O jovem natural do Porto e Nuno Borges, ambos nascidos em 1997, fizeram história no Clube de Ténis do Estoril, ao tornarem-se na primeira dupla nacional a ganhar o torneio do circuito ATP, depois de terem conquistado juntos oito títulos 'challenger' nos últimos 12 meses, o que abre aliciantes perspetivas ao melhor jogador português da atualidade na variante de pares.
"Como estou a subir tão rápido, o sonho também começa a ser cada vez maior. Tenho noção de que tenho muito para aprender, mas estou muito perto de jogar os meus primeiros torneios do 'Grand Slam'. Estou a 80 do mundo, mas não quero pôr nenhum limite. Ganhámos no Estoril Open a vencedores do 'Grand Slam', a jogadores do 'top 20' e quero explorar-me, mas o sonho é ser 'top 10', 'top 5' quem sabe? Eu acredito em mim", confessou Cabral, do alto dos seus 1, 90 metros e de sorriso nos lábios, à agência Lusa.
Francisco Cabral, um esquerdino natural, mas que joga ténis com a mão direita -- no sentido inverso ao de Rafael Nadal, um destro que, em 'court', é esquerdino -, não tem medo da ascensão meteórica, "zero", como frisa, porque garante: "Estava e estou preparado. Não me assusta minimamente."
De tal forma que já vê a possibilidade de se estrear em torneios do 'Grand Slam' e logo no seu preferido, Wimbledon, "a casa de Roger Federer", o seu jogador predileto, embora a sua referência seja o norte-americano Jack Sock, que, "não sendo jogador de pares, quando joga, ganha".
"Wimbledon é o meu torneio de sonho. Estou perto, vejo Wimbledon perto, mas não me vou deslumbrar, tenho de continuar a trabalhar, manter o nível, a boa atitude e estar disponível. Se estiver disponível e com boa atitude, vou ganhar jogos e, ganhando jogos, vou entrar em Wimbledon", prevê o tenista do Porto, que bateu as suas primeiras bolas aos quatro anos, por influência do pai, e, entre os nove e os 10 anos, desistiu da natação para se dedicar ao ténis.
Apesar de deter no seu palmarés nove títulos 'challenger', o último conquistado na companhia do polaco Szymon Walkow, em Praga, no fim de semana do 'qualifying' do Estoril Open, é junto de Nuno Borges, um amigo desde os seus 10/11 anos, que tem construído uma carreira com resultados consistentes, que alimentam as suas ambições.
"Quando começámos, não pensávamos em jogar pares, porque o objetivo era tentar a nossa carreira individual. Mas, desde setembro do ano passado, que optei pelos pares. Acreditava e continuo a acreditar muito no meu potencial e no nosso potencial enquanto dupla. Não estava à espera [deste sucesso], mas estava preparado para que acontecesse, porque acho que nós temos potencial", justifica o antigo jogador do Sport Club do Porto, que, dos 19 anos aos 22, esteve no Centro de Alto Rendimento (CAR), antes de treinar na Escola de Ténis da Maia, com Nuno Borges e o técnico João Maio.
A parceria entre os dois arrancou de forma esporádica há cerca de seis anos, quando o maiato teve um mês de férias do 'College' e veio para Portugal, onde jogaram uns 'futures', mas a amizade e a empatia vinham desde uma deteção de talentos de sub-10, em Espinho, como recordou Borges durante o Estoril Open.
Graças a um 'wild card' para o Oeiras Open 2, em abril de 2021, ganharam o primeiro 'challenger', e, desde então, foram mais sete, antes da estreia no circuito ATP com a conquista do troféu.
"A minha teoria é que havendo uma cumplicidade extra ténis, uma amizade, interesses comuns, acaba por ajudar dentro do 'court'. Nós não somos assim tão parecidos, aliás somos bastante diferentes, mas já estou muito habituado a conviver com ele e ele comigo, sabemos as rotinas um do outro, respeitamo-nos e, lá dentro, isso acaba por se refletir. Sei do que ele precisa quando está a ficar um bocadinho mais nervoso, quando sou eu a ficar nervoso ele também percebe e tudo isso ajuda", conta Cabral, reconhecendo ser "difícil encontrar em outros parceiros" aquilo que tem com Nuno Borges.
Apesar do bom entendimento e da amizade sólida, assim como do "esforço para jogar juntos", uma vez que Borges está a investir igualmente numa carreira de singulares, Francisco Cabral garante não estar totalmente dependente do amigo.
"Este ano não temos jogado todas as semanas juntos, porque no início do ano os torneios são mais duros, há também a pré-época e ele está mais cansado. Procurei outros parceiros, porque quero realmente apostar nos pares e não vou estar 100% dependente do Nuno, mas ele acaba por ser a minha prioridade, ele sabe. Mas quando ele não puder, ou não quiser jogar, também tem abertura para me dizer", avança o tenista que, atualmente, treina na companhia de Pedro Sousa e Gonçalo Falcão, no CIF, e algumas vezes no CAR.
Francisco Cabral, ao contrário de Borges, 'abdicou' do sonho de uma carreira profissional em singulares, algo que lhe "custou muito", porque sente não ter "explorado até ao limite" essa possibilidade, mas não se arrepende das suas escolhas e até de ter deixado para trás o plano B, apesar de ter conseguido, como era desejo dos pais, "terminar os estudos com uma boa média" (17) para ter uma segunda opção.
"Na fase em que estou, não tenho plano B e estou muito confortável com isso, os meus pais também e apoiam-me a 100%. Há um ano e meio meti na cabeça que, se penso muito no plano B, não estou 100% focado no plano A, portanto optei por este plano e vou-me focar nele a 200%", sublinha com a determinação no olhar que o caracteriza, descrevendo-se como um jogador de pares "inteligente, com boa antecipação e bom instinto".
Além da "boa atitude, muito positiva e sempre a puxar para cima" a dupla, Cabral confia que, "a longo prazo, o querer, ganha jogos", como espera que venha a acontecer no Open de Praga, onde ambiciona ganhar mais um título para, "se calhar, não pensar mais em 'challengers' e jogar só torneios ATP".