Portugal teve uma noite perto de épica na quinta-feira. A seleção nacional conseguiu um resultado convincente frente à Turquia e marcou presença na final do playoff de acesso ao Mundial'2022.
Apesar do resultado de 3-1 conseguido, a exibição de Portugal deve ser revista e corrigida por Fernando Santos. A equipa das quinas concedeu várias oportunidades em zonas proibidas numa altura em que o resultado estava totalmente em aberto, ouviu o raspanete das bancadas do Estádio do Dragão, que foram do oito ao oitenta nesta partida, e podia ter complicado o jogo. A seleção nacional passou de quase fechar o resultado com um terceiro golo para quase deitar tudo a perder e sofrer o empate.
Da linha defensiva para a frente, os destaques foram vários e qualidade foi bastante. Ainda assim, as oportunidades são para ser transformadas em golo. Portugal fez 16 remates, sete à baliza, e marcou três golos, um deles numa fase já tardia do jogo. É preciso concretizar mais para sofrer menos.
Com este resultado, Portugal vai estar na final do playoff frente á Macedónia do Norte e esse jogo será uma grande surpresa. Desde logo pelo facto de ser a Macedónia do Norte a chegar a esse jogo e não a Itália, considerada mais forte entre as duas, e depois pelo elevado desconhecimento de ideias de jogo da equipa. Ambas defrontaram-se apenas duas vezes, tendo sido a última em 2012.
Fica em alta a expectativa para essa final, mas, por agora, vamos às notas deste jogo.
A figura
Uma grande figura, de qualidade, de entrega, de compromisso. Ao mesmo tempo uma surpresa, pela imprevisibilidade, por não ser a figura que mais prometia antes do apito inicial. Otávio foi, acima de uma caixinha de surpresas, o melhor elemento de Portugal. Tal como João Moutinho, o médio do FC Porto foi o motor da equipa, promoveu várias jogadas de ataque, apareceu em espaços abertos pela defesa turca e esteve bastante ativo nas manobras ofensivas da equipa. Defensivamente, por vezes sozinho, outras vezes com auxílio de Bruno Fernandes, esteve sempre em cima do adversário e fechou a saída de bola da Turquia. Marcou o primeiro golo da partida, abriu caminho á vitória, e deu a marcar a Diogo Jota. Uma boa aposta de Fernando Santos.
A surpresa
A ausência de João Cancelo levou a grandes preocupações. O lado direito da defesa ficava descoberto, até que surgiu a opção Diogo Dalot. O jovem defesa foi competente, de qualidade ofensiva, mas, acima de tudo, defensiva. Foi seguro, aplicou-se para ocupar toda a ala direita quando Otávio jogava em zonas interiores e surgiu várias vezes na frente com bola para entregar para golo. Fez alguns cruzamentos de qualidade, nenhum deles deu em golo, mas depois de se tornar titular no Manchester United, abre uma grande perspetiva para aquilo que poderá ser o futuro da ala direita da seleção nacional.
A desilusão
Num jogo em que Portugal não tinha Pepe, o líder do centro da defesa, Fernando Santos apostou numa dupla de centrais com poucas rotinas, como se diz na gíria. Acabou por mandar as mãos à cabeça quando quase perdeu tudo. José Fonte, dos dois, pareceu o menos à vontade na partida. Entregou uma bola na primeira parte, tal como Danilo, mas parecia não conseguir pôr mão na linha defensiva como natural líder da mesma. Esteve mal no golo da Turquia ao deixar Burak Yilmaz fugir à marcação e ficou impactado com o penálti que cometeu, que quase comprometeu a vitória lusa. É preciso ter atenção à linha defensiva e procurar corrigir os erros, não necessariamente tirando José Fonte ou Danilo do onze, mas consertando essas peças para melhor aproveitamento.
Os treinadores
Fernando Santos
Ao fim de vários jogos, um que tenha satisfazido seriamente o português. Uma exibição que não foi de encher o olho, até porque nas bancadas do Dragão deu para ouvir alguma insatisfação com o golo da Turquia, mas uma vitória que deu maior credibilidade ao selecionador nacional. No início, ninguém pensava desta forma, mas Fernando Santos acabou por acertar ao colocar Otávio nas escolhas iniciais e acertou ao jogar com João Moutinho a '6', uma função que não lhe é familiar, mas na qual jogou bem. Não pensou no jogo bem ou mal, pensou no jogo à sua maneira. Não deu corpo à defesa quando os turcos ameaçavam mais, deu prioridade à fluidez ofensiva ao lançar João Félix. Só depois optou por fechar a defesa com William Carvalho e fê-lo bem. A vitória desta quinta-feira foi como o tirar um peso das costas de Fernando Santos, que vem já desde o Euro'2016, apesar de o ter ganho, na corda bamba, segurada pelo adeptos português.
Stefan Kuntz
Sem grande conhecimento de causa, até porque a seleção turca acaba por ser pouco conhecida pelo adepto português, acaba por ficar uma impressão natural do selecionador turco: fez o que pôde. Reconheceu na antevisão que não seria fácil e que seria preciso muita ajuda para passar este jogo, mas acabou por haver ajuda contra a sua equipa, principalmente no penálti de Yilmaz. Olhando para a estratégia definida, Kuntz terá olhado mal para a partida. Definiu o desenho tático com três defesas centrais e dois laterais, mas estes últimos não trabalharam em prol de uma defesa segura e Portugal sentiu-se muitas vezes à vontade na frente de ataque. Ainda assim, interessante equipas, com foco na transição rápida da defesa para o ataque e com potencial para crescer. A nova geração do futebol turco pode permitir ao alemão fazer melhor.
O árbitro
Daniel Siebert não esteve mal. Surpreendeu ao assinalar grande penalidade num lance em que o suposto infrator chuta a zona dos pitons da bota do adversário, mas as regras são entendidas e interpretadas por quem leva o apito à boca. Fora esse lance, teve uma partida tranquila, sem grandes episódios para contestação.
Leia Também: Grande primeira parte disfarça falhas e Portugal está na final do playoff