os recordes são para serem batidos e nesse caso gostaria que fosse pelos meus colegas".
Regressar ao futsal português e o novo "10" da seleção: "Sinceramente nunca fui uma pessoa de traçar as etapas para o futuro, deixo as coisas fluírem, foco-me no trabalho diário e foi por isso que consegui tantos êxitos. Quanto à camisola 10, isso é problema para o mister Brás. Mas tenho duas certezas: a camisola vais ser dada a um muito bom jogador e que a braçadeira vai ser muito bem entregue".
Recorde de internacionalizações: "O recorde que faltou foi ganhar mais troféus, mais europeus. Tenho pena de não ter jogado mais jogos pela seleção porque é sempre um privilegio jogar aqui, ouvir o hino e no final sorrirmos todos. Sempre quis dar o máximo à modalidade porque ela também me deu tudo. O recorde de internacionalizações fica bem entregue ao eterno capitão Arnaldo".
Carreira na seleção numa palavra: "Definir com uma palavra é difícil, mas diria que foi excelente, cumpri todos os objetivos, ganhar títulos, ser uma referência, tento ir ao máximo de escolas, clubes, instituições, partilhar a minha caminhada, mostrar que é possível. Quero que olhem para mim e pensem que é possível superar tudo".
Saída da seleção: "Não é que não me sinta útil ou capaz. Tudo o que é a nível físico sei que me posso superar porque trabalho. O problema é a exigência que coloco em mim nos últimos 18 anos da carreira. Por onde passei quis sempre ser preponderante e dar o melhor, mas isso causa um desgaste mental, e foi por isso que tomei esta decisão. A exigência de ser o melhor, ser um exemplo, é muito difícil. Acho que dei o melhor por isso durante todos estes anos, mas temos de saber sair, dar lugar a outro. Foi difícil? Sim, foi muito ponderado, falei com a família, com os colegas, com o mister. Eu por mim jogaria até aos 50 anos com a seleção, até não poder mais, mas acho que não tem de ser assim, até porque Portugal tem talento a formar. Por vezes dar um passo ao lado não é sinal de fraqueza, é abrir portas a outros colegas".
Problemas mentais e mensagem ao "miúdo" de 16 anos: "Às vezes sentes-te bem fisicamente, mas a cabeça, com o desgaste de todos os anos, não te dá a força que precisas. Agora estou a ganhar forças para ir treinar e não para ir para o treino. Tens de ser mais um para ajudar, mas não só mais um ali. Tens de querer ser o tal. Ao miúdo de 16 anos, que chegou a Rio Maior, olhava para ele e diria: 'parabéns, conseguiste'".
Melhor momento na seleção: "Nós normalmente focamo-nos nos momentos mais felizes, mas vou marcar um momento que acho que nos podia ter feito chegar mais longe e quem sabe tocar o céu mais cedo. Na Tailândia, quartos de final, estávamos empatados 2-2 com a Sérvia e fomos ganhar 4-3 no prolongamento. Foi importante porque senti que faltava aquele clique para sermos melhores. Podia ter falado do primeiro golo num Mundial, num Europeu, mas este momento foi o decisivo para acreditar que podíamos dar mais e sermos melhores".
[Notícia atualizada às 16h13]
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